Carlos Estrela & Jesus Djalma Pécora

CARACTERÍSTICAS ANTIMICROBIANAS DA PASTA DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

A propriedade antimicrobiana do hidróxido de cálcio foi investigada por inúmeras pesquisas com diferentes metodologias. MATSUMIYA & KITAMURA (1960) em estudo histopatológico e histobacteriológico em dentes de cães, verificaram que o hidróxido de cálcio, como medicação intracanal, acelera a reparação natural de lesões periapicais, em função do desaparecimento progressivo de bactérias nos canais radiculares, a despeito da infecção existente no momento de sua aplicação.

FRANK (1966) apresentou resultados sobre a indução da rizogênese de dentes permanentes desvitalizados, empregando uma associação de hidróxido de cálcio e paramonoclorofenol canforado.

HEITHERSAY (1970) sugere o emprego de pasta de hidróxido de cálcio associada à metil celulose (Pulpdent) nos casos de rizogênese incompleta na presença de necrose pulpar, reabsorções apicais, tratamento de grandes lesões periapicais, controle de exsudato periapical e tratamento endodôntico nas situações de necrose pulpar, por tratar-se de material altamente alcalino com pH de 12,5 .

CVEC (1972) atinge um índice de 96% de sucesso nos casos de apicificação com hidróxido de cálcio a longo prazo, salientando que seu pH alcalino e sua presença física dentro do canal radicular representam um potente efeito antibacteriano, inibindo atividade osteoclástica, prevenindo  a entrada de tecido de granulação e exsudato, e propiciando a formação de tecido duro junto ao ápice radicular.

BINNIE & ROWE (1973) induziram infecção experimental em canais radiculares de dentes de cães, e após o preparo e obturação dos mesmos com pasta de Grossman, Calxyl ou pasta de hidóxido de cálcio associada água destilada, e observaram que este último material proporcionou resultados mais significativos. Houve ausência de inflamação moderada ou severa nos tecidos periapicais que estavam em contato direto com o hidróxido de cálcio, concluindo ser um material biológico para obturação de canais radiculares.

HEITHERSAY (1975), analisando o emprego do hidróxido de cálcio em dentes humanos com necrose pulpar, associados a patologia periapical, concluiu que seu emprego nas diversas situações clínicas simplifica o tratamento e colabora com o processo de reparação tecidual.

CVEC et al. (1976) avaliaram clínica, microbiológica e radiograficamente o efeito do tratamento endodôntico de 141 incisivos permanentes com rizogênese completa e incompleta, sem vitalidade pulpar, com ou sem alterações detectáveis  radiograficamente. Todos os canais radiculares foram preenchidos com hidróxido de cálcio na mesma sessão, divididos em três grupos em função do emprego de diferentes substâncias químicas auxiliares da instrumentação: solução fisiológica (52 dentes), hipoclorito de sódio a 0.5% (53 dentes) e hipoclorito de sódio a 5% (36 dentes). Os resultados mostraram que as amostras bacteriológicas tomadas dos canais radiculares após o período de 3 meses, em 90% dos casos não houve crescimento bacteriano, independente do estado bacteriológico destes antes da obturação. Analisando os tipos de bactérias presentes nas amostras tomadas após o preparo do canal radicular e aquelas encontradas após 3 e 6 meses, concluiram haver razões para suspeitar que várias espécies eram produtos de contaminações, jungando desnecessário acrescentar qualquer outra substância ao hidróxido de cálcio com o objetivo de conferir-lhe propriedade antibacteriana mais acentuada.

FERREIRA et al. (1978) avaliaram in vitro e in vivo, o poder bacteriostático e bactericida da solução de hidróxido de cálcio, em concentrações de 5%, 10% e 20%, sobre culturas de Streptococcus , utilizado como curativo de demora nos canais radiculares. Os resultados mostraram que a solução de hidróxido de cálcio a 20%, proporcionou após 30 minutos resultados negativos em todos os testes colhidos, enquanto que em concentrações de 10%, os primeiros resultados negativos foram observados após 30 minutos e em 5% até o período de 30 minutos os testes bacteriológicos mostraram positivos. Estes resultados permitiram os autores deduzirem que a concentração de hidróxido de cálcio é inversamente proporcional ao tempo de contato com os microrganismos.

MARTINS et al. (1979) estudaram a ação antibacteriana da pasta aquosa de hidróxido de calcio, paramonoclorofenol aquoso a 1,0% e mistura de ambos. Realizaram-se colheitas microbiológicas com cones de papel absorvente, posterior a abertura coronária, preparo biomecânico e curativos de demora por 48 e 72 horas. Os canais radiculares do grupo1 foram preenchidos com pasta aquosa de hidróxido de cálcio; no grupo 2, com a mistura de paramonoclorofenol aquoso a 1,0% associado ao hidróxido de cálcio, e no grupo 3, o paramonoclorofenol a 1,0% foi colocado em cones de papel absorvente e introduzido nos canais radiculares. Os resultados demonstraram , sem significância estatística, melhores respostas com a mistura pastosa de hidróxido de cálcio e paramonoclorofenol aquoso a 1,0%, seguidos da pasta de hidróxido de cálcio e por último do paramonoclorofenol aquoso a 1,0%.

ANTHONY et al. (1982) avaliaram o pH da pasta de hidróxido de cálcio produzido pela associação com três veículos (cresatina, paramonoclorofenol canforado e solução fisiológica). Quantidades iguais de hidróxido de cálcio foram misturados com os três veículos e colocados em recipientes separados contendo 20 ml de solução fisiológica com pH determinado. Volumes iguais de paramonoclorofenol caforado, cresatina e solução fisiológica foram colocados em recipientes separados contendo 20 ml de solução fisiológica. Um recipiente de 20 ml de solução fisiológica foi colocado pó do hidróxido de cálcio em quantidade suficiente para saturar a solução. Determinou-se o pH do hidróxido de cálcio sem a influência dos veículos. O pH de todas as soluções foi registrado em intervalos de 6, 24, 48, 72 horas, 1 e 2 semanas. Os resultados mostraram que o pH das misturas com paramonoclorofenol canforado e solução fisiológica foram similares, mas que com cresatina foi muito menor, caindo em função do tempo, sendo que nenhuma das pastas produziu pH maior que 9,6 . Os autores concluíram que a melhor escolha seria a mistura do hidróxido de cálcio com solução fisiológica como pasta obturadora temporária.

HOLLAND et al. (1983), analisando a influência da reabsorção óssea relacionado com o sucesso do tratamento endodôntico, postularam que o efeito do hidróxido de cálcio como medicação intracanal em dentes portadores de lesões periapicais, pode encorajar a reparação tecidual e favorecer a obturação convencional do canal radicular.

DI FIORE et al. (1983) testaram o efeito antibacteriano de pastas de hidróxido de cálcio com quatro diferentes veículos: paramonoclorofenol canforado, acetato de metacresila, metil celulose e água. Culturas de Streptococcus sanguis foram reconstituídas em laboratório e colocadas em placas de ágar sangue. Cinco cilindros com 10 mm de comprimento por 8 mm de diâmetro foram colocados nas placas e receberam as pastas com os diferentes veículos, e selados com Cavit, sendo que o cilindro controle recebeu apenas esse último material. As placas foram incubadas anaerobicamente e os halos de inibição medidos nos intervalos de 2, 4, 6 e 8 dias. Os resultados mostraram que as pastas de hidróxido de cálcio com água destilada e Pulpdent não evidenciaram halos de inibição. Tal fato apenas foi observado nas pastas com paramonoclorofenol canforado e acetato de metacresila, os quais diminuíram com o tempo. Os autores esclarecem que o tamanho do halo de inibição de crescimento bacteriano não reflete seu poder antibacteriano, uma vez que este tamanho pode sofrer influência do tamanho da molécula da substância e de sua constante de difusão, podendo se difundir adequadamente no meio de cultura utilizado.

STEVENS & GROSSMAN (1983) analisaram a efetividade antimicrobiana de solução de hidróxido de cálcio, obtida da adição de pó a 30 ml de água estéril, centrifugada, onde utilizaram o sobrenadante, com pH de 12,2 . Doze dentes caninos de três gatos adultos foram utilizados. Após a remoção do tecido pulpar, seus canais foram inoculados com Streptococcus faecalis, instrumentados e tratados com hidróxido de cálcio (4 dentes), clorofenol canforado (3 dentes), Pulpdent (2 dentes), servindo-se de controle 3 dentes que não receberam medicação. Amostras bacterianas foram tomadas em 5 sessões de tratamento, realizadas no período de 3 semanas. Duas coletas foram realizadas de cada canal a cada consulta, sendo a primeira removendo a ponta de papel absorvente estéril que era deixada dentro do canal junto com o medicamento, e transferindo-a para o meio apropriado, e, a segunda, após irrigação com solução fisiológica e remoção do medicamento com auxílio de instrumento e quando necessário, introduzindo pontas de papel absorvente estéreis no canal úmido. Os resultados microbiológicos mostraram que a solução de hidróxido de cálcio foi inefetiva na eliminação do Streptococcus faecalis. Ao testarem estes medicamentos em placas de ágar sangue inoculadas com o mesmo microrganismo, verificaram que a solução de hidróxido de cálcio e o Pulpdent produziram pequeno, mas mensurável halo de inibição e que o clorofenol canforado foi o mais efetivo.

OLETO & MELO (1984)  em estudo clínico e microbiológico em dentes humanos com necrose pulpar, avaliaram o uso do hipoclorito de sódio e do hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol em solução aquosa a 2%. Selecionaram-se 41 dentes unirradiculares, sendo que 27 destes com lesão periapical. Os resultados mostraram-se muito significativos, para a eliminação dos microrganismos frente ao emprego do hipoclorito de sódio a 2,6%  com a pasta de hidróxido de cálcio acrescido de paramonoclorofenol em solução aquosa a 2%.

BYSTRÖM et al. (1985) avaliaram através de métodos bacteriólogicos o efeito do paramonoclorofenol canforado, fenol canforado e do hidróxido de cálcio no tratamento de canais infectados. Sessenta e cinco dentes humanos unirradiculares portadores de necrose pulpar e evidência radiográfica de lesão periapical foram selecionados. Em 20 canais radiculares, a substância química empregada durante  preparo do canal foi o hipoclorito de sódio a 0,5% e em 15 canais, solução de hipoclorito de sódio a 5%. Os canais foram secos com cones de papel absorvente e preenchidos com pasta de hidróxido de cálcio (Calasepet). Os demais 30 dentes foram irrigados com solução de hipoclorito de sódio a 0,5% e  desses, 15 dentes receberam medicação intracanal de paramonoclorofenol canforado e outros 15 de fenol canforado e a cavidade de acesso selada. Amostras bacterianas foram tomadas após o preparo do canal radicular através de cones de papel absorvente e transferidos para um tubo contendo o meio PYG ( peptone yeast glucose ). Decorrido 1 mês , para os canais com hidróxido de cálcio e 2 semanas mais tarde para aqueles contendo os dois outros medicamentos, os canais radiculares foram irrigados com solução salina e realizada a coleta das amostras. Após secagem as cavidades de acesso foram seladas com cimento de óxido de zinco com espessura superior a 3mm. Em 5 dentes medicados com o hidróxido de cálcio, os canais foram tratados com solução de EDTA por 10 minutos antes do selamento. Dois a quatro dias depois, nova coleta foi realizada nos moldes descritos anteriormente. Todas as amostras foram cultivadas sob condições de anaerobiose e o número de bactérias determinado. Os resultados mostraram que nos casos em que o hidróxido de cálcio foi a medicação empregada, bactérias foram encontradas em um dos 35 canais  e que nos dois outros medicamentos bactérias foram  observadas em 10 dos 30 canais tratados. As bactérias isoladas foram predominantemente Gram-positivas e anaeróbias. Não houve indicação da presença de bactérias específicas, resistente ao tratamento. Após a identificação e qualificação dos microrganismos, espécimes foram colocadas em contato com uma solução saturada de hidróxido de cálcio, cujo tempo requerido para matar as bactérias está expresso na tabela 1.  Os autores concluíram que a pasta de hidróxido de cálcio tem acentuado efeito antibacteriano quando comparada com o fenol canforado e o paramonoclorofenol canforado, admitindo que a quantidade de hidróxido de cálcio que pode ser colocada no canal radicular é suficientemente grande para liberar íons hidroxila por um longo período de tempo, explicando sua alta eficiência antibacteriana. Veja uma tabela de resistência bacteriana aqui.

GORDON et al. (1985) analisaram o efeito do hidróxido de cálcio, quanto às variações de pH e concentração de cálcio, em tecido pulpar bovino. Asseguram os autores que o hidróxido de cálcio contribui para o sucesso, estimulando a reparação, graças ao seu alto pH e concentração de íons cálcio. A polpa bovina foi tratada com soluções de diferentes pH e concentrações variáveis de hidróxido de cálcio ou hidróxido de bário saturado, onde se examinou a atividade enzimática e a desnaturação proteíca. As polpas foram homogeneizadas e centrifugadas, e o resíduo sobrenadante foi analisado a partir da atividade da fosfatase alcalina e a desidrogenase lática. Ambas atividades enzimáticas foram ligeiramente diminuídas por soluções de cálcio de menor pH e completamente destruídas por hidróxido de cálcio e hidróxido de bário saturados. A eletroforese em lâmina de gel da proteína das polpas tratadas demonstrou que o hidróxido de cálcio saturado não altera seu padrão quando se compara com o controle, enquanto que o hidróxido de bário saturado modifica consideravelmente. Quando a concentração de hidroxido de bário  reduziu a molaridade do hidróxido de cálcio saturado, os padrões eletroforéticos das proteínas das polpas tratadas foram similares. Os autores acreditam que a eficácia do hidróxido de cálcio pode ser o resultado de sua baixa solubilidade, e portanto, toxicidade, quando se comparam com soluções alcalinas bivalentes, como o hidróxido de bário. Salientam ainda que o mesmo apresenta ação bactericida não específica no interior do canal, e que seu efeito depende exclusivamente de seu pH, e como agente antibacteriano atua sem o suporte dos mecanismos teciduais de defesa.

SAFAVI et al. (1985)  compararam o efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio, com o iodo-iodeto de potássio em 1030 dentes humanos. Após o  preparo do canal radicular com o hipoclorito de sódio a 1% , empregou-se o tiussulfato de sódio a 5% para neutralizar o hipoclorito de sódio, sendo posteriormente, removido através de irrigação com solução fisiológica salina e secos com cones de papel absorvente. Para a coleta microbiológica, os canais radiculares foram preenchidos com solução fisiológica salina esterelizada e suas paredes instrumetadas com lima de diâmetro apropriado, sendo o conteúdo absorvido com cones de papel e transferidos para tubos de cultura com meio de tioglicolato para anaeróbios e enviados para processamento microbiológico. Em 340 dentes a medicação foi uma mecha de algodão umedecida com iodo-iodeto de potássio a 2%; em   517 dentes pasta de hidróxido de cálcio tendo como veículo o soro fisiológico foi empregado e 173 dentes ficaram sem nenhum tipo de medicamento (grupo controle). Quando após 7 dias de incubação no processamento microbiológico as culturas apresentavam resultado positivo, esses dentes eram reinstrumentados, nova coleta era realizada e a mesma medicação utilizada, sucessivamente até que resultados negativos fossem obtidos. Os resutados obtidos demonstraram menor número de culturas positivas quando o hidróxido de cálcio foi utilizado, atingindo 77,4% de culturas negativas, 66,1% para o iodo iodeto de potássio e 63,6% para o grupo sem medicação. Essa diferença de frequência foi estatisticamente significativa.

LOPES et al. (1986) relataram que os veículos mais aceitos e indicados para o hidróxido de cálcio são os não oleosos, decorrente da necessidade da liberação dos íons hidroxila e cálcio, imprescindíveis ao seu mecanismo de ação. Os autores propuseram uma pasta composta de hidróxido de cálcio pró-análise, carbonato de bismuto e colofônia, sendo o azeite de oliva empregado como veículo. Foi observado sucesso clínico e radiográfico em situações de extensas lesões periapicais, reimplantes, perfurações radiculares, dentes com rizogênese incompleta, fraturas radiculares e reabsorção radicular. Os autores puderam concluir que o azeite de oliva conferia à pasta uma dissociação lenta de íons hidroxila e de íons cálcio, favorecendo o mecanismo de reparo e diminuindo o número de trocas da pasta de hidróxido de cálcio.

QUACKENBUSH (1986)  verificou a ação do monoclorofenol, iodo-iodeto de potássio e do hidróxido de cálcio contra bactérias anaeróbias, in vitro. Os resultados obtidos afirmam que o hidróxido de cálcio foi mais efetivo contra bactérias anaeróbias estritas (Peptostreptococcus sp) e anaeróbias facultativas (Streptococcus sanguis), enquanto os outros dois medicamentos não foram efetivos contra as bactérias anaeróbias.

ALLARD et al. (1987) estudaram a reparação de lesões periapicais em dentes de cães, tratados com pasta de hidróxido de cálcio acrescida de contraste radiográfico. O objetivo foi avaliar a possível interferência deste, no processo reparacional de lesões periapicais. Raízes de pré-molares de cães com 1 ano de idade foram utilizadas, nos quais lesões periapicais experimentais foram induzidas, após pulpotomia pela inoculção de cultura de Streptococcus faecalis. Seis meses após a inoculção, amostras bacteriológicas foram tomadas dos canais radiculares, que a seguir foram preparados, irrigados e tiveram nova coleta realizada ao término dessa etapa.Vinte e dois canais radiculares foram obturados com guta-percha umedecida com resina cloroformada, 12 canais preenchidos com pasta de hidróxido de cálcio ( Calasept ) e 12 preenchidos com partes iguais de Calasept e contraste radiográfico ( Dionosil ). Exames radiográficos mensais foram realizados durante 4 meses, quando os animais foram sacrificados, as peças removidas e submetidas a processamento histológico. Os resultados mostraram que todas as lesões periapicais repararam total ou parcialmente, e que nenhuma diferença foi observada no padrão de reparo das lesões periapicais entre os canais obturados com guta-percha e aqueles preenchidos de hidróxido de cálcio, provavelmente, pela discutível atividade antimicrobiana da guta-percha, causada pela liberação de íons zinco e pelo também discutível efeito antimicrobiano da resina cloroformada. Mesmo que algumas amostras tomadas imediatamente antes da obturação mostrassem resultado positivo, redução significativa no número de micoorganismos presentes havia ocorrido.

BYSTRON et al. ( 1987 ) avaliaram a eficácia do tratamento endodôntico de dentes despolpados analisando e reparo de lesões periapicais com monitoração de todos os passos por avançada técnica anaeróbia. Das 79 lesões, cujos diâmetros variaram entre 1 e 2 mm, 67 repararam completamente. Na maioria dos casos o tamanho das lesões diminuíram em 2mm dentro de 2 anos, independente do tamanho inicial, mas em 7 casos não houve o reparo completo nesse período. Apenas 5 lesões mostraram pequena ou nenhuma diminuição no tamanho e foram submetidas a intervenção cirúrgica. As lesões remanescentes não reparadas, argumentam os autores, eram decorrentes do estabelecimento de infecção extra-radicular.

BARBOSA & ALMEIDA (1987) testaram in vitro a ação antimicrobiana da solução aquosa de hidróxido de calcio pura e em associação com detergente, em concentrações variadas na presença de microrganismos encontrados nos canais radiculares infectados, como: S. faecalis, S. aureus, S. sanguis, B. subtilis, S. mutans, C. albicans, S. salivarius, Neisseria sp., Lactobacillus sp., Difteróides, S. epidermidis. Frente aos resultados pode-se concluir que a associação da solução de hidróxido de cálcio mais 10% de detergente (HCT 10) mostrou-se eficaz contra os microrganismos analisados, porém, foram necessários 30 minutos para que o S. sanguis, o Difteróides e o S. aureus chegassem ao êxito letal. Na associação a 20% (HCT 20), o único microrganismo que sobreviveu além de 10 minutos foi o Difteróides, enquanto que as bactérias mais resistentes como o S. aureus, não sobreviveram após 5 minutos.

RANTA et al. ( 1988 ) relataram o sucesso obtido na eliminação de Pseudomonas aeruginosa presente em infecção no canal radicular de dente humano, refratário ao tratamento endodôntico, com persistência de exsudato após várias sessões de preparo dos canais radiculares e emprego de diferentes soluções irrigadoras. Realizado o isolamento absoluto, assepsia do campo operatório e acesso, o canal foi irrigado com soro fisiológico e  amostras bacteriológicas obtida através de cones de papel absorvente e inoculada em placa de ágar sangue. A Pseudomonas aeruginosa foi isolada em placas que cresceram em aerobiose e em 5% de CO2 em cultura pura. As placas em anaerobiose não mostraram crescimento. O canal foi preparado até o instrumento 80, irrigado com etanol 70% por alguns minutos, seguido de irrigação com soro fisiológico, secagem e preenchimento com pasta à base de hidróxido de cálcio e a abertura coronária selada com Cavit. Nos períodos compreendidos entre 6, 10 e 30 dias, o canal era irrigado novamente com soro fisiológico, as paredes instrumentadas com lima 80 e nova coleta microbiológica obtida, permanecendo o hidróxido de cálcio como curativo intracanal. Nenhuma das amostras revelou crescimento bacteriano com os sintomas desaparecendo logo após a primeira sessão de curativo intracanal.  Uma vez obturado, radiografias de contrôle foram tomadas 1 e 3 anos após, permanecendo o dente assintomático e nenhuma alteração foi observada.

HASSELGREN et al. (1988) utilizaram 70 peças de tecido muscular de suínos, medindo 2 x 1 x 1 mm, com o intuito de avaliar, in vitro, os efeitos separados e combinados do hidróxido de cálcio e da solução de hipoclorito de sódio a 0,5% na dissolução de tecido necrótico. As peças foram usadas em grupos de 10 cada, de modo que, no grupo 1, as peças eram armazenadas em 20 ml de pasta de hidróxido de cálcio e água; nos grupos 2 e 3, armazenados em solução de hipoclorito de sódio a 0,5%, sendo que, no grupo 2, a mesma solução foi mantida e, no 3, a solução era renovada a cada 30 minutos até a completa dissolução da peça; nos grupos 4, 5 e 6, as peças foram colocadas em 20 ml de pasta com hidróxido de cálcio e água e, após 30 minutos no grupo 4, 24 horas no grupo 5 e 7 dias no grupo 6, eram transferidas para uma solução de hipoclorito de sódio a 0,5%; no grupo 7, foram armazenadas em 20 ml de solução isotônica. Todas as peças foram secas em papel filtro e pesadas após 30, 60 e 90 minutos, 10 e 24 horas. Completando esse tempo, o experimento prosseguiu por mais 12 dias até que todo o tecido fosse dissolvido. Observaram, os autores, que a ação dissolvente de tecido do hidróxido de cálcio é semelhante à do hipoclorito de sódio, porém, menos intensa e que a presença prolongada do hidróxido de cálcio no canal radicular, onde desempenha um efeito terapêutico contínuo, pode amplamente compensar esse fato. Observaram também que o efeito dissolvente do hipoclorito de sódio a 0,5% foi aumentado pelo pré-tratamento com o hidróxido de cálcio.

HAAPASALO (1989) observou a ocorrência, o papel e taxonomia das espécies de Bacteróides em infecções de canais radiculares infectados de dentes humanos, para o efeito sistêmico da penicilina V. Em sessenta e dois dentes unirradiculares com lesão periapical, foram coletados microrganismos antes e após o preenchimento de canal radicular com hidróxido de cálcio. Os resultados mostraram que as infecções eram mistas, exceto uma, com frequência de anaeróbios e em apenas 4 casos anaeróbios facultativas. A presença do Bacteróides gingivalis, Bacteróides endodontalis e Bacteróides buccae estavam mais frequentemente relacionados com os casos agudos do que outras espécies de Bacteróides. Bacteróides pigmentados de preto pareciam aumentar a probabilidade de sintomas, e persistiram por mais de uma semana do início do tratamento. Entretanto, após 4 semanas quando a obturação foi realizada, todos os pacientes estavam livres de qualquer sintoma, o que indicou interferência da composição inicial da flora mista.  A eficácia do hidróxido de cálcio foi comprovada através de amostras bacteriológicas tomadas após 1 semana de sua permanência no canal radicular. A grande maioria dos Bacteróides foi sensível à penicilina, com apenas duas cepas de Bacteróides buccae e Bacteróides dentícola resistentes, porém não houve diferença entre os grupos tratados com penicilina e não, na reparação após 1 ano, fato que sugere ser desnecessário o uso de antibiótico no início do tratamento, mas importante nos casos de persistência de infecção. Após o período de 1 ano, 15 casos mostraram reparação completa, 11 casos reparação parcial e em apenas 1 caso não houve sinais de reparação.

ORSTAVIK & HAAPASALO (1990)  analisaram o efeito antibacteriano de soluções irrigadoras e medicações intracanais, empregando dentina bovina, infectadas com Enterococcus faecalis, Streptococcus sanguis, Escherichia coli ou Pseudomonas aeruginosa. Blocos cilíndricos de dentina bovina foram obtidas de incisivos recém-extraídos, tendo os resíduos orgânicos e inorgânicos removidos por tratamento ultra-sônico com EDTA e hipoclorito de sódio a 5.25%. As peças de dentina foram infectadas por períodos que variaram de 3 a 6 semanas. Os medicamentos endodônticos utilizados na desinfecção de dentina foram: hidróxido de cálcio (Calasept), Paramonoclorofenol canforado, gluconato de clorexedina (Hibitane), iodo-iodeto de potássio, hipoclorito de sódio e EDTA. Após a aplicação dos medicamentos, os espécimes de dentina foram incubados a 37 graus Célsius por 5 minutos durante 7 dias. Os tubos que não apresentaram crescimento bacteriano foram reinoculados e incubados por outros 7 dias. A eficácia dos vários medicamentos teve uma grande variação, de acordo com a espécie bacteriana estudada. Considerando que a capacidade de infectar os túbulos dentinários variou de acordo com os microrganismos, os resultados mostraram que o paramonoclorofenol canforado foi , de modo geral, mais eficiente que o hidróxido de cálcio (Calasept). Dentre as soluções irrigadoras testadas, o iodo-iodeto de potássio mostrou mais eficiente que o hipoclorito de sódio e a clorexedina. O EDTA praticamente não apresentou ação antibacteriana. A presença de “smear layer” diminuiu, mas não eliminou a ação dos medicamentos testados.

FERRAREZI & ITO (1990) analizaram a concentração inibitória mínima da pasta de hidróxido de cálcio, do PMCC e da associação de ambos sobre os microrganismos isolados de canais radiculares: Streptococcus mutans, Candida albicans, C. krusei, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Actinomyces viscosus. A ação antibacteriana contra todos microrganismos foi obtida com o paramonoclorofenol e paramonoclorofenol canforado. Alguns microrganismos aeróbios  demonstraram resistência ao hidróxido de cálcio puro, entretanto associado ao PMCC apresentou efetividade antibacteriana acentuada diante da Prevotela intermédia e Actinomices viscosus com concentração bactericida mínima e a inibitória mínima ficou entre 500 e 1000 mg/ml, enquanto para os aeróbios as concentrações variaram entre 1000 e 4000 mg/ml.

STUART et al. (1990) compararam a efetividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio com o paramonoclorofenol canforado e o formocresol em 90 dentes humanos instrumentados até a lima de número 50  e inoculados com o Streptococcus mutans, Actinomyces viscosus e Bacteróides gingivalis ou Bacteróides fragilis.  Posterior ao uso dos medicamentos, os dentes foram selados e incubados pelo período de 1 hora,  quando então, o conteúdo dos canais foram removidos e avaliados quanto ao número de microrganismos viáveis e comparados com dentes inoculados que não receberam a medicação. Os resultados demonstraram que todos medicamentos exibiram atividade antimicrobiana contra bactérias inoculadas, apresentando percentuais redutores entre 64,3% e 100%.  O Pulpdent e a pasta de hidróxido de cálcio com soro fisiológico demonstraram maior efetividade contra o Streptococcus mutans e os Bacteróides de que o PMCC e o formocresol.

SJOGREN et al. (1991) avaliaram o efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio em 10 minutos e 7 dias. Para tanto valeram-se de 30 dentes humanos unirradiculares com polpas necrosadas e lesão periapical, que após a intsrumentação, irrigação com hipoclorito de sódio a 0,5%, e a secagem, foram preenchidos com pastas de hidróxido de cálcio. Em 12 canais radiculares a medicação foi deixada no canal  por um período de 10 minutos e em 18 canais por 7 dias. Amostras microbiológicas foram tomadas dos canais radiculares de modo a permitir  que pontas de papel absorventes fossem introduzidas até 1 mm aquém do vértice radiográfico. Posterior a aplicação do hidróxido de cálcio nos dois períodos,  e sua remoção, uma terceira amostra foi obtida. Após o processamento microbiológico, a análise dos resultados mostrou que bactérias estavam presentes em todas  as 30 amostras iniciais. Após o preparo, bactérias ocorriam em 6 dos 12 canais que iriam receber a medicação de hidróxido de cálcio por 10 minutos, e em 9 dos 18 canais em que o medicamento permaneceria por 7 dias. Nestes 18 canais nenhuma bactéria foi isolada nas amostras tomadas imediatamente após a remoção do hidróxido de cálcio, nem nas amostras finais, 5 semanas mais tarde, onde permaneceram sem o medicamento. Nos 12 dentes onde a medicação foi colocada por 10 minutos, as bactérias persistiram em 6 canais radiculares, sendo que todas as cepas identificadas estavam presentes nas amostras iniciais, exceto em 1 caso. A aplicação do hidróxido de cálcio por 10 minutos mostrou ser ineficienete, enquanto que por 7 dias, as bactérias não sobreviveram em 2 casos e no terceiro, eliminada após o curativo.

ORSTAVIK et al. (1991) avaliaram o efeito da instrumentação excessiva combinada com a medicação intracanal com hidróxido de cálcio.  Os autores valeram-se de 23 dentes humanos com lesão periapical, sendo que após o preparo convencional e instrumentação excessiva, foram medicados com hidróxido de cálcio por 7 dias. Amostras para exame bacteriológico foram coletadas na primeira sessão antes do preparo, e na segunda após a remoção do hidróxido de cálcio, e nova instrumentação. Os resultados evidenciaram amostras positivas em 14 dos 23 dentes, na primeira e 8 dos 23 dentes crescimento detectável (infecção residual), no final da segunda, e que somente 1 caso, as bactérias puderam ser quantificadas. Acrescentam ainda que o hidróxido de cálcio, usado como medicação intracanal por uma semana após excessiva instrumentação, reduz significativamente o crescimento bacteriano do canal radicular.

GENCIGLU & KULEKCI (1992) avaliaram in vitro o potencial antibacteriano do hidróxido de cálcio (Calasept), PMCC, Cresophene e iodo iodetado de potássio a 2%, sobre o Streptococcus mutans, Peptostreptococcus anaerobius, Porphyromonas gingivalis e Fusobacterium nucleatum, no período de 10 ou 15 minutos. Os resultados mostraram que a solução iodo iodetado de potássio foi eficiente apenas contra o F. nucleatum e a P. gingivalis. Os demais medicamentos foram efetivos em todas as espécies bacterianas em estudo.

GEORGOPOULOU et al. (1993) estudaram comparativamente, in vitro , a efetividade do hidróxido de cálcio e do paramonoclorofenol (PMCF) sobre bactérias anaeróbias. Foram isolados e identificados um total de 30 microrganismos de canais infectados de dentes humanos. Das 30 espécies isoladas, 12 eram cocos e 18 bastonetes. A resistência ao  PMCF dos anaeróbios em 5 minutos foi de 93,3%, aos 15 minutos 60%, aos 30 minutos 3,3%, enquanto que aos 60 minutos, nenhum microrganismo foi identificado. De outra parte, a resistência do hidróxido de cálcio foi de 30% aos 5 minutos,  6,6% aos 15 minutos, ao passo que aos 30 e 60 minutos nenhum micorganismo foi identificado. Os resultados mostraram diferenças expressivas entre os dois medicamentos  no tempo de 5 minutos, enquanto que aos 30 e 60 minutos não houveram diferenças significativas. Analisando os resultados frente aos cocos, a resitência ao PMCF aos 5 minutos foi de 91,6%, aos 15 minutos 50%, aos 30minutos 8,35% e zero aos 60 minutos. Quanto ao hidróxido de cálcio, aos 5 minutos foi de 41,6% e nos intervalos seguintes nenhuma resistência foi observada.  Aos 5 e 15  minutos, o hidróxido de cálcio estatisticamente mostrou-se mais efetivo contra os cocos do que o PMCF, e aos  30 e 60 minutos não houve diferença significativa. Frente a ação contra os bastonetes, o PMCF mostrou resultados de 94,4% aos 5 minutos,  58,8% aos 15 minutos, 11,7% aos 30 minutos e aos 60 minutos nenhum crescimento. O hidróxido de cálcio mostrou um índice de 76,4% aos 5 minutos, 11,7% aos 15 minutos e nenhuma resistência nos demais tempos. Apenas no intervalo de 15 minutos houve diferença estatística significante. Na ação contra as bactérias Gram positivas,  o PMCF apresentou nos tempos estudados os valores de 92,8%, 57,1%, 21,4% respectivamente, com nenhuma bactéria sobrevivendo aos 60 minutos.  Os valores obtidos com o hidróxido de cálcio nos dois primeiros tempos foram de 64,3% e 7,1%, sendo que em 15 minutos esta medicação foi significantemente mais efetiva. Não se observou nenhuma diferença nos demais tempos.  Em relação as bactérias Gram negativas, a resistência ocorreu apenas nos tempos de 5 e 15 minutos para o PMCF, com índices de 93,75% e 43,7%, sendo que para o hidróxido de cálcio apenas no tempo de 5 minutos tal fato foi encontrado com valores de 62,59%.  Apenas nos dois primeiros intervalos houveram diferenças estatisticamente significantes. Os resultados sugerem uma maior efetividade do hidróxido de cálcio contra a flora anaeróbia do canal radicular do que o PMCF.

SAFAVI & NICHOLS (1993) analisaram o efeito do hidróxido de cálcio sobre o lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano após a lise de bactérias de canais radiculares infectados. Amostras de LPS  tratadas com hidróxido de cálcio permitiram a quantificação de hidroxilas livres de ácidos gordurosos. O tratamento  conduziu  à liberação de elevadas quantidades de hidroxilas de àcidos gordurosos. O hidróxido de cálcio hidrolizou a porção lípide do LPS bacteriano, resultando na liberação das hidroxilas livres dos ácidos gordurosos. A degradação do LPS bacteriano mediada pelo hidróxido de cálcio pode ser um fator benéfico importante para seu emprego em Endodontia.

ASSED (1993) estudou a prevalência de microrganismos em canais radiculares de dentes com necrose pulpar e reação periapical crônica, e o efeito do preparo biomecânico e do curativo de demora através de imunofluorescência indireta e cultura. As amostras obtidas antes do tratamento submetidas à reação de imunofluorescência indireta foram positivas para 24 das 25 amostras, com prevalência de 56% para a espécie Actinomyces viscosus, 48% para Prevotella intermédia, 40% para o Fusobacterium nucleatum e 16% para a Porphyromonas gingivalis. O preparo biomecânico resultou em 43,8% de culturas negativas para os anaeróbios. A ação cumulativa do preparo biomecânico dos canais radiculares e do curativo de demora sobre os anaeróbios foi de 57,1% de culturas negativas.

HOLLAND et al. (1993) avaliaram o efeito de curativos de demora hidrossolúveis e não hidrossolúveis no processo de reparo de dentes de cães com lesão periapical.  Os curativos de demora utilizados foram o hidróxido de cálcio associado ao soro fisiológico e o hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol  canforado (pasta de Frank). Decorridos seis meses da obturação dos canais radiculares, observaram maiores índices de reparação quando do emprego do curativo de demora com a pasta aquosa contendo soro fisiológico.

ESTRELA et al. (1994) estudaram o efeito biológico do pH na atividade enzimática de bactérias anaeróbias. A análise de uma variedade de fatores isolados correlacionando pH e  as atividades de enzimas bacterianas e teciduais, permitiu levantar a hipótese de que o hidróxido de cálcio poderia inativar as enzimas bacterianas de modo irreversível ou definitivo, quando em condições extremas de pH em longos períodos de tempo. E também uma inativação enzimática reversível ou temporária, quando do retorno do pH  ideal à ação enzimàtica, haveria volta à sua atividade normal. Estes fatores proporcionaram aos autores acreditarem que na realidade o hidróxido de cálcio apresenta duas grandes propriedades enzimáticas: a de inibir as enzimas bacterianas, levando ao efeito antibacteriano, e a de ativar as enzimas teciduais, como a fosfatase alcalina, gerando o efeito mineralizador

SAFAVI & NICHOLS (1994) observaram alterações das propriedades biológicas de lipopolissacarídeos bacterianos por  tratamento com hidróxido de cálcio. Culturas de monócitos foram estimuladas com lipopolissacarídeo bacteriano ou LPS tratados com hidróxido de cálcio, sendo analisadas em relação ao conteúdo de protaglandinas E2 através de espectrofotometria de massa para gás cromatográfico. A prostaglandina E2 foi identificada em monócitos expostos ao LPS, mas não naqueles estimulados com LPS tratados com hidróxido de cálcio, permitindo a conclusão de que o tratamento com hidróxido de cálcio pode alterar as propriedades biológicas do LPS bcateriano.

ESTRELA et al. (1995) analisaram o efeito antibacteriano de duas pastas de hidróxido de cálcio, uma associada ao soro fisiológico e a outra ao paramonoclorofenol canforado, sobre microrganismos  facultativos (Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli e Streptococcus faecalis)  em períodos de 24 e 48 horas, através do método de difusão em ágar. Os resultados demonstraram que as duas pastas foram efetivas sobre todos os microrganismos analisados em 24 e 48 horas. A pasta que continha o hidróxido de cálcio com PMCC mostrou um maior halo de inibição de crescimento. Embora, os autores acreditam que este fato ocorreu devido a dificuldade de difusão dos íons hidroxila da pasta de hidróxido de cálcio com soro fisiológico no ágar.

KONTAKIOTIS et al. (1995) estudaram in vitro a ação indireta do hidróxido de cálcio sobre a flora anaeróbia do  canal radicular, particularmente sobre bactérias anaeróbias obrigatórias e facultativas isoladas de canais radiculares infectados. Uma placa com as bactérias e outra com hidróxido de cálcio foram incubadas em meio anaeróbio por 72 horas, constituindo o grupo experimental. Uma placa contendo algumas espécies bacterianas incubadas da mesma maneira, formaram o grupo controle. Posterior a 72 horas o número de bactérias recuperadas foram contadas em ambos  os grupos. O número de bactérias recuperadas no grupo controle foi significantemente maior, mediante análise estatística, todavia, nenhuma resistência específica ao hidróxido de cálcio foi detectada. Os resultados sugerem que a capacidade do hidróxido de cálcio em absorver dióxido de carbono pode contribuir para seu efeito antimicrobiano.

ESTRELA et al. (1995) analisaram a ação antibacteriana de cimentos contendo hidróxido de cálcio ( Sealapex, Apexit e Sealer 26) sobre o Enterococcus faecalis, a Pseudomonas aeruginosa e a Escherichia coli, através de teste de difusão em ágar. Os resultados demosntraram  total ausência de efeito antibacteriano. Acrescentam ainda, que a dissociação iônica dos cimentos analisados provavelmente seria maior se o meio fosse aquoso, o que poderia modificar a ação antibacteriana dos mesmos sobre o ágar.

SIQUEIRA et al. (1996) avaliaram a atividade antibacteriana de algumas pastas de hidróxido de cálcio ( Ca(OH)2 - 1g, Óxido de zinco 0,5 g, PMCC- 0,5 ml e glicerina; Ca(OH)2 - 1g, Óxido de zinco 0,5 g, PMCC - 1 gota, glicerina; Ca(OH)2 - 1g, Óxido de zinco 1g, PMCC 0,5 ml, glicerina; Ca(OH)2 + água destilada; hidróxido de potássio - 1 pastilha; hidróxido de sódio - 1 pastilha; óxido de zinco + água destilada), sobre os seguintes microrganismos: Fusobacterium nucleatum, Enterococcus faecalis e Streptococcus sobrius, utilizando o teste de difusão em ágar. Os resultados mostraram que das três bases fortes testadas, os hidróxidos de sódio e potássio apresentaram atividade antibacteriana excelente. Nenhuma zona de inibição associada ao hidróxido de cálcio foi observada. Das pastas contendo diferentes proporções de hidróxido de cálcio, óxido de zinco e PMCC, as que continham uma maior quantidade desta última substância apresentaram maiores efeitos inibitórios. O óxido de zinco, adicionado à pasta para conferir-lhe radiopacidade, não apresentou qualquer efeito antibacteriano.

ESTRELA et al. (1996) avaliaram a incidência de dor frente ao tratamento da inflamação periapical aguda e crônica, em 176 dentes portadores de necrose pulpar, que ao exame radiográfico apresentaram ou não, área de rarefação óssea periapical difusa ou circunscrita. Posterior ao esvaziamento, preparo completo do canal radicular na primeira sessão, e seu preenchimento com pasta de hidróxido de cálcio associada ao soro fisiológico, observaram que nas situações de necrose pulpar, necrose com rarefação difusa e circunscrita apresentando sintomatologia prévia, houve ausência total de dor pós-operatória em 64,3% , 68,2% e 61,5% , respectivamente. Os resultados quando o pré-operatório foram assintomáticos, demostraram percentuais de 87% , 82,4% e 84%, respectivamente para as situações descritas. Desta forma, os autores concluíram que nos casos clínicos de necrose pulpar (sintomática ou assintomática), independentemente do aspecto radiográfico, pode-se realizar na primeira sessão o preparo biomecânico, o preenchimento do canal radicular com pasta de hidróxido de cálcio associada ao soro fisiológico e o selamento coronário.

SIQUEIRA et al. (1996) analisaram a atividade antibacteriana de medicamentos Endodônticos ( pasta de Ca(OH)2 associada a água destilada; pasta de Ca(OH)2 em PMC aquoso a 2%; PMC aquoso a 2%; PMC associado ao furacin; e PMCC), sobre bactérias anaeróbias estritas (Porphyromonas endodontalis, Porphyromonas gingivalis, Fusobacterium nucleatum, Propionibacterium acnes e Bacteróides fragilis), através de teste de difusão em ágar. Os resultados mostraram que o PMCC, o PMC associado ao Furacin e a pasta de hidróxido de cálcio em PMC a 2% apresentaram elevada atividade antibacteriana contra as bactérias anaeróbias estritas. O PMC aquoso a 2% apresentou baixa atividade antibacteriana, enquanto que a pasta de hidróxido de cálcio em água destilada foi ineficaz contra todas as espécies testadas.

LOPES et al. (1996) reportando  sobre algumas considerações químicas, microbiológicas e biológicas do hidróxido de cálcio, destaca-se como propriedades fundamentais as seguintes: enzimática, dissolução tecidual, anti-hemorrágica, alcalinizante e de preenchimento. Consideram ainda que existem questionamentos quanto ao melhor veículo a ser utilizado, sendo que, o que se sabe é a fundamental importância do canal radicular estar adequadamente preparado e a pasta de hidróxido de cálcio preencher completamente o canal bem modelado.

SIQUEIRA et al. (1996) estudaram a desinfecção por pasta de hidróxido de cálcio associado ao soro fisiológico e ao PMCC, em dentina bovina infectada com Actinomyces israellii, Fusobacterium nucleatum e Enterococcus faecalis, nos períodos de 1 hora, 1 dia e 1 semana. Os resultados mostraram que a pasta de hidróxido de cálcio com PMCC foi efetiva matando bactérias nos túbulos após 1 hora de exposição, exceto o E. faecalis que requer 1 dia de exposição. A pasta de hidróxido de cálcio associada ao soro fisiológico foi inefetiva após uma semana de exposição.

SYDNEY (1996) identificou a presença de bactérias anaeróbias em canais radiculares de dentes portadores de polpa necrótica e lesão periapical, após seu preparo e o emprego ou não de medicação intracanal com pasta de hidróxido de cálcio associada ao soro fisiológico. Vinte dentes humanos, anteriores superiores foram utilizados e divididos em dois grupos. Os dentes do grupo I tiveram sua população microbiana identificada após coleta, transporte e processamento microbiológico, onde os canais foram instrumentados e selados sem nenhum medicamento por período de uma  a seis semanas, quando novas coletas microbianas foram realizadas. Nos dentes do grupo II, após identificação da população microbiana, os canais foram instrumentados e receberam como medicação intracanal  pasta de hidróxido de cálcio associada ao soro fisiológico, permanecendo por período de uma a seis semanas. Ao término de cada período, novas coletas  microbianas foram realizadas. Os resultados mostraram a importância do emprego da medicação intracanal, tendo o hidróxido de cálcio promovido uma redução de 77,8% de micorganismos após sua permanência por uma semana, e posterior a seis semanas, apenas 1 caso, cuja bactéria pode ser identificada, o Enterococcus faecalis.

SIQUEIRA et al. (1997) avaliaram a atividade antibacteriana da pasta de hidróxido de cálcio associada ao PMCC e glicerina, contendo diferentes proporções de iodofórmio sobre bactérias anaeróbias estritas e facultativas (Porphyromonas endodontalis, Porphyromonas gingivalis, Prevotela intermédia, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus e Streptococcus sanguis ), através de método de difusão em ágar. Os resultados mostraram que a adição de iodofórmio à pasta não interfere em suas propriedades antibacterianas e que o elemento responsável pela atividade antibacterina exibida pela pasta foi provavelmente o PMCC liberado.

ESTRELA et al. (1997) determinaram in vitro o efeito antimicrobiano direto do hidróxido de cálcio sobre vários microrganismos ( Micrococcus luteus, ATCC 9341; Staphylococcus aureus, ATCC 6538; Fusobacterium nucleatum, ATCC 25586; Pseudomonas aeruginosa, ATCC 27853; Escherichia coli, IPT-UFG; e Streptococcus sp., IPT-UFG), em intervalos de 0, 1, 2, 6, 12, 24, 48, 72 horas e 7 dias. Estas cepas foram cultivadas em Brain-Heart Infusion (BHI), com excessão do Fusobacterium nucleatum onde foi cultivada em meio reduzido (BHI-pras).  Cones de papel autoclavados foram imersos em culturas puras  destes microrganismos e em misturas pelo período de 3 minutos, e posteriormente cobertos com pasta de hidróxido de cálcio associada ao soro fisiológico, sendo removidos nos diferentes períodos, e transferidos para o meio apropriado (BHI) para observar seu crescimento e multiplicação. A incubação foi  conduzida a 37? C por 48 horas, de acordo com as exigências de oxigênio de cada microrganismo. O efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio foi demonstrado ocorrer após 12 horas sobre o Micrococcus luteus e o Fusobacterium nucleatum, 24 horas sobre o Streptococcus sp, 48 horas sobre a Escherichia coli, e 72 horas sobre o Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa. A mistura II (M. luteus + Streptococcus sp + S. aureus) foi sensivel ao potencial antimicrobiano do hidróxido de cálcio em 48 horas; enquanto que a  mistura I ( M. luteus + E. coli + P. aeruginosa), mistura III (E. coli + P. aeruginosa) e a mistura IV ( S. aureus + P. aeruginosa) foram inativadas após 72 horas de exposição.

ESTRELA et al. (1997) reportaram que a ação antimicrobiana do hidróxido de cálcio decorrente de seu pH elevado, determinada pela liberação de íons hidroxila , requer tempo ideal para a efetiva ação dos microrganismos, quer por contato direto ou indireto nos túbulos dentinários. Nesta pesquisa, foi avaliado o efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio em túbulos dentinários infectados, a partir de sua difusão, nos períodos de 0, 48, 72 horas e 7 dias. Quatro cepas bacterianas: Streptococcus faecalis (ATCC 29212), Staphylococcus aureus (ATCC 6538), Bacillus subtilis (ATCC 6633) e Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853) foram repicadas em 5 ml de Brain-Heart Infusion (BHI) e incubada a 37?C por 24 horas. Cinco grupos de 12 dentes anteriores foram instrumentados, esterilizados em autoclave, inoculados com estes microrganismos por um período de 28 dias. A seguir, foram irrigados com soro fisiológico e preenchidos com pasta de Ca(OH)2 e soro fisiológico. Em intervalos de 0, 48, 72 horas e 7 dias, a pasta de hidróxido de cálcio foi removida, os canais radiculares foram secados e os dentes imersos em 5 ml de caldo BHI, mantidos a 37?C por 48 horas. O crescimento bacteriano foi evidenciado pela turvação do meio de cultura e confirmado pela semeadura destes caldos em placas de ágar BHI a 37?C por 24 horas. Coloração de Gram foi realizada a partir do crescimento do caldo bem como das colônias das placas de ágar BHI, para confirmação microscópica dos microrganismos inoculados. Os resultados mostraram que no período de 7 dias o hidróxido de cálcio foi inefetivo por ação indireta contra os microrganismos testados.

ESTRELA (1997) estudou a eficácia de diferentes pastas de hidróxido de cálcio sobre o Streptococcus mutans, Streptococcus faecalis, Staphylococccus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Bacillus subtilis, Candida albicans e a mistura destes. Após imersão por três minutos de 924 cones de papel absorventes em suspensão de Brain Heart Infusion (BHI), contendo estes microrganismos, os cones foram completamente cobertos por pastas de hidróxido de cálcio contendo soro fisiológico, paramonoclorofenol associado ao Furacin?, solução de paramonoclorofenol a 1%, paramonoclorofenol canforado, Clorexidina a 1%, Flagyl? e soro fisiológico, Otosporin?, solução Lauril sulfato de sódio - 3%, e isoladamente por paramonoclorofenol - Furacin?,  soro fisiológico e Ágar-ágar. Em intervalos de 1 minuto, 48, 72 horas e 7 dias, os cones foram removidos destas pastas e imersos em Letheen Broth, incubados a 37? C por 24 a 48 horas. Os resultados estão expressos nas Tabelas 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10, demonstrando o efeito antimicrobiano das diferentes pastas de hidróxido de cálcio, sobre o Streptococcus mutans, o Streptococcus faecalis, o Staphylococcus aureus, a Pseudomonas aeruginosa, o Bacillus subtilis, a Candida albicans, e a mistura destes, nos períodos de 1 minuto, 48, 72 horas e 7 dias.
Nas presentes condições experimentais, foi lícito concluir que:

01. O paramonoclorofenol - 5g /28 mL de Furacin mostrou inibir o crescimento de todos os microrganismos testados (S. mutans, S. faecalis, S. aureus, P. aeruginosa, B. subtilis, C. albicans), inclusive da mistura destes, atuando por contato direto em todos os intervalos de tempo (1 minuto, 48, 72 horas e 7 dias).

02. A pasta de hidróxido de cálcio acrescida de paramonoclorofenol com Furacin demonstrou efetividade por contato direto em 1 minuto sobre os microrganismos S. mutans, S. aureus, P. aeruginosa, B. subtilis, C. albicans, e em 48 horas sobre o S. faecalis e a mistura  microbiana crescida.

03. A pasta de hidróxido de cálcio, acrescido de Flagyl e solução fisiológica mostrou efetividade controladora eliminando B. subitilis em 1 minuto, S. faecalis, S. aureus, C. albicans e a mistura destes foram eliminados após 48 horas, enquanto o S. mutans e a P. aeruginosa após 72 horas de contato direto.

04. A pasta de hidróxido de cálcio associada à solução de lauril sulfato de sódio a 3% demonstrou efetividade antimicrobiana por contato direto em 1 minuto sobre o S. mutans, enquanto para os demais microrganismos, somente no segundo período de observação, 48 horas, este efeito foi evidente.

05. A pasta, cujo veículo foi a solução fisiológica, demostrou efetividade antimicrobiana sobre o S. mutans e a P. aeruginosa no tempo de 1 minuto,  sobre o S. faecalis, S. aureus, C. albicans e a mistura, após o segundo período de observação, 48 horas, e sobre o B. subtilis após o terceiro período de observação, 72 horas.

06. O Calen com paramonoclorofenol canforado, em 1 minuto, exerceu efeito letal sobre o S. mutans e o S. faecalis, enquanto  para o S. aureus, P. aeruginosa, B. subitilis, C. albicans e a mistura, este efeito foi observado somente após 48 horas.

07. O hidróxido de cálcio, associado a solução de paramonoclorofenol a 1% demonstrou efetividade antimicrobiana contra o S. mutans, B. subtilis e C. albicans após 1 minuto de contato, enquanto para os indicadores S. faecalis, S. aureus, P. aeruginosa e a mistura, o efeito antimicrobiano somente se manifestou após 48 horas.

08. Na pasta cujo veículo foi a Clorexidina a 1%, o S. mutans, S. aureus, C. albicans e a mistura  foram eliminados em 1 minuto de contato direto, e o S. faecalis, P.aeruginosa, B. subtilis após  48 horas de exposição.

09. A associação do Otosporin ao hidróxido de cálcio mostrou efetividade antimicrobiana por contato direto em 1 minuto sobre o S. mutans, S. faecalis, S. aureus, P. aeruginosa, B. subtilis, e em 48 horas sobre a C. albicans e a mistura.

10. Nos grupos controles, soro fisiológico e Ágar-ágar, a P. aeruginosa, o B. subtilis, a C. albicans e a mistura, mantiveram-se viáveis em todos períodos experimentais. O S. faecalis e o S. aureus permaneceram viáveis até 72 horas, enquanto o S. mutans até 48 horas. Nenhum dos resultados demonstrados pelos grupos controles interferiram nos resultados alcançados, ou seja, diante dos períodos analisados em que as pastas se mostraram efetivas os microrganismos permaneceram viáveis.

WebMasters: Jesus Djalma Pécora, Danilo M. Z. Guerisoli e Carlos Estrela.
Copyright 17 de outubro de 1997.

Esta página foi elaborada com apoio do Programa Incentivo à Produção de Material Didático do SIAE - Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação da USP.
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