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ESTUDO SOBRE O SHELF-LIFE DO
HIPOCLORITO DE SÓDIO A 5,0%
Jesus Djalma Pécora
Professor Titular da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
- USP |
Danilo M. Zanello Guerisoli
C.D., Estagiário do Laboratório de Endodontia da Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto - USP e Bolsista CNPq |
Reginaldo Santana da Silva
Técnico em Química do Laboratório de Endodontia da
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP |
Luiz Pascoal Vansan
Professor Associado da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
- USP |
Foi estudado durante 18 meses a perda de teor de cloro ativo da solução
de hipoclorito de sódio a 5,0% estocada em vidro âmbar dotado
de batoque e tampa e armazenada em diferentes condições;
à temperatura ambiente, em geladeira e exposta à luz solar.
Os teores de cloro ativo foram determinados quantitativamente através
da técnica de titulometria, método da iodometria. Verificou-se
que existe uma perda do teor de cloro ativo na solução de
hipoclorito de sódio a 5,0% independente do ambiente de armazenagem.
INTRODUÇÃO
O uso do hipoclorito de sódio como anti-séptico teve início
no final do século XVIII com a água de JAVELLE (1792), que
consistia de uma solução de hipocloritos de sódio
e potássio, segundo PUCCI (1945). Este autor relata que o licor
de Labaraque, uma solução de hipoclorito de sódio
a 2,5%, surgiu em 1820.
O hipoclorito de sódio a 0,5% com adição de ácido
bórico para reduzir seu pH foi proposto por DAKIN (1915), a fim
de desinfetar feridas durante a I Grande Guerra.
A divulgação da solução de hipoclorito
de sódio a 5,0% na Odontologia foi realizada por WALKER (1936),
reforçada por GROSSMAN & MAIMAN (1941).
Os efeitos do hipoclorito de sódio na dissolução
do tecido pulpar, na permeabilidade dentinária, na limpeza do canal
radicular e sua ação bactericida foram estudados por vários
autores, entre eles SHIH et al. (1970), PÉCORA (1985), WAYMAN et
al. (1989), BAUMGARTNER et al. (1992), JOHNSON et al. (1993), BARBOSA et
al. (1994) e PÉCORA et al. (1997).
Sendo o hipoclorito de sódio a 5,0% amplamente utilizado na
irrigação dos canais radiculares por cirurgiões-dentistas
de todo o mundo, decidiu-se avaliar o shelf-life deste produto, por um
período de 18 meses, quando armazenado em diferentes condições
ambientais.
MATERIAL E MÉTODO
A solução de hipoclorito de sódio a 5,0% utilizada
neste trabalho foi aviada no laboratório de Endodontia da FORP-USP,
sendo seu teor de cloro ativo determinado através da técnica
de titulometria, método de iodometria.
A solução de hipoclorito de sódio a 5,0% foi obtida
através do processo de diluição de uma solução
mais concentrada, sendo posteriormente dividida em três grupos de
1000 ml, armazenados em vidro âmbar dotado de batoque e tampa.
As diferentes condições ambientais testadas neste trabalho
foram determinadas através de hábitos e situações
encontradas nos consultórios odontológicos.
Os frascos foram mantidos nas seguintes condições ambientais
durante 18 meses, conforme utilizado por PÉCORA et al (1987): a)
temperatura ambiente; b) parte inferior da geladeira (9 ºC); c) exposto
à luz solar direta, durante o período da manhã.
As análises titulométricas quantitativas eram feitas
em períodos de 30 dias, sendo realizadas três repetições
para cada amostra. O teor de cloro existente em cada amostra era obtido
após uma média aritmética das três avaliações.
RESULTADOS
A tabela 1 indica as médias no teor de cloro ativo encontrado nas
soluções de hipoclorito de sódio a 5,0% armazenadas
em diferentes condições ambientais e os respectivos percentuais
de perda de cloro.
|
Condições de armazenagem
|
Tempo em dias
|
Geladeira
|
Ambiente
|
Luz solar direta
|
Teor |
% perda
|
Teor
|
% perda
|
Teor
|
% perda
|
0
|
5,00
|
0,0
|
5,00
|
0,0
|
5,00
|
0,0
|
30
|
4,94
|
1,2
|
4,96
|
0,8
|
4,83
|
3,4
|
60
|
4,90
|
2,0
|
4,77
|
4,6
|
4,72
|
5,6
|
90
|
4,78
|
4,4
|
4,43
|
11,4
|
4,62
|
7,6
|
120
|
4,59
|
8,2
|
4,32
|
13,6
|
4,45
|
11,0
|
150
|
4,22
|
15,6
|
4,26
|
14,8
|
4,19
|
16,2
|
180
|
3,93
|
21,4
|
4,07
|
18,6
|
3,83
|
23,4
|
210
|
3,71
|
25,8
|
3,67
|
26,6
|
3,52
|
29,6
|
240
|
3,63
|
27,4
|
3,51
|
29,8
|
3,30
|
34,0
|
270
|
3,38
|
32,4
|
3,23
|
35,4
|
2,97
|
40,6
|
300
|
3,19
|
36,2
|
3,16
|
36,8
|
2,62
|
47,6
|
330
|
2,86
|
42,8
|
2,70
|
46,0
|
2,38
|
52,4
|
360
|
2,64
|
47,2
|
2,36
|
52,8
|
1,92
|
61,6
|
390
|
2,55
|
49,0
|
2,19
|
56,2
|
1,77
|
64,6
|
420
|
2,26
|
54,8
|
1,84
|
63,2
|
1,53
|
69,4
|
450
|
1,93
|
61,4
|
1,58
|
68,4
|
1,46
|
70,8
|
480
|
1,66
|
66,8
|
1,32
|
73,6
|
1,29
|
74,2
|
510
|
1,40
|
72,0
|
1,14
|
77,2
|
1,01
|
79,8
|
O teste de Kruskal-Wallis revela que não há diferença
estatística entre os resultados (p>0,05). A análise de regressão
linear mostra correlação a nível de 1%, indicando
uma relação inversamente proporcional entre o tempo de armazenagem
e o teor de cloro ativo das soluções.
A figura 1 mostra a curva de degradação para as soluções
de hipoclorito de sódio a 5,0% em função do tempo.
DISCUSSÃO
Um dos fatores essenciais no sucesso de um tratamento endodôntico
é a correta limpeza e desinfecção do sistema de canais
radiculares. O seu preparo químico-mecânico depende não
só da habilidade do cirurgião-dentista, mas também
da qualidade dos produtos utilizados.
As soluções de hipoclorito de sódio são
de natureza instável, devido ao alto índice de perda de cloro
ativo. Sabendo disso, o profissional deve dar preferência a soluções
recém-preparadas e armazenadas em frasco âmbar dotado de batoque
e tampa, pois assim não estará correndo o risco de utilizar
uma solução auxiliar da instrumentação com
teor de cloro abaixo do nominal.
A análise estatística revelou que a temperatura não
influi na degradação das soluções de hipoclorito
de sódio, quando armazenadas em vidro âmbar dotado de batoque
e tampa; a perda de cloro ativo em função do tempo foi estatisticamente
semelhante nas diferentes soluções.
Os resultados encontrados nesta pesquisa permitem afirmar que o tempo
de armazenagem exerce grande efeito na degradação das soluções
de hipoclorito de sódio.
Como pode ser observado, após aproximadamente 300 dias uma solução
de hipoclorito de sódio a 5,0% tem sua concentração
de cloro ativo reduzida à metade, não importando o ambiente
de armazenagem. PISKIN & TÜRKÜN (1995), em um experimento
semelhante, relatam a mesma porcentagem de perda no teor de cloro ativo
das soluções de hipoclorito de sódio a 5,0% armazenadas
a 24 ºC, porém afirmam que a perda de cloro ativo é
menor quando as soluções são estocadas a baixas temperaturas.
O cirurgião-dentista não precisa necessariamente descartar
esta solução; pode utilizá-la em procedimentos onde
não há necessidade de altas concentrações de
cloro ativo.
Porém, se o profissional deseja utilizar uma solução
de hipoclorito de sódio a 5,0% deve fazê-lo nos 30 primeiros
dias da data de fabricação do produto (tabela 1). Como muitos
odontólogos preferem utilizar uma solução com concentrações
de cloro ativo entre 4 e 5,0%, este produto pode ser utilizado por um período
de até 150 dias da data de fabricação.
Decorridos 510 dias, observou-se que a solução inicial
de hipoclorito de sódio apresentava-se com apenas 1,0% de cloro
ativo; esta concentração também é muito utilizada
na endodontia.
De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, podemos concluir
que quando a solução de hipoclorito de sódio a 5,0%
é embalada em vidro âmbar dotado de batoque e tampa, a perda
no teor de cloro ativo é diretamente proporcional ao tempo de armazenagem,
independente das condições de temperatura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BARBOSA, S.V. et al - Influence of sodium hypochlorite on the permeability
and structure of cervical human dentine. Int. Endod. J. 1994, Nov, 27:06,
309-12.
2. BAUMGARTNER, J.C. CUENIN, P.R. - Efficacy of several concentrations
of sodium hypochlorite for root canal irrigation. J. Endod 1992, Dez, 18:12,
605-12.
3. DAKIN, H. D. - In the use of certain antiseptic substance in the
treatment of infected wound. Brit. Med. J.; (2):318-20, Aug. 1915.
4. GROSSMAN, L.I. & MEIMAN, B.W. - Solution of pulp tissue by chemical
agents. J. Amer. Dent. Ass., 28(2):223-5, Feb. 1941.
5. JOHNSON, B.R; REMEIKIS, N.A. - Effective shelf-life of prepared sodium
hypochlorite solution. J. Endod 1993, Jan, 19:1, 40-3.
6. PÉCORA, J.D. Contribuição ao estudo da permeabilidade
dentinária radicular. Apresentação de um método
histoquímico e análise morfométrica. Ribeirão
Preto, 1985. p. 110.(tese mestrado Faculdade de Odontologia USP)
7. PÉCORA, J.D. et al. Ação da solução
de EDTA e da solução de Dakin utilizadas isoladamente, misturadas
ou alternadas na limpeza do canal radicular. Rev. Odontol. Univ. São
Paulo. v. 11, n.1, p. 67-70, jan./mar. 1997.
8. PISKIN & TÜRKÜN Stability of various sodium hypochlorite
solutions. J. of Endod. v.21, n.5, p. 253-5, May 1995.
9. PUCCI, FM. Conductos radiculares. Bueno Aires, Ed. Med. Quirurgica.
1945. n.2, p. 344-69.
10. SHIH, M.; MARSHALL, J.F., ROSEN,S The bactericidal efficiency of
sodium hypochlorite as an endodontc irrigant. Oral Surg., 29(4):613-9,
Apr. 1970.
11. STEWART, G.G.; COBE,H.M.; RAPPAPORT, H. A study of a new medicament
in the chemomechanical preparation in infected root canal. J. Amer. Dent.
Ass., 63(2):33-7, July 1961.
12. STEWART, G.G.; KAPSIMALAS, P.; RAPPAPORT, H. EDTA and urea peroxide
for root canal preparation. J. Amer. Dent. Ass., 78(2):335-8, Feb. 1969.
13. WALKER, A. A definitive and dependable theraphy for pulpless teeth.
J. Amer. Dent. Ass
23(2):1418-25, Aug. 1936.
14. WAYMAN, B.E.; KOPP,W.W.; PINERO, G.J.; LAZZARI,E.P. Citric and latic
acids as root canal irrigants in vitro. J. Endodont., 5(9):258-65, Sept.
1979.
Esta pesquisa foi publicada na seguinte revista:
Shelf-life of 5,0% sodium hypochlorite solutions. PÉCORA, J.D.;
GUERISOLI, D.M.Z.; SILVA, R.S.; VANSAN, L.P.: Braz Endodon
J. 2(1): 43-5, 1997.