Estatística Prática para Docentes
e Pós-Graduandos
de Geraldo Maia Campos
Prefácio
Que minhas primeiras palavras sejam para explicar
por que este livro foi escrito, e por que o escrevi da maneira como ele
se apresenta. Ele não surgiu evidentemente de nenhuma inspiração
momentânea. Pelo contrário, é fruto de anos de meditação
e a amparar-me tenho a experiência de mais de vinte anos dedicados
à orientação e à elaboração da
análise estatística de muitas centenas de trabalhos de pesquisa,
tanto teses como artigos para publicação, e tanto de minha
própria autoria como de outros pesquisadores, muitos destes bastante
experientes em pesquisa, mas comumente pouco versados em Estatística.
Nesses anos todos, eu era freqüentemente fustigado
sempre pela mesma intrigante pergunta: por que teriam as pessoas tanta
dificuldade em entender e em aplicar os métodos estatísticos,
que a mim me pareciam tão lógicos e tão simples? Cheguei
à conclusão de que o problema da Estatística deveria
ser o mesmo da Matemática - que a grande maioria dos pesquisadores
que a mim recorriam (geralmente da área biológica) ia declarando
logo de início detestar cordialmente.
Essa aversão generalizada à Matemática
estendia-se pois à Estatística porque, por algum motivo,
o conceito de Estatística parecia-lhes estar intimamente ligado
ao de Matemática. Isso talvez até seja verdadeiro para quem
se dedica a criar, desenvolver ou aperfeiçoar métodos e testes
estatísticos, ou até mesmo para quem pretende programar esses
testes em computador. Mas não o é para aqueles que são
apenas usuários dos métodos e testes estatísticos,
e não os seus idealizadores ou programadores.
Nesse caso, por que a ojeriza generalizada à
Estatística? E por que a maioria das pessoas não conseguia
entender os seus métodos e a sua lógica, não obstante
todas já tivessem feito um ou outro curso de Estatística
em sua vida, às vezes até mais de um? Por que seria a Estatística
considerada assim tão dificil?
Cheguei à conclusão de que, se a Estatística
não era na verdade tão difícil, então era fatal
concluir que, se os estudantes não conseguiam entendê-la,
era porque deveria estar sendo ensinada de uma forma incorreta. Mas, se
estava sendo mal ensinada, qual seria a melhor maneira e o modo mais correto
de fazê-lo?
Muitas horas de meditação levaram-me
por fim a desenvolver um método de ensino da Estatística,
com base nos procedimentos que vinha adotando ao longo dos muitos anos
em que atendi aos que me procuravam para ajudá-los a resolver problemas
de Estatística relacionados com a interpretação dos
resultados de seus experimentos. Tratava-se de pessoas provindas das mais
diversas áreas do conhecimento humano, de modo que me via forçado
a fazer muitas perguntas, para tentar entender o que cada uma pretendia
com sua pesquisa.
Assim, acabei descobrindo algo muitíssimo
importante: para poder ajudar alguém de uma forma eficaz, é
forçoso conhecer o seu trabalho tanto quanto ele próprio,
ou provavelmente até mais do que ele.
Desse modo, com base nas perguntas que fazia, e
nas respostas que costumava receber de meus consulentes, acabei aprendendo
onde residiam as dúvidas da maioria das pessoas não afeitas
aos métodos estatísticos, e o que deveria ensinar-lhes, para
que futuramente fossem capazes de resolver elas próprias os seus
problemas.
Esse método é muito simples: consiste
apenas em ensinar alguns poucos conceitos fundamentais e, a partir destes,
traçar um roteiro lógico que habilite as pessoas não
propriamente a deduzir fórmulas ou a realizar cálculos matemáticos,
mas sim a reconhecer o modelo matemático em que se enquadram os
seus experimentos e, com base nessas premissas, a decidirem elas mesmas
sobre qual o teste estatístico mais adequado ao tratamento estatístico
dos seus dados experimentais, a fim de poderem interpretar corretamente
os seus resultados, evidenciar o seu verdadeiro valor e a sua real importância
e, finalmente, tirar deles conclusões substanciais, pertinentes
e relevantes.
Esse é pois o objetivo deste livro.
Prof. Dr. Geraldo Maia Campos
Ribeirão Preto, 09 de dezembro de 1997
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