ESTUDO "IN VITRO" SOBRE O AMOLECIMENTO DE CONES DE GUTA-PERCHA NO RE-TRATAMENTO ENDODÔNTICO.

"IN VITRO" STUDY OF THE SOFTENING OF GUTTA-PERCHA CONES IN ENDODONTIC RETREATMENT.

Jesus Djalma PÉCORA, Julio Cesar Emboava SPANÓ, Eduardo Luiz BARBIN

Departamento de Odontologia Restauradora, Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil

Summary

Softening time of gutta-percha cones was studied "in vitro" using five chemical solvents: xilol, chloroform, turpentine, eucaliptus, end orange oil. An apparatus which reproduces the penetration force of an endodontic file was used on the sectioned roots of previously filled teeth. The most rapid chemical solvent of gutta-percha cones was chloroform and the slowest was eucaliptus.

Unitermos: chemical solvent, gutta-percha.

Resumo

Estudou-se "in vitro" o tempo de amolecimento de cones de guta-percha através da ação de cinco solventes químicos: xilol, clorofórmio, turpentina, eucaliptol e óleo de laranja. Para isso utilizou-se um aparelho que reproduz a força de penetração de uma lima endodôntica. Os corpos de prova constituem-se de raízes seccionadas de dentes previamente obturados. O solvente químico mais rápido como amolecedor de guta-percha foi o clorofórmio, e o mais lento foi o eucaliptol.

Unitermos: Solvente químico, guta-percha.

Introdução - Material & Método - Resultado - Discussão - Conclusões - Referências

INTRODUÇÃO

Mesmo com as mais novas técnicas, a Endodontia não esta isenta dos insucessos, e muitas vezes se faz necessário lançar mão de recursos como o re-tratamento de canais radiculares.

Para tanto torna-se necessário a retirada da antiga obturação, uma etapa fundamental, muitas vezes dificultosa e nem sempre fácil.

Atualmente os canais radiculares são obturados com cimento endodôntico e cones de guta-percha. Os cones de guta-percha, tem em sua composição, uma predominância de resina vegetal, que lhe empresta o nome e, são amolecidos por solventes químicos.

BOWMAN (1833) propôs o uso da guta-percha em Odontologia e, desde então, o clorofórmio foi preconizado como um excelente solvente deste novo material.

CALLAHAN (1894) preconizou uma técnica de obturação de canais radiculares que utilizava a guta-percha dissolvida em clorofórmio, conhecida como Cloropercha.

BUCLEY (1910) recomendava o uso de clorofórmio e do eucaliptol como soluções solventes de guta-percha.

SOMMER e OSTRANDER (1956) e GROSSMAN (1978) preconizaram o uso do xilol como solvente de guta-percha.

FIGUEIRAS et al (1962) enfatizaram o uso de uma associação de dois solventes químicos para agirem sobre a guta-percha, ou seja clorofórmio e eucaliptol.

DELLA NINA et al (1980) realizaram uma investigação com o intuito de esclarecer quais dos solventes utilizados em Endodontia atuavam melhor sobre a guta-percha e concluiram que o xilol era o mais efetivo.

KAPLOWITZ (1991) comparou o efeito de dezoito óleos essenciais em relação à guta-percha. Ele observou que somente o clorofórmio e o óleo retificado de turpentina dissolvia completamente a guta-percha e, aventou a hipótese desse óleo ser usado para desobturar canais radiculares, por ser biocompatível e não carcinogênico.

PÉCORA et al (1992) apresentaram um óleo obtido do epicárpio de laranja doce como agente desintegrador do cimento óxido de zinco-eugenol. Esse óleo é obtido por meio da maceração do epicárpio em hexano e destilado a baixa pressão em banho-maria.

BIAGINI e PÉCORA (1992) estudando solventes de guta-percha, verificaram que as misturas eucaliptol+xilol e eucaliptol+clorofórmio, na proporção 1:1, eram muito eficazes na solvência dos cones de guta-percha.

A revisão da literatura evidencia um número pequeno de trabalhos realizados com o objetivo de investigar qual solvente químico apresenta melhor efeito de amolecimento da guta-percha. Desta maneira a escolha do solvente fica a critério do gosto de cada profissional, sem embasamento científico.

O objetivo do presente trabalho consiste em investigar quais dos solventes químicos promove, em menor tempo, o amolecimento da guta-percha, presente em canais radiculares previamente obturados.

MATERIAL E MÉTODO

Para realização deste trabalho desenvolveu-se um aparelho denominado PENETROMETRO-PVBS, o qual consiste de uma lima endodôntica número 30 conectada a um relógio de comparação cuja precisão é micrométrica possuindo ainda, um mecanismo de movimentação vertical do sistema relógio-lima, e uma morça na sua base para a fixação e movimentação dos corpos de prova em dois sentidos ortogonais.

A força de penetração da lima é gerada pela própria mola do relógio de comparação, sendo padronizada em 70g, já que se mantém constante a dimensão de deformação da mola.(figura 1).

Figura 1. mostra o aparelho de penetração utilizado, a) relógio micrométrico com divisão de 10 micrométros, b) lima tipo K # 30, c) haste para regulagem de movimento vertical do relógio, d) local para prender o dente, e) morça com deslocamento em quatro direções, f) micropipeta de 10 microlitros.

Os corpos de prova eram confeccionados à base de raízes de incisivos centrais superiores humanos extraidos, previamente obturados com cones de guta-percha (Maileffer), cimento de Grossman (FORP-USP 1992), seccionadas em seu terço medio através de um disco de carburundum acoplado a um micro motor. Os corpos de prova eram acondicionados a 37° Célsius e 95% de umidade relativa por uma semana.

Através do mecanismo de movimentação dos corpos de prova, a lima era centrado sobre o cone principal. Em seguida, através do mecanismo de movimentação vertical, baixava-se o conjunto relógio-lima para que a mola do relógio de comparação, por meio de um instrumento endodôntico, pudesse exercer uma força sobre o cone principal, sendo padronizada a deformação de tal mola em 200 micro-metros, padronizando assim a força exercida sobre o cone.

Então colocava-se o solvente químico a ser testado sobre a superfície do corpo de prova, por meio de uma micro-pipeta de 10 micro-litros.

Através de um cromômetro, mediu-se o intervalo de tempo decorrido entre a colocação do solvente a ser testado, até que a lima penetrasse 20 micro-metros no cone de guta-percha.

Os solventes químicos testados foram: clorofórmio, xilol, óleo de laranja, turpentina e eucaliptol.

RESULTADOS

Os resultados dos testes de amolecimento da guta-percha pelos solventes químicos estão na Tabela I.

Os resultados do estudo do amolecimento da guta-percha pelos solventes químicos foram submetidos ao teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. O valor de H foi 41,1369. O valor de X para 4 graus de liberdade foi 41,14. A probabilidade de Ho para este valor foi de 0,00%.

Tabela II. Comparação entre as medias dos postos das amostras dos solventes usados para amolecer os cones de guta-percha.

DISCUSSÃO

Sendo o re-tratamento uma prática um tanto comum, devemos considerar que ele ocorre com uma certa frequência, levando profissional e paciente a tomarem contato com substâncias que nem sempre são inócuas à saúde.

Segundo o MERCK INDEX, o clorofórmio pode causar, por inalação, intensa hipotensão, depressão respiratória e cardíaca, podendo levar a óbito, sendo ainda listado como carcinogênico e banido do uso em cosméticos e embalagens alimentares. O xilol, por sua vez, causa irritação à mucosa, por contato e inalação, convulsão, insônia, excitamento e depressão do SNC, podendo levar a óbito por depressão respiratória.

O uso crônico dessas substâncias, provoca depressão da medula óssea, aplasia e raramente leucemia ; prejudicial quando absorvido pelo epitélio, sendo também listada como substância carcinogênica.

O óleo de laranja doce, não apresenta efeitos deletérios à saúde, pouco solúvel em água, solúvel em álcool, usado em farmacologia para aromatizar e dar sabor, tendo ainda ação expectorante. A turpentina é usada farmacologicamente como expectorante, antiséptico, rubefaciente, contra-irritante e anti-flatulento.

Já o eucaliptol, o principal constituinte do óleo de eucalipto, é usado na farmacologia para conferir gosto e cheiro, excita a gustação (gosto refrescante), sendo usado ainda como auxiliador do sabor e do aroma.

Não houve diferença estatistica significante entre o clorofórmio e o xilol e entre o xilol e o óleo de laranja.

Assim pode-se dizer que o uso de óleo de laranja atua sobre a guta-percha do mesmo modo que o xilol mas, sem apresentar os efeitos deletérios deste último.

A Turpentina requer maior tempo para amolecer a guta-percha que o óleo de laranja e menor que o Eucaliptol.Alem disso, possui propriedades anti-microbianas,não carcinogênico e biocompatível.

CONCLUSÃO

Através do método empregado e dos resultados obtidos, conclui-se que:

1- O solvente químico que mais rapidamente amoleceu a guta-percha foi o clorofórmio, seguido do xilol, óleo de laranja, turpentina e eucaliptol.

2- O solvente químico que requerem mais tempo para amolecer a guta-percha foi o eucaliptol.

3- O óleo de laranja apresenta ação sobre o amolecimento da guta-percha do mesmo modo que o xilol.

4- A turpentina atua sobre a guta-percha mais rápido que o eucaliptol.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Biagini, J.G.M. & Pécora J.D.: Análise "in vitro" da ação de vários solventes de guta-percha utilizados em Endodontia. em publicação 1992.

Bowman 1833 apud Grossman, L.I. Tratamento dos canais radiculares. Rio de Janeiro, Atheneu, 1954.

Buckley, J.P. Is it necessary to used secret formula preparations in the practive of Dentistry? D. Cosmos, 52(3):429-35 March. 1910.

Callahan, J.R. Sulfuric acid for openning root-canals. D. Cosmos, 26(12):957-59, Dec. 1894.

Della Nina, S. "et alii". Avaliação das proprieda des dos solventes de guta-percha. Quintessência 7(9):27-32, 1980.

Figueiras, J.;Bevilacqua, S.;Melo, C. Endodontia Clínica. Rio de Janeiro, Científica, 1962.

Grossman, L.I. Endodontics Practice. 7. ed. Philadelphia, Lea & Febiger, 1978.

Kaplowitz, G.J. Evaluation of the ability of essential oils to dissolve gutta-percha. J. Endod., 17(9):448-9, Sept. 1991.

Pécora, J.D. "et alii". Apresentação de um óleo essencial obtido do Citrus Aurantium, eficaz na desintegração do cimento de óxido de zinco-eugenol do interior do canal radicular. Odonto 1(5):130-2, 1992.

Sommer, R.F.; Ostrander, D. Clinical Endodontics, Philadelphia W.B. Saunders. 1956.

OBRIGADO PELA VISITA

Voltar à página de Métodos de Pesquisa

Department Webmaster: Júlio César Spanó & J. D. Pécora
Copyright 1997 Department of Restorative Dentistry
Esta página foi elaborada com apoio do Programa Incentivo à Produção de Material Didático do SIAE - Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação da USP
Update 16 de julho de 1997