FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

TESE DE DOUTORADO
 
 

ESTUDO DA PERMEABILIDADE DENTINÂRIA DO ASSOALHO DA CÂMARA PULPAR DOS MOLARES INFERIORES HUMANOS, COM RAÍZES SEPARADAS.

JESUS DJALMA PÉCORA
pecora@forp.usp.br

Orientador: Prof. Dr.Wanderley Ferreira da Costa
Co-Orientador: Prof. Dr. Geraldo Maia Campos
gmc@forp.usp.br

Tese apresentada á Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Reabilitação Oral. 1990, Ribeirão Preto, 117p.


RESUMO | SUMMARY | INTRODUÇÃO | REVISÃO | PROPOSIÇÃO | MATERIAL E MÉTODO | RESULTADOS | FOTOMICROGRAFIAS | DISCUSSÃO | CONCLUSÕES | REFERÊNCIAS


 
 
 

INTRODUÇÃO

A dentina é um tecido de origem mesodérmica, altamente diferenciado, produzido pela atividade dos odontoblastos, cujos corpos celulares estão situados na polpa dental, com prolongamentos citoplasmáticos no interior do tecido formado.

Pela sua própria natureza, a dentina apresenta canalículos, que contêm em seu interior os prolongamentos dos odontoblastos e líqüido intersticial (PASLHEY, 1985)

BRANNSTRÔM & GARBEROGLIO (1972) observaram que os prolongamentos dos odontoblastos não preenchem todo o comprimento dos canalículos, mas apenas um quarto do comprimento total.

As paredes dos canalículos são revestidas por uma dentina hipermineralizada, a dentina pericanalicular. A dentina compreendida entre os canalículos recebe o nome de dentina inter-canalicular, e e mas rica em matriz orgânica e menos calcíficada que a dentina pericanalicular (MJÖR, 1972; PASHLEY, 1985)

GARBEROGLIO & BR1~NNSTR~SM (1976), estudando o numero e a amplitude dos canalículos dentinários em dentes humanos, em microscopia eletrônica de varredura, constataram a presença de aproximadamente 45000 canalículos por milímetro quadrado, com diâmentro em torno de 2,5 m m, nas proximidades da polpa. Esse numero caia para 29.500 canalículos por milímetro quadrado e 1,2 m m de diâmetro, à meia distancia da espessura da dentina, e para 20.000 e 0,9 m m nas vizinhanças da junção ame1odentinária.

A dentina coronária é recoberta pelo esmalte, e a radicular pelo cemento.

A maioria das alterações patológicas da polpa começa com a remoção de uma ou de ambas as barreiras protetoras (esmalte e cemento) , via cárie dental, fratura, erosão ou abrasão, resultanto na comunicação do tecido pulpar com a cavidade bucal, através dos canalículos dentinários (PASHLEY, 1985).

Pela sua própria estrutura anatómica, a dentina permite naturalmente a passagem de substância ou fluidos, característica essa referida por MJÖR (1972) como "permeabilidade dentinária

O interesse pelo estudo da permeabilidade dentinària não é recente. Muitos pesquisadores se preocuparam com essa via natural que permite a comunicação do meio bucal com a polpa dental. Por muito tempo, o estudo da permeabilidade dentinária foi realizado de modo qualitativo ( BÖDECKER & APPLEBAUM, 1933; FISH, 1933; BEUST, 1912, 1931 e 1934; WAINWRIGHT, 1950; MARTIN, 1951; WAINWRIGHT & BELGOROD, 1955; ANDERSON & RONNING, 1962; ARWILL et alii, 1965; SMITH & VINCENSO, 1968).

Mais recentemente, tais estudos deixaram de ser apenas qualitativos, tornando-se quantitativos, com o objetivo de avaliar alguns determinantes que influenciam a permeabilidade dentinária, tais como: área da dentina exposta, espessura da dentina, temperatura, tempo decorrido após a extração do dente, efeito do tamanho das mo1éculas utilizadas no estudo da permeabilidade, resistência regional ao fluxo líquido através da dentina, efeito do grau de obliteração dos canalículos dentinários, efeito do plasma e de constituintes salivares na permeabilidade, efeito de remoção da "smear layer" e variação regional da permeabilidade dentinária ( OUTHWAITE et alii, 1976; PASHLEY & LIVINSGTON, 1978; PASHLEY et alii, 1978; PASHLEY, 1981; PASHLEY, 1982).

O estudo da permeabilidade dentinária despertou também o interesse dos endodontistas, uma vez que os canalículos podem alojar microrganismos, em conseqüência da infecção pulpar (SHOVELTON, 1964) . A desinfecção desses canalículos constitui uma das fases do tratamento endodôntico, e para isso deve receber direta ou indiretamente a ação de um agente desinfetante.

Assim, com o intuito de verificar qual das soluções auxiliares da instrumentação de canais radiculares, ou qual dos medicamentos utilizados, promoveria maior ou menor aumento da permeabilidade dentinária radicular, inúmeros pesquisadores investigaram o assunto, com a adoção de métodos os mais variados (WACH et alii 1955; MARSHALL et alii, 1960; HAMPSON & ATKINSON, 1964; MOSS, 1965; STEWART et alii, 1969; COSTA, 1969: COHEN et alii, 1970; ROBAZZA, 1973; MACCHETTI & CAMPOS, 1975; FRASER & LAWS, 1976; MOURA et alii, 1978; ROBAZZA et alii, 1981; FRÓIS et alii, 1981; BENGTSON et alii, 1983; PËCORA, 1985; FELLER et alii, 1986;ZUOLO et alii, 1987, SILVA 1988).

A ação da instrumentação ultra—sônica sobre a permeabilidade da dentina radicular foi estudada por FELLER et alii (1986) e SILVA (1988), e a efetividade do ultra-som em promover canais radiculares mais limpos foi demonstrada por (MARTIN 1976; CUNNINGHAN & MARTIN 1982 e COSTA et alii 1986). A ação efetiva do líquido de Dakin como solução irrigante na instrumentação ultra-sônica foi esclarecida por VANSAN (1988)

Das pesquisas realizadas sobre a permeabilidade da dentina radicular, apenas as de MOSS (1955) e MACCHETTI & CAMPOS (1975) estudaram a permeabilidade da furca.

Em 1950, para evitar confusão na nomenclatura, o Bureau of Library and Indexing Service publicou um texto sobre o significado das palavras FURCA e BIFURCAÇÂO que, mal empregadas, poderiam criar dúvidas. Assim, o termo FURCA deve ser usado para expressar uma área ou região situada entre duas ou mais raízes, anatómica e normalmente divididas em sua base, enquanto que o termo BIFURCAÇÂO exprime a divisão anatómica normal de raízes do dente em duas partes.

A íntima relação da polpa com os tecidos periodontais, via canais laterais e acessórios, tem sido relatada desde o começo deste século (GROVE, 1916; BARRETT, 1925) . Em situações patológicas, a interação entre esses tecidos pode ocorrer por meio de produtos tóxicos e ou pela extensão do processo inflamatório.

EVERETT et alii (1958); STELZER & ZIONTS (1963); MOSS (1965); SELTZER et alii (1967); BURCH & HULEN (1974); KOENIGS et alii (1974); GUTMANN (1978) e BOWER (1979) estudaram a região da furca e bifurcação, constatando ali a presença de canais que punham em comunicação a polpa com o periodonto.

A exposição da bifurcação dos dentes posteriores e os problemas advindos dessa situação foram e são ainda estudados pelos periodontistas.

Todavia, se e verdade que a permeabilidade da dentina coronária e radicular sempre foi motivo de estudo, o mesmo não se pode dizer sobre a dentina da área da furca, que tem sido muito pouco investigada.

Essas observações definiram o objetivo do presente trabalho, que consiste em avaliar o comportamento da permeabilidade dentinária da furca de molares inferiores com raízes separadas, após a instrumentação dos canais radiculares pelas técnicas manual e ultra-sónica, utilizando água destilada e líqüido de Dakin como solução irrigante.



 

REVISÃO DA LITERATURA

O dente, o periodonto e toda a cavidade bucal sempre foram motivo de estudo para os interessados na Ciência Odontológica.

Antes do advento do microscópio, a dentina era vista como uma estrutura compacta, de cor amarelada, que protegia o órgão pulpar, recoberta pelo esmalte. A ampliação da visão humana com o auxilio desse poderoso instrumento científico, possibilitou a compreensão mais perfeita dos tecidos do corpo humano e a dentina pôde ser melhor estudada.

Assim, M’QUILLEN (1866), professor de Anatomia, Fisiologia e Higiene do Colégio Dental da Filadelfia, publicou um trabalho onde descreve um método para examinar as estruturas dentais pelo microscópio, fazendo referência à dentina, demonstrando a presença de canalículos nesse tecido e a sua íntima relação com o órgão pulpar.

À medida que se propagava o uso de microscópio, os cirurgiões-dentistas passaram a entender melhor os tecidos dentais, sobre os quais exerciam a sua arte.

BOLL (1870) descreveu a presença da camada de odontoblastos no órgão pulpar, responsabilizando essas células pela formação de tecido dentinário.

ABBOTT (1880), com base em observações histológicas, argumentou que a dentina dos dentes primários apresentava canalículos com maior diâmetro do que os observados em dentes permanentes.

Com base nos conhecimentos histológicos, já na segunda metade do século passado os profissionais tinham noção de que a dentina era por sua própria natureza, um tecido permeável.

KIRK (1910), em seu livro sobre Dentística Operatória, apresenta bons conhecimentos a respeito da histologia da dentina e chama a atenção dos clínicos para a existência dos canalículos dentinários, inclusive calculando o seu diâmetro entre 1,1 a 2,5 micrometros.

BEUST (1912), com o intuito de verificar se o esmalte dental apresentava defeitos que pudessem favorecer a infiltração de microrganismos para o interior do dente, elaborou uma pesquisa com dentes extraídos, injetando pelo canal radicular dos dentes, uma solução alcoólica de fucsina. O tempo que o corante levava para penetrar por toda a dentina coronária e atingir o esmalte variava de poucas horas a duas semanas. Por meio de cortes do tecido dental, o autor constatou que o corante penetrava pelos canalículos dentinários, muitas vezes atingindo e atravessando todo o esmalte.

GROVE (1916) investigou a anatomia interna dos dentes, por meio de diafanização, demonstrando a presença de dois ou mais forames nos ápices radiculares, bem como a presença de canais laterais, e enfatizando os cuidados que os endodontistas devem ter durante o tratamento endodôntico.

HANAZAWA (1917) realizou uma exaustiva investigação sobre a dentina, constatando a presença de prolongamentos dos odontoblastos no interior dos canalículos dentinários. Esse autor confirmou que a ação de ácido sobre a dentina, mesmo por pouco tempo, era capaz de promover um aumento extraordinário nos diâmetros dos canalículos dentinários.

Paralelamente às investigações na área da Histologia e Anatomia, a Endodontia desenvolvia pesquisas no sentido de obter uma solução auxiliar de instrumentação dos canais radiculares capaz de promover a sua limpeza e desinfecção.

Assim, KIRK (1893) preconizou o uso de dióxido de sódio, SCHREIER (1893) a associação do sódio e potássio metálico, CALLAHAN (1894) o uso alternado de ácido sulfúrico e bicarbonato de sódio, HARLAN (1900) a papaína, HOWE (1917) o nitrato de prata amoniacal, PRINZ (1917) comunica a eficiência do uso da eletrólise (com solução de cloreto de sódio) na esterilização dos canais radiculares, pela liberação de cloro ativo, citando ainda a ação germicida da solução proposta por DAKIN (1915).

MCCLELLAND & WASS (1922) preocuparam-se com a capacidade antibacteriana de vários agentes desinfectantes e, estudando o poder germicida: de substâncias à base de cloro em várias concentrações (iodeto de cloro, dicloramina T, e a solução de DAKIN), observaram que a solução de Dakin mostrava-se muito instável e, em conseqf3~ncia, perdia seu efeito germicida. Para evitar a sua decomposição, aconselhavam protegê - la da luz e do ar, pelo armazenamento em vidro âmbar, hermeticamente fechado. Os autores afirmavam que, não obstante as soluções estudadas destruírem de fato os microrganismos, aquelas à base de iodeto de cloro tinham a sua capacidade de penetração diminuída em presença de albumina e, em conseqüência, deviam ser substituidas pela solução de dicloramina T a 5,0 por cento.

BARRETT (1925) investigou, por meio de cortes histológicos, a anatomia interna de 512 dentes humanos extraídos (16 de cada tipo), verificando alta porcentagem de canais laterais e acessórios nas raízes desses dentes. Com base nesses achados, o autor chama a atenção dos endodontistas para a importância da instrumentação e desinfecção dos canais radiculares.

TURNER (1927) escreveu um capítulo sobre Histologia dos dentes humanos no livro La Práctica Odontológica de JOHNSON, no qual reforça o fato de a atividade do odontoblasto poder ser estimulada pelas irritações pulpares produzidas pela cárie e por abrasões, erosões e fraturas. Explicou assim a formação da dentina secundária como um mecanismo de defesa da polpa dental contra os agentes irritantes.

A inclusão de capítulos dedicados à Anatomia e Histologia Dentais, mesmo em tratados de natureza primordialmente clínica, demonstra a preocupação e o cuidado de seus autores em ressaltar a estreita relação entre as atividades clínicas aplicadas e os seus fundamentos biológicos.

Em 1929, ORBAN & MUELLER publicaram uma das mais brilhantes pesquisas no campo odontológico, descrevendo o desenvolvimento histogenético da bifurcação dos dentes multirradiculares. Estudaram passo a passo o desenvolvimento desses dentes em ratos, observando que a bifurcação começa a formar-se tão logo se completa o desenvolvimento da coroa dental, sendo as raízes primeiramente esboçadas pelo aumento periférico excêntrico da abertura basal do germe dental. Nesse crescimento excêntrico, certas porções da bainha epitelial de Hertwig permanecem relativamente fixas, embora mais tarde elas cresçam e se unam para formar a bifurcação que demarca a separação das raízes.

COOLIDGE (1929) investigou a presença dos microrganismos mais comumente encontrados nos canais radiculares infectados e a ação de soluções germicidas sobre eles. Demonstrou assim a penetração do cloro nascente até em espaços inacessíveis dos canais radiculares, o qual neutralizava tanto os produtos tóxicos como os gases formados pela putrefação.

A desinfecção de um canal contaminado se realiza pela ação química de soluções irrigantes capazes de destruir os microrganismos e neutralizar seus produtos tóxicos, auxiliadas pela ação mecânica de instrumentos endodônticos que removam materiais durante o processo de alargamento desse canal.

Com o intuito de conhecer melhor a anatomia dos canais radiculares, COOLIDGE (1929) voltou sua atenção para a anatomia dos ápices radiculares. Desse estudo, chegou às seguintes conclusões: o canal radicular principal pode apresentar ramificações que terminam em várias foraminas; a junção dentina - cemento é extremamente variável; e, finalmente, os canais curvos, as ramificações inacessíveis e os condutos atrésicos não impedem o sucesso do tratamento endodôntico, desde que a infecção seja eliminada e o canal radicular cuidadosamente obturado.

BEUST (1931) investigou as reações da dentina frente à irritação externa, por meio de cortes histológicos de dentes, e com uso de corante, observou áreas de maior permeabilidade. Com base em seus achados, conclui que uma ação irritante na dentina pode ocasionar a completa obliteração dos canalículos dentinários, e que a esclerose da dentina conseqüente à diminuição da luz da câmara pulpar constitui uma forma de resistência do dente à cárie.

O avanço das pesquisas, principalmente no campo da Anatomia e Histologia, fez os cientistas se voltarem com mais rigor para a investigação da permeabilidade do tecido dentinário, sob os mais variados aspectos. Tanto assim que BODECKER & APPLEBAUM (1933), com base em estudos histológicos, investigaram a variação da permeabilidade dentinária e suas relações com a ação dos profissionais na clínica. Nesse estudo analisaram o comportamento da permeabilidade da dentina sob lesões cariosas, e também a formação de dentina secundária. Chegaram as seguintes conclusões: a dentina á mais permeável nos dentes jovens; a permeabilidade desse tecido á progressivamente reduzida com o avanço da idade do dente; a cárie dental, a erosão e a abrasão causam alterações no padrão da dentina, deixando-a menos permeável; e, finalmente, dentes com polpa calcificada apresentam redução na permeabilidade dentinária.

FISH (1933) estudou, com uma metodologia bem disciplinada, a permeabilidade dentinária sob ação do corante azul de metileno. Os dentes permaneciam no corante por um tempo de 24 horas a temperatura de 37 graus centígrados. O autor observou que nas áreas onde a dentina se apresentava hipermineralizada, a permeabilidade estava acentuadamente reduzida.

BEUST (1934), estudando a dentina sob o ângulo de sua permeabilidade, ratifica os achados de BODECKER & APPLEBAUM (1933) e FISH (1933), ao admitir que, com o aumento da faixa etária de um dente, a dentina tornava-se mais resistente à infiltração de corantes.

WALKER (1936) propõe o uso de uma solução de hipoclorito de sódio a 5,0 por cento para a instrumentação dos canais radiculares de dentes despolpados, enfatizando que o tratamento endodôntico á um procedimento especializado e assim exige uma atenção especial a todos os detalhes como, por exemplo, a instrumentação, a desinfecção e a obturação do canal radicular.

GROSSMAN & MEIMAN (1941), após estudos de vários agentes químicos aplicados em técnicas endodônticas, tais como as soluções aquosas de ácido sulfúrico, de sódio e potássio metálicos , de dióxido de sódio, de metilato de sódio, de papaína e de soda clorada ratificam a afirmativa de WALKER (1936), no sentido de que a solução de soda clorada á a mais efetiva como solvente do tecido pulpar. Essa afirmativa de GROSSMAN & MEIMAN (1941), em ultima análise, conduziu a um tratamento endodôntico mais disciplinado quanto ao uso de solução irrigante.

VOLKER & SOGNNAES (1941) administraram fósforo radioativo a gatos, cães e macacos, com o propósito de investigar o metabolismo da dentina e do esmalte. Observaram a concentração do material radioativo em dentes não irrompidos e ainda uma maior deposição na raiz do que na coroa. Relacionaram a quantidade de radioisótopo detectado com o suprimento sangüíneo dos tecidos, pelo fato de encontrarem maior quantidade de radioisótopo no osso maxilar do que no osso mandibular.

BÖDECKER (1943) faz críticas ao uso de radio-isótopo na determinação do metabolismo da dentina, porque a permeabilidade da dentina á dependente da idade do dente, do tipo de animal utilizado, da formação de dentina secundária, da obliteração dos canalículos e da vitalidade pulpar. O grau da atividade pulpar desempenha também algum papel na atividade metabólica da dentina.

GROSSMAN (1943), baseando-se nos trabalhos de WALKER (1936) e GROSSMAN & MEIMAN (1941), sugeriu uma técnica para o tratamento de canais radiculares — que sem dúvida resistiu às críticas por um período de aproximadamente quarenta anos. Essa técnica, em resumo, fundamenta-se na irrigação alternada, primeiro com a soda clorada duplamente concentrada, e depois com a água oxigenada a 3,0 por cento. Assim, associou a capacidade solvente da soda clorada com a liberação de oxigênio nascente pela reação com a água oxigenada. Como justificativa para a sua técnica, o autor cita o seguinte axioma: antes de uma ferida estar pronta para receber o agente quimioterápico, todo resto necrótico e "débris" devem ser removidos.

Em 1944, a Odontologia mundial foi agraciada com um dos melhores livros até hoje editado sobre canais radiculares. Trata-se do livro de PUCCI & REIG, onde os autores fazem, no primeiro volume, uma magnífica apresentação sobre os conhecimentos de Anatomia, Histologia e Patologia dos tecidos dentais. Cumpre ressaltar que os autores apresentam um tópico especial sobre fisiologia da dentina humana, onde dão ênfase à difusão dos fluidos através desse tecido, deixando bem claro que esse fator depende da presença dos canalículos dentinários, que existem determinantes que podem aumentar ou diminuir essa permeabilidade. Para eles, os clínicos deveriam conhecer a fisiologia desse tecido para poder atuar na terapêutica com mais conhecimentos biológicos, evitando assim que procedimentos inadequados ocasionassem danos a polpa e aos tecidos periodontais.

AMLER (1948), com o objetivo de verificar a ação de vários medicamentos comumente utilizados nos consultórios odontológicos sobre a permeabilidade da dentina, realizou uma pesquisa na qual preparou várias cavidades em dentes de cães, empregando vários medicamentos e o P32. A seguir, as cavidades eram restauradas com amálgama de prata. Os animais foram sacrificados após 48 horas e os dentes removidos. Após a secção dos dentes, foram realizados estudos autorradiográficos. Os medicamentos testados foram: fenol, fluoreto, nitrato de prata, eugenol, verniz cavitário e cimento fosfato de zinco. Nas cavidades restauradas com cimento fosfato de zinco, não foram observadas penetrações de substâncias radioativas. Nos casos onde foram empregados os demais medicamentos, as infiltrações dos radioisótopos foram maiores do que as observadas nos dentes onde não se empregou medicamento. Com base nesse estudo, o autor chama a atenção para a utilização de uma base protetora de cimento fosfato de zinco sobre a dentina.

Na primeira parte deste século, o envolvimento periodontal da área de bifurcação dos molares constituiu um problema de difícil solução e, em muitos casos, eram indicadas as avulsões dos dentes.

GLICKMAN (1950) estudou, por meio de cortes histológicos, os casos de envolvimento da área de bifurcação, concluindo que essa condição não apresentava nenhum aspecto histopatológico que a caracterizava como uma entidade patológica especifica. Os aspectos histopatológicos encontrados nas bolsas periodontais que expunham a furca eram idênticos aos observados em uma bolsa periodontal sem envolvimento da bifurcação. Esse autor relatou que para a detecção e diagnóstico do envolvimento periodontal da bifurcação, o exame radiográfico tem uma ação importante, embora sujeito à algumas limitações. Ele também enfatizou, nesse trabalho, que não havia nenhuma justificativa em favor da indicação da avulsão dos dentes para todos os casos em que a bifurcação estivesse envolvida.

Ainda, em 1950, para evitar erros de nomenclatura, o Bureau of Library and Indexing Service publicou um texto sobre o significado das seguintes palavras: Furcação, Furca, Furculação, Fúrcula, Bifurcação, Bifurca, Trifurcação e Interfurca. O termo furcação significa uma divisão anatômica normal das raízes dos dentes em ramos separados, como nos dentes posteriores. Furca significa área ou região compreendida entre duas ou mais divisões anatomicamente normais das raízes em suas bases. Furculação significa divisão anatômica anormal da raiz em raízes acessórias. Fúrcula significa a porção de um ramo da raiz produzida pela divisão anatômica anormal. Bifurcação significa divisão anatômica normal das raízes dos dentes em duas partes. Bifurca significa área ou região compreendida entre duas divisões anatômicas normais das raízes dos dentes em suas bases. Trifurcação significa divisão anatômica normal das raízes dos dentes em trás partes. Interfurca significa a área ou região entre trás ou mais divisões anatômicas normais das raízes dos dentes em sua base.

Assim, com base nessa nomenclatura, pode-se dizer área compreendida entre as duas divisões anatômicas das em suas bases e a furca e ela pode estar presente nos inferiores, no espaço que une o canal distai aos canais mesiais.

Com o objetivo de analisar a permeabilidade do esmalte e da dentina, WAINWRIGHT & LEMOINE (1950) empregaram uréia marcada com C14. Os resultados evidenciaram que a difusão do radioisótopo ocorreu no esmalte intacto. A penetração do radioisótopo no esmalte foi rápida, ocorrendo em 10 minutos, quando comparada com os corantes, que requereram um tempo de 10 a 50 dias. A penetração do radioisótopo, no sentido do esmalte para a dentina, ocorreu com maior intensidade próximo à linha gengival do que nas fissuras oclusais. Os autores mostraram que o uso do radioisótopo propiciava um método efetivo para estudar a permeabilidade do esmalte.

MARTIN (1951), usando metodologia idêntica à de AMLER (1948), verificou que o cimento fosfato de zinco e a precipitação de uma camada de fluoreto de cálcio foram capazes de impermeabilizar a dentina ao P32.

WACH et al. (1955), com a intenção de verificar a possibilidade da utilização da penicilina no tratamento endodôntico, estudaram a sua capacidade de penetração na dentina. Eles marcaram a penicilina com radioisótopo S35. As investigações foram realizadas em dentes humanos extraídos. Os autores concluíram que a penicilina radioativa penetrava na dentina de todos os dentes. Com base nesses achados, eles aconselharam a realização de mais investigações, com o intuito de aplicar esse antibiótico na desinfecção dos canais radiculares.

WAINWRIGHT & BELGOROD (1955) testaram os seguintes radioisótopos em seus estudos sobre a permeabilidade dentinária: C14-nicotinamida, C14-uréia, S35-thiouráia e C14-acetamide. Os experimentos foram realizados em dentes humanos extraídos. Os isótopos radioativos foram colocados no interior da câmara pulpar e, a seguir, foi determinado o tempo gasto na sua penetração em direção ao esmalte, durante um período de 6 minutos a trás dias. Os autores concluíram que os radioisótopos penetravam rapidamente na dentina (em trás minutos), comprovando os achados de WAINWRIGHT & LEMOINE (1950).

EVERETT et al. (1958), tiveram suas atenções voltadas para o estudo da anatomia externa da bifurcação dos molares inferiores. Foram cortados, desgastados e descalcificados 328 dentes molares inferiores e examinados com auxílio de microscópio. Observaram a presença de uma ponte intermediária na bifurcação em 73 por cento dos dentes examinados. Essas pontes, quando presentes, tem um trajeto que vai da raiz distal à raiz mesial. Por meio de cortes V-L em 35 molares, verificaram que a ponte intermediária á formada basicamente por cemento. Também observaram que o cone de dentina, que forma a base da câmara pulpar, apresentava-se, histologicamente, diferente do resto da dentina da câmara, tanto em cortes por desgaste como por descalcificação. Canais nutrientes foram observados com muita frequência nessa região. Os cortes histológicos mostraram, ainda, a existência de uma zona de mudança na direção dos canalículos, que se assemelha à divisão entre a dentina primária e a dentina secundária.

KRAMER (1960) estudou a arquitetura vascular da polpa dental humana, tanto em dentes primários como em permanentes, utilizando uma solução formada pela mistura de tinta da índia e citrato de sódio, que foi injetada na polpa dental logo após a avulsão do dente. A seguir, os dentes foram fixados em formol por um período de trás dias e, posteriormente, descalcificados em ácido nítrico. Concluída essa fase, os dentes foram lavados em água corrente, desidratados em álcool ascendente e clarificados em clorofórmio ou salicilato de metila. Os resultados evidenciaram a presença de numerosos canais laterais, tanto na raiz como na furca.

O grande número de pesquisas sobre a permeabilidade dentinária despertou a atenção dos endodontistas, pois a dentina radicular pode alojar microrganismos, em consequência da infecção pulpar.

GROSSMAN (1960) aconselhava aos endodontistas a realização de testes de cultura bacteriológica e a promoção de um alargamento criterioso do canal radicular, a fim de eliminar os microrganismos que poderiam infiltrar nos canalículos dentinários. Para os dentes infectados, aconselhava, ainda, o uso de um poderoso agente desinfetante como solução auxiliar da instrumentação dos canais radiculares.

Outra investigação importante nesta fase da Ciência Dental foi realizada por MARSHALL et al. (1960). Esses autores utilizaram 253 dentes humanos unirradiculares extraídos e estudaram a permeabilidade da dentina radicular por meio de radioisótopos (S35, I131, Na22 e P32), após a instrumentação dos canais radiculares com a utilização de várias soluções irrigantes, tais como: EDTA, soda clorada a 5,25 por cento alternada com água oxigenada a 3 por cento, nitrato de prata amoniacal, solução de ácido sulfúrico neutralizado com bicarbonato de sódio, água oxigenada a 3 por cento , soda clorada a 5,25 por cento, eugenol e água como controle. Para avaliar o maior ou menor grau de penetração dos radioisótopos nos canalículos dentinários, os autores propuseram um método de quantificação: O Índice de Permeabilidade Dentinária-(IPD). Para calcular esse índice, os autores faziam o seguinte: após obtida a autorradiografia de cada hemissecçao, dividia-se a imagem da raiz do dente em trás terços: cervical, médio e apical. Cada uma dessas áreas era subdividida em trás partes, tanto no sentido longitudinal como no sentido transversal. A profundidade da penetração foi quantificada observando-se a penetração do radioisótopo ao longo dos canalículos dentinários, indo da parede do canal ate o cemento. A penetração foi quantificada em 1,2 e 3, de acordo com o número de terços atingidos. A extensão da penetração no sentido cérvico-apical foi quantificada do mesmo modo. Assim, cada área da raiz (cervical, média e apical) era dividida em nove quadrados. O índice da Permeabilidade Dentinária foi determinado para cada área da raiz pela multiplicação da média da profundidade pela média da extensão. O mesmo resultado pode ser obtido, também, pela contagem do numero de quadrados envolvidos em cada área. Com base nesse experimento, os autores tiraram as seguintes conclusões: 1 - As áreas cervical e média da dentina radicular apresentaram-se permeáveis a todos os isótopos testados, entretanto, a dentina da área apical da raiz apresentou-se muito pouco permeável. 2 - O alargamento mecânico do canal apresentou pouco efeito sobre a permeabilidade dentinária. 3 - O ácido sulfúrico usado isoladamente ou com o bicarbonato de sódio reduziu a permeabilidade da dentina aos isótopos, especialmente ao S35,em todas as áreas. 4 - A água oxigenada e a soda clorada usadas alternadamente proporcionaram um aumento significante na permeabilidade dentinária. A água oxigenada e a soda clorada usadas isoladamente também aumentaram a permeabilidade, mas em menor intensidade do que quando utilizadas de modo alternado. 5 - O nitrato de prata produziu um aumento acentuado na permeabilidade. 6 - As soluções de EDTA, eugenol e bicarbonato de sódio diminuíram a permeabilidade da dentina aos radioisótopos. 7- O S35 foi o isótopo mais eficiente nesse estudo.

O Índice de Permeabilidade Dentinária proposto por MARSHALL et al. (1960) foi a primeira tentativa no sentido de quantificar a permeabilidade dentinária radicular.

Para investigar a possibilidade de os canais laterais serem responsáveis pelas lesões laterais no osso alveolar, NICHOLLS (1963) realizou uma pesquisa onde a presença da lesão radicular lateral associada a um canal lateral foi estudada, desde que se apresentasse os seguintes requisitos: a polpa da raiz em questão não estava vital; não havia evidência clínica e radiográfica de fratura ou perfuração da raiz; e, finalmente, a radiografia deveria mostrar uma zona definida de destruição do osso alveolar ao lado da raiz. O autor realizou a terapia endodôntica em 533 canais, sendo que 228 apresentavam-se com polpas desvitalizadas, o que envolvia, nessa situação, 221 dentes com lesões apicais e ou laterais. Todos os canais receberam tratamentos endodônticos não cirúrgicos e foram radiografados antes, durante e após as obturações dos canais. Os casos foram reexaminados clínica e radiograficamente em intervalos regulares, por um período que variou de 6 meses a 4 anos. O desaparecimento da lesão lateral indicava, para o autor, a presença de canal lateral. Com base nessa investigação, o autor concluiu que 4,4 por cento dos dentes tratados apresentaram canais laterais.

Procurando investigar a interrelação da polpa com a doença periodontal, SELTZER et al. (1963) examinaram, histologicamente, 86 dentes humanos com lesões periodontais. Foram realizados os exames clínicos antes da extração dos dentes. Os achados histológicos revelaram a presença de muitos canais laterais, acessórios e foraminas, especialmente nas regiões da bifurcação e trifurcação dos molares. Atrofias pulpares foram encontradas em 27 por cento, polpa inflamada em 49 por cento e necrose total em 18 por cento dos casos examinados. Apenas 6 por cento das polpas dos dentes envolvidos com lesões periodontais estavam normais. Para os autores, esses achados parecem indicativos de que as lesões periodontais produzem efeitos degenerativos sobre as polpas dos dentes envolvidos.

ANDERSON & RONNING (1964) realizaram um estudo onde demonstraram que a dentina submetida ao corte por instrumentos rotatórios apresentava-se menos permeável aos corantes do que a dentina submetida à fratura. Atribuiu-se essa diferença a presença de ‘débris" formados durante o corte da dentina pelos instrumentos rotatórios.

HAMPSON & ATKINSON (1964) estudaram a permeabilidade da dentina radicular em dentes humanos extraídos que foram submetidos a instrumentação e irrigação com o uso de várias soluções irrigantes. Para identificar o grau de permeabilidade dentinária, os autores utilizaram soluções radioativas de enxofre e iodo e, para quantificá-la, empregaram o índice proposto por MARSHALL et al. (1960). Os resultados obtidos, neste trabalho, confirmaram os achados de WACH et al. (1955) e MARSHALL et al. (1960), em relação à permeabilidade dos terços das raízes. Das soluções irrigantes estudadas, o Citrimide e a Clorhexidina apresentaram-se mais efetivas em aumentar a permeabilidade da dentina radicular, quando comparadas com a Cloramina, EDTA, Nitrato de prata amoniacal, eugenol e o tricresol.

Neste mesmo ano, GOING (1964) observou que, ao se remover a camada de esmalte, os canalículos dentinários são expostos, possibilitando a penetração de fluidos da cavidade bucal. Isso pode ocorrer tanto com uma solução corante de violeta-de-genciana, que e uma solução cujas moléculas medem 12 Angströms, quanto com uma solução de radioisótopo, cuja constituição iônica mobiliza partículas que medem 4,32 Angströms, portanto, proporcionalmente muito menores. Embora tanto um tipo de partículas como o outro possa penetrar pelos canaliculos dentinários livremente abertos, a aplicação do material restaurador tende a modificar o comportamento desses dois tipos de solução, dificultando as suas penetrações, sendo que as suas eficiências variam em função do material restaurador utilizado. O autor verificou que o emprego de vernizes forradores, visando a impermeabilizar ainda mais o tecido dentinário à penetração desses elementos, não conseguiu esse objetivo de modo efetivo, tanto para o corante como para o radioisótopo.

Ainda em 1964, SHOVELTON conduziu uma pesquisa que até hoje á considerada de grande valor. Ele verificou a presença de microrganismos nos canalículos dentinários e informou que os resultados de sua investigação evidenciaram duas condições diferentes. Numa lesão infecciosa aguda, os microrganismos não estavam presentes nos canalículos, enquanto que, numa infecção crônica, eles estavam presentes. Esses dados constituíram subsídios importantes para a conduta clínica de tratamento. Ele observou, ainda, que a distribuição de microrganismos na dentina dos canais radiculares, que tinham configuração achatada, apresentava-se de forma polar, o que provavelmente indicava maior permeabilidade da dentina dessa área.

MOSS (1965) investigou o assoalho da câmara pulpar dos dentes decíduos, as alterações histológicas encontradas na bifurcação e a hipótese de que os materiais necróticos possam sair da câmara pulpar através do assoalho e atingir a região interradicular. Para essa pesquisa, o autor selecionou, de um total de 423 dentes decíduos examinados em pacientes, apenas 56 que apresentavam as seguintes características exigidas: mais da metade das estruturas das raízes estavam presentes e rarefação na área entre as raízes. O trabalho foi dividido em duas partes. Na primeira, verificou-se que o assoalho da câmara pulpar de um dente infectado era mais permeável que o de um dente sadio. Na segunda, pesquisou-se os tecidos do assoalho da câmara pulpar dos dentes infectados comparativamente com os tecidos dos dentes não infectados. Para o estudo de permeabilidade dentinária, o autor utilizou o azul de metileno. O grau de penetração foi baseado no tempo decorrido entre a colocação do corante na câmara pulpar até o seu aparecimento no lado externo da furca. Com base nessa metodologia, o autor concluiu que o assoalho da câmara pulpar de um dente infectado apresentava—se mais permeável ao corante do que nos casos de dentes sem infecção. O estudo histológico evidenciou que, de todos os dentes analisados, 20 por cento apresentavam canais laterais ligando o assoalho da câmara pulpar a bifurcação.

Na tentativa de esclarecer dúvidas quanto a permeabilidade do esmalte e da dentina fresca e coagulada, ARWILL et al. (1965) levaram a efeito uma pesquisa bastante original. Eles utilizaram 16 pares de pré-molares humanos intactos, extraídos por razões ortodônticas. Após a extração, um dente de cada par foi fervido com solução de Ringer durante 5 minutos, para coagular as substâncias orgânicas. A parte apical das raízes foi cortada e a parte remanescente foi recoberta com cera, de modo a formar um funil. A parte da coroa foi submersa em um reagente contendo solução de Ringer com volume conhecido. Com uma pipeta, foi colocada na câmara pulpar uma solução saturada de NaCl com Na22. Em intervalos de tempos, eram colhidas amostras da solução de Ringer e analisado o teor de Na22. Na segunda parte do experimento, os outros dentes foram tratados de modo similar aos dentes do primeiro grupo, com exceção do aquecimento. Os resultados evidenciaram que a coagulação dos tecidos orgânicos promovia uma redução efetiva na permeabilidade dentinária.

As dúvidas estão sempre presentes no meio científico e, graças a elas, os desafios são aceitos. Na década de 60, uma pergunta era marcante: pode uma polpa inflamada ou necrótica produzir uma lesão periodontal pela passagem de produtos inflamatórios ou degenerativos através de canais laterais ?

Para responder esta dúvida, SELTZER et al. (1967) induziram pulpites em dentes vitais posteriores de cães e macacos sem bolsas periodontais. Esses animais foram sacrificados após uma semana, um mês e três meses. Os estudos histológicos evidenciaram alterações dos tecidos interradiculares em 21 dos 100 dentes examinados. Os achados histológicos confirmaram, para os autores, a hipótese de que as lesões periodontais interradiculares podem ser iniciadas pela polpa inflamada ou necrótica. A extensão das lesões inflamatórias da polpa para a região interradicular, aparentemente, ocorria através de canais laterais situados na furca dos molares e pré-molares.

SMITH & VINCENSO (1968) propuseram uma nova técnica para estudar a permeabilidade dentinária, com a possibilidade de manter os dentes com as mesmas condições do estado vivo. Os dentes extraídos foram colocados imediatamente em meio de cultura, encubados com umidade próxima a 100 por cento, à temperatura de 37 C. Uma solução teste de Na22, I131 e Fe59 foi colocada em uma capa plástica ligada à coroa. Um tubo de látex, em forma de T, foi ligado ao terço apical do dente e servia como um coletor de perfusão. Os autores recomendaram esta técnica para os estudos dos mais variados fatores que podem influenciar na permeabilidade do esmalte e da dentina. Eles observaram que a permeabilidade dos dentes variava com o tipo de isótopo utilizado. O Fe59 não penetrou em nenhum dos dentes testados, por um período de 24 horas.

MJÖR (1969) investigou a ação do hidróxido de cálcio e do cimento de óxido de zinco-eugenol sobre a permeabilidade dentinária. O autor preparou, "in vivo", cavidades classe V nas faces vestibulares e linguais de 22 pré-molares. Em uma das cavidades, ele colocou uma base de hidróxido de cálcio e, na outra, uma base de cimento de óxido de zinco-eugenol. A seguir, essas cavidades foram restauradas com amálgama. Após um período de observação que variou de 14 a 182 dias, os dentes foram extraídos e as restaurações foram cuidadosamente removidas. As superfícies externas dos dentes foram isoladas, com exceção da abertura da cavidade e, a seguir, os dentes foram imersos nas seguintes soluçoes: azul de metileno, P32 e S35. O tempo de ação dessas soluções foi de 48 horas. O autor observou que a base de hidróxido de cálcio permitiu uma maior infiltração do S35 do que a base feita com o cimento óxido de zinco-eugenol.

COSTA (1969), com o objetivo de investigar a ação do ferrocianeto de prata no processo de inibição da atividades dos microrganismos observou não só e sua capacidade bactericida e bacteriostática, mas ainda, a sua capacidade em promover alta impermeabilização da dentina ao corante azul de metileno. O ferocianeto de prata é obtido pela aplicação do ferrocianeto de potássio a 5 por cento, seguida da aplicação do nitrato de prata a 2 por cento sobre a dentina. O autor chamou a atenção para o alto valor da impermeabilização obtida por essa substância.

Com intuito de trabalhar com moléculas tão pequenas como as dos radioisótopos, mas sem nenhum perigo, ROSELINO & MINELLI (1969) efetuaram uma pesquisa em dentes de coelhos e ratos, utilizando um método histoquímico, idealizado por eles, capaz de detectar, localizar e identificar a presença do ácido fosfórico na dentina. Para isso, prepararam cavidades classe V em dentes desses animais, restaurando-as com cimento de silicato, a cujo líqüido adicionavam sulfato de níquel numa proporção tal que não interferisse no processo de consolidação do cimento. Após 24 horas, os dentes eram removidos e seccionados longitudinalmente no sentido vestíbulo-lingual e desgastados com lixas, até que o corte atingisse cerca de 50 micrometros de espessura. Essas secções histológicas eram lavadas em água corrente durante 6 horas para remover dos cortes os resíduos abrasivos da lixa, e então submetidos à ação de uma solução alcoólica de dimetilglioxima. A presença de ácido fosfórico era denunciada por meio aditivo de sulfato de níquel presente no líquido do cimento infiltrado na dentina, pela formação do complexo Ni-dimetilglioxima, de intensa coloração vermelha. Nos controles, selados com cimento de óxido de zinco e eugenol, as reações foram todas negativas.

Ainda em 1969, STEWART et al., aproveitando as características quelantes do EDTA e a propriedade anti-séptica do peróxido de uréia, preconizaram uma nova solução auxiliar de instrumentação com a consistência de um creme. Eles a identificaram comercialmente com o nome de RC-PREP e testaram, "in vivo", o efeito antimicrobiano desse produto e, "in vitro", a sua capacidade em aumentar a permeabilidade dentinária, concluindo: o EDTA, associado ao peróxido de uréia, foi efetivo na limpeza dos canais radiculares e promoveu aumento significativo na permeabilidade dentinária.

A seguir, COHEN et al. (1970) compararam, "in vitro", a eficiência de várias soluções irrigantes em promover ação sobre a permeabilidade dentinária radicular. Eles testaram o hipoclorito de sódio a 5 por cento, hipoclorito de sódio a 3 por cento, peróxido de uréia em glicerina anidra associada ao hipoclorito de sódio a 5,0 por cento, o EDTA com peróxido de uréia (RC-Prep) mais hipoclorito de sódio a 5,0 por cento e Zefirol a 0,1 por cento. Após a instrumentação dos canais radiculares, utilizaram o azul de metileno para detectar a permeabilidade da dentina. A penetração do corante foi calculada pelo índice proposto por MARSHALL et al. (1960). Os resultados obtidos foram os seguintes: ao RC-Prep, associado ao hipoclorito de sódio a 5,0 por cento, promoveu um aumento acentuado da permeabilidade nos três terços dos canais radiculares.

SHIN et al. (1970) evidenciaram que a população de bactérias no interior do canal radicular pode ser altamente reduzida com a irrigação de hipoclorito de sódio a 5,25 por cento, porém não afirmaram que esse tratamento dava condições de esterilizar os canais. Tanto assim que reforçaram a proposta de GROSSMAN (1960), aconselhando a utilização de medicação intracanal, a fim de controlar a população microbiana reduzida pela ação do hipoclorito de sódio.

MJÖR (1972) publicou um artigo sobre a dentina coronaria humana, onde relatou que a unidade estrutural desse tecido inclui as matrizes intercanaliculares e pericanaliculares, que são mineralizadas, e os conteúdos dos canalículos, que compreendem o tecido mole, ou seja, o processo odontoblástico e o espaço periodontoblástico. A pré-dentina não á mineralizada e limita a dentina da polpa. A distribuição normal dessas unidades depende do estágio de desenvolvimento do dente. O autor citou, ainda, que um aumento na mineralização da dentina humana e relatado como uma mudança dependente da idade, carie, atrição, e da aplicação de certos materiais. A posição e a extensão das áreas que exibem aumento de mineralização variam, marcadamente, sob diferentes condições. O aumento da mineralização da dentina pode reduzir sua permeabilidade. Para esse investigador, a dentina secundária irregular, também conhecida como dentina reparadora ou dentina terciária, á uma reação típica que pode ocorrer sob uma gama de condições. O aumento da dentina á importante biologicamente, mas deve-se ter em mente que a dentina secundária irregular pode conter mais material orgânico e ser menos mineralizada do que a dentina primária.

BRÄLNNSTRÖM & GARBEROGLIO (1972), por meio da microscopia eletrônica de varredura, estudaram os canalículos dentinários e os prolongamentos dos odontoblastos da dentina de pré-molares humanos. Os dentes foram fraturados com o objetivo de deixar os canalículos abertos. Os canalículos eram examinados desde a parte de contacto com a polpa até a junção dentina-esmalte. Eles observaram que os prolongamentos odontoblásticos não preenchiam todo o comprimento dos canalículos, mas apenas um quarto de seu comprimento total.

A área da bifurcaçao sempre preocupou os pesquisadores, pois a sua exposição constitui um dos problemas mais sérios da Periodontia. Assim, VERTUCCI et al. (1974) investigaram a presença de canais laterais que podem ligar o assoalho da câmara pulpar à parte externa da furca. Eles utilizaram 100 molares inferiores humanos extraídos. Após a descalcificação dos dentes, injetaram hematoxilina na cavidade pulpar e, a seguir, diafanizaram-os. Esses autores observaram a presença de canais laterais, partindo do assoalho da câmara até a parte externa da furca, em 13 por cento dos dentes.

As pesquisas sobre as porcentagens de canais laterais encontrados, ligando o assoalho da câmara pulperio ao penodonto, são discordantes e isso pode ser devido à anatomia própria de cada dente e, também, as metodologias empregadas.

BURCH & HULEN (1974) tiveram suas atenções voltadas para a área da furca dos molares humanos e investigaram essa região em 190 dentes desse tipo, sendo 95 superiores e 95 inferiores. Eles examinaram todas as furcas desses dentes com auxílio de uma lupa e detectaram a presença de várias foraminas nessa região. Esses autores relataram a presença de foraminas na furca em 76 por cento dos dentes examinados, o que deu uma média de 2,14 foraminas para os molares inferiores, e de 2,50 para os molares superiores. Neste trabalho, eles também observaram a presença da ponte intermediária na furca, confirmando os achados de EVERETT et al. (1958).

Por meio da microscopia eletrônica de varredura, KOENIGS et al. (1974) investigaram a área da furca dos molares humanos. Os autores selecionaram 15 dentes, sendo 8 primeiros ou segundos molares inferiores e 7 primeiros ou segundos molares superiores. Eles observaram a presença de um maior número de canais laterais e, com maior diâmetro, na furca dos molares superiores do que nos molares inferiores. Esses achados comprovaram o trabalho de BURCH & HULEN (1974).

O estudo sobre a permeabilidade dentinária da área da furca dos dentes primários despertou o interesse de duas odontopediatras, MACCHETTI & CAMPOS (1975). Elas pesquisaram a permeabilidade dentinária dessa área em 160 molares humanos primários. Após as extrações, os dentes foram preparados de forma a remover a polpa ou tecidos decompostos. As câmaras pulpares receberam os seguintes medicamentos: cimento óxido de zinco-eugenol, formocresol, tricresol e formol a 10 por cento. Esses medicamentos foram aplicados isolados e, também, associados. O grupo controle não recebeu nenhuma medicação. Após decorrido o tempo padronizado, os materiais foram removidos e, a seguir, os dentes foram imersos em solução de iodo radioativo por 24 horas. Findo esse tempo, realizaram-se autorradiografias que, após analisadas, possibilitaram as seguintes conclusões: 1 - o grau de permeabilidade da dentina, na área da bifurcação das raízes dos molares decíduos foi em torno de 58 por cento; 2- essa permeabilidade foi bastante aumentada pelo formol a 10 por cento, pelo tricresol e pelo formocresol; 3- a pasta de óxido de zinco-eugenol mais formocresol aumentava a permeabilidade da dentina, apenas nas primeiras horas; 4 - o cimento óxido de zinco-eugenol diminuiu sensivelmente a permeabilidade da dentina.

DE DEUS (1975) apresentou um excelente trabalho sobre anatomia interna dos canais radiculares, por meio da descalcificação e diafanização dos dentes com posterior injeção de gelatina colorida. Ele estudou 1140 dentes permanentes humanos, detectando a presença de canais laterais, acessórios e secundários em 27,4 por cento dos casos. Na área da bifurcação e da trifurcação dos dentes posteriores, encontrou apenas 2,3 por cento com canais laterais emergindo do canal principal. Ele não encontrou nenhum canal lateral que colocava em comunicação a câmara pulpar com a área externa da furca.

OUTHWAITE et al. (1976) realizaram uma pesquisa para analisar os efeitos das alterações na superfície, espessura, temperatura e tempo decorrido após a extração sobre a permeabilidade da dentina humana. Os autores prepararam discos de dentina humana de dentes terceiros molares inclusos recém extraídos. Esses discos tinham espessuras determinadas e, estavam livres de esmalte, e foram colocados em uma câmara dupla. O iodeto radioativo era colocado em um lado do disco e a quantidade que penetrava para o outro lado era coletada e calculada. Com base nos resultados obtidos, os autores concluíram: 1 - dobrando a área, dobrava a quantidade de iodeto que passava pela dentina, na unidade de tempo; 2 - a redução da espessura do disco de dentina produzia um aumento na permeabilidade dentinária; 3 - o aumento de temperatura em 10 graus centígrados dobrava a permeabilidade da dentina ao iodo radioativo; 4 - o tempo decorrido após a extração do dente tinha pouco efeito sobre a permeabilidade da dentina, "in vitro".

Mais uma vez, por meio da microscopia eletrônica de varredura, GARBEROGLIO & BRANNSTRÖM (1976) analisaram os canaliculos dentinários humanos. Eles fraturaram a dentina coronária de 30 dentes intactos, de faixas etárias diferentes, e examinaram as várias distâncias em relação à polpa. Próximo da polpa, encontraram um numero de canalículos dentinários estimados em 45.000 por milímetro quadrado e com diâmetro médio de 2,5 micrometros. No meio da dentina, observaram a presença de 29.500 canalículos dentinários por milímetro quadrado com diâmetro de 1,2 micrometro. Na parte penifánica da dentina, ou seja, próximo a junção amelodentinária, encontraram um número de 20.000 canalículos por milímetro quadrado, com diâmetro de 0,9 micrometro. Os diâmetros dos canalículos aumentavam, consideravelmente, quando a superfície dentinária era descalcificada, em virtude da remoção da dentina pericanalicular. Os prolongamentos odontoblásticos eram vistos nos canalículos bem próximos à polpa. A localização dos prolongamentos confirmaram seus próprios achados (BRÄNNSTRÖM & GARBEROGLIO, 1972).

ROBAZZA & ANTONIAZZI (1976) analisaram o índice de permeabilidade dentinária promovido pelo uso das seguintes soluções auxiliares da instrumentação dos canais radiculares: EDTA, Água oxigenada a 10 volumes e Tergentol. A permeabilidade dentinária radicular foi evidenciada por uma solução de azul de metileno a 0,5 por cento, durante um período de 24 horas. A quantificação da permeabilidade foi realizada pelas duas formas propostas por MARSHALL et al. (1960). Com base nesses experimentos, os autores concluíram que existem diferenças estatísticas na obtenção do índice da permeabilidade dentinária pelas formas proposta por MARSHALL et al. (1960) e que a zona apical dos canais radiculares á menos permeável ao corante azul de metileno.

O avanço tecnológico possibilitou a utilização do ultra-som como meio coadjuvante à terapia endodôntica e MARTIN (1976) verificou a efetividade da energia ultra-sônica no aumento do poder bactericida de algumas soluções irrigantes. O autor enfatizou que o uso do uitra-som, sem solução irrigante, com ação bactericida, teve efeito redutor sobre os microrganismos e, quando associado a uma solução irrigante bactericida, levou a um eficiente sinergismo.

HESSION (1977) observou a morfologia interna de 164 dentes humanos extraídos por meio da análise radiográfica, após a injeção de um agente radiopaco no sistema de canais radiculares, e observou a baixa incidência de canais laterais na furca dos dentes posteriores.

MOURA et al. (1978) realizaram um estudo sobre a ação do creme Endo PTC neutralizado pelo líqüido de Dakin, seguido de irrigação final com a associação Tergentol-Furacim, na permeabilidade da dentina radicular. Esse estudo foi realizado "in vitro" e "in vivo". A pesquisa in vivo foi realizada do seguinte modo: os dentes foram preparados endodonticamente, na clínica, com o uso das soluções irrigantes citadas. Os canais foram preenchidos com uma solução de azul de metileno a 2 por cento durante 15 minutos e, a seguir, os dentes foram extraídos e, após decorrido o tempo igual ao do grupo "in vitro", ou seja, 24 horas, eles foram lavados e seccionados. As hemisecções obtidas foram fotografadas em filmes coloridos e, sobre elas, realizou-se o cálculo do índice de permeabilidade, segundo MARSHALL et al. (1960). Os autores chegaram as seguintes conclusões: 1 - não havia diferença estatística significante na permeabilidade dentinária ao azul de metileno, quando comparava-se o estudo "in vitro" com o estudo "in vivo". 2- O estudo "in vitro", apresentou uma maior homogeneidade entre as três regiões (cervical, média e apical), enquanto que no estudo "in vivo" constatou-se diferença estatística entre as regiões cervical, média e apical. 3 - A zona apical foi a menos permeavel ao azul de metileno.

GUTMANN (1978), com o propósito de determinar a prevalência e a localização dos canais acessórios na região da furca, pesquisou 51 molares com estruturas intactas. O corante safranin foi introduzido na câmara pulpar dos dentes e foi aplicado vácuo à superfície externa das raízes por 15 minutos. O corante, após atravessar os canais acessórios, fazia-se visível na área externa da furca. O autor encontrou 15,5 por cento dos molares inferiores com canais acessórios na furca e 23,5 por cento destes canais nos molares superiores. A grande quantidade de canais acessórios encontrada na furca dos molares examinados levou o autor a acreditar que a comunicação da câmara pulpar coronária com a superfície externa do dente fazia-se por essa via e não pelos canalículos dentinários, quando o cemento estiver presente.

PASHLEY & LIVINGSTON (1978) avaliaram o efeito dos tamanhos das moléculas na taxa de penetração na dentina. Discos de dentina foram preparados de acordo com a metodologia apresentada por OUTHWAITE et al. (1976). As substâncias testadas foram a água, uréia, fluoreto de sódio, lidocaína, glicose, sucrose, dextran, polivenilpirolidona e albumina. Os autores concluíram que um aumento de 19 vezes no tamanho da molécula (1,9 Angström para a água e 37 Angströms para a albumina) revelou uma diminuição de 100 vezes no coeficiente de permeabilidade dentinária. Eles também observaram que a aplicação de um ataque ácido sobre a dentina promovia um aumento da permeabilidade a essas soluções. Esse fato reforça a idéia de que a permeabilidade é determinada, em parte, pela natureza da superfície da dentina.

Alguns meses depois PASHLEY et al. (1978), com a metodologia do trabalho anterior, analisaram os fatores que influenciam na resistência ao fluxo de líqüidos através da dentina, observando os seguintes aspectos: 1 - Resistência de superfície devido à presença de "débris" que podem ocluir os canalículos dentinários; 2 - Resistência intracanalicular devido à mineralização e irregularidades no interior dos canalículos; 3 - Resistência pulpar devido à presença dos prolongamentos odontoblásticos e corpos celulares no interior dos canalículos. Com base nos resultados obtidos, os autores observaram que a magnitude de resistência ao fluxo de líqüidos através da dentina á dependente da presença ou ausência do tecido pulpar, da presença ou ausência de "débris" na superfície dos canalículos e, também, do grau de oclusão dos canalículos. A resistência de superfície, ou seja, aquela ocasionada pela presença de "débris" que ocluem os canalículos dentinários, foi responsável por uma alta resistência ao movimento de fluidos, o que representa cerca de 86 por cento da resistência total.

Continuando as investigações sobre os fatores que interferem na permeabilidade da dentina humana, PASHLEY et al. (1978) concentraram seus esforços para analisar o efeito do grau de oclusão dos canalículos dentinários. Eles utilizaram, para essa investigação, os radioisótopos tritium (3H2O ) e a albumina marcada com I131 e calcularam a difusão dessas substâncias através de um disco de dentina, com e sem aplicação de ataque acido (ácido cítrico a 50 por cento por dois minutos). Os autores concluíram que a obstrução dos canalículos dentinários por uma camada de pó de dentina ("smear-layer"), resultante do corte desse tecido com broca, diminui o fluxo das soluções radioativas através da dentina. A aplicação de ácido cítrico desobstruiu os canalículos, favorecendo a penetração das soluções testadas através da dentina. Esses achados confirmaram o trabalho anterior.

Um ano mais tarde, PASHLEY (1979) apresentou uma nova técnica com o objetivo de verificar a influência da permeabilidade dentinária e do fluxo sangüíneo pulpar na concentração de soluto. Para essa pesquisa, o autor preparou dentes de cães, reduzindo a espessura da dentina coronária até aparecer a cor avermelhada da polpa. A espessura da dentina assim preparada ficou entre 0,7 a 1,0 milímetro. Desgastou-se, do mesmo modo, a superfície vestibular e lingual da coroa dental. Após o desgaste, submeteu a dentina ao ácido cítrico a 30 por cento durante dois minutos. Câmaras cônicas foram cimentadas nas superfícies desgastadas, sendo que a câmara vestibular era preenchida com I131 e a lingual, com solução salina. Amostras do sangue dos cães foram coletadas da artéria femural a cada 15 minutos e a taxa de I131 era analisada. Após quatro horas de observações, a circulação pulpar era interrompida pela morte do cão. Uma vez cessada a circulação pulpar, o autor observou um aumento acentuado de I131 na câmara da superfície lingual. Esse achado mostrou que a perfusão da câmara lingual pode ser utilizada para detectar mudanças na concentração de radioisótopo no fluido intersticial da polpa. O autor acredita ser possível identificar a relação entre as taxas de soluções que atravessam a dentina e as taxas que são removidas da polpa pela sua microcirculação. Normalmente, diz o autor, em polpa sã, a microcirculação pulpar á suficiente para a remoção de substâncias que penetram no fluido intersticial da polpa via canalículos dentinários. Essa dinâmica tende a manter a concentração dos fluidos intersticiais da polpa em baixos níveis. Qualquer situação que produza uma redução substancial do fluxo sangüíneo pulpar permite o acumulo de substâncias que atravessam a dentina exposta.

WHITTAKER & KNEALE (1979) elaboraram uma pesquisa com o intuito de investigar, em dentes humanos, a interface dentina pré-dentina. Para realizar esse desafio, eles utilizaram o microscópico eletrônico de varredura. Selecionaram 40 dentes humanos permanentes com pouca ou nenhuma cárie, extraídos de 32 pacientes e tomaram o cuidado de anotar a idade, sexo e motivo da extração. Após análise das microfotografias, os autores observaram que um maior número de canalículos dentinários era encontrado na porção coronária da câmara pulpar e esse numero era reduzido, paulatinamente, ao longo do comprimento do canal radicular, com uma diminuição acentuada na zona apical. A relação entre a idade dos pacientes com os números de canaliculos dentinários não forneceu dados conclusivos. Os resultados foram significantes quando comparou-se a idade dos pacientes com o número de canalículos da porção coronária da câmara pulpar e o numero de canalículos da porção apical. Com o aumento da idade, observou-se uma redução do número de canalículos dentinários na zona apical. Eles observaram, ainda, a presença de calcosferitos na junção dentina/pré-dentina, com variações tanto em tamanho como em contorno. A forma dos calcosferitos, em dentes mais jovens, apresentava-se mais consistente do que em dentes mais velhos (BRÄNNSTRÖN, 1976).

MICHELICH et al. (1980) investigaram, "in vitro", a penetração de bactérias streptococcus mutans na dentina humana. A metodologia utilizada para esse trabalho foi similar a adotada por OUTHWAITE et al. (1976). Os autores observaram que as bactérias penetravam nos canalículos dentinários quando a dentina foi submetida ao ataque ácido, mas não foram capazes de penetrar em discos de dentina que não sofriam o ataque do ácido. Eles observaram que a pressão hidrostática de 240 cm de Hg era capaz de empurrar bactérias para o interior dos canalículos dentinários. Os pesquisadores chamaram a atenção para esse fato, pois a pressão durante o ato mastigatório á muito maior.

BOYER & SVARE (1981) investigaram o efeito produzido por instrumentos rotatórios sobre a permeabilidade da dentina. Eles cortaram a dentina com brocas de aço carbide e de diamante e verificaram que esse tecido sofria redução em sua permeabilidade, independentemente do tipo de brocas utilizadas.

FRÓIS et alli (1981) propuseram um novo método de avaliação da permeabilidade dentinária que analisa volumetricamente a penetração do azul de metileno na dentina do canal radicular. Nesse estudo, foram realizados cortes transversais de milímetro em milímetro em toda a extensão do canal radicular, a fim de se obter cones truncados que permitissem estabelecer a porcentagem de volume da dentina corada. Os autores concluíram que esse método proporcionava dados mais confiáveis que os métodos de MARSHALL et al. (1960).

PASHLEY et al. (1981) estudaram o efeito da remoção do "smear-layer" sobre a permeabilidade dentinária. Essa camada foi removida com ataque de ácido cítrico a 6 por cento por tempos que variavam entre 5 a 60 segundos. Com base nos resultados obtidos, eles concluíram que a aplicação de ácido cítrico por cinco segundos removia muito dessa camada, mas a permeabilidade dentinária aumentava, ao máximo, após a aplicação do ácido por 15 segundos. Os resultados dessa pesquisa comprovaram os achados de BOYER & SVARE (1981).

PERLICH et al. (1981) investigaram, por meio do microscópio eletrônico de varredura, o assoalho da câmara pulpar de dentes molares humanos extraídos, sendo 31 superiores e 31 inferiores. Os forames observados nos assoalhos das câmaras pulpares apresentavam diâmetros que variavam de 7 até 37 micrometros. Dos dentes analisados, apenas 8 por cento apresentavam foraminas no assoalho da câmara pulpar.

Novamente, ROBAZZA et al. (1981) investigaram, "in vitro", as possíveis variações da permeabilidade da dentina radicular em dentes humanos extraídos, frente às diversas soluções auxiliares usadas na instrumentação do canal radicular. O corante azul de metileno foi utilizado para revelar a permeabilidade dentinária, e sua quantificação foi obtida pelo método de MARSHALL et al.. (1960). Esses autores concluíram que a zona apical do canal radicular era menos permeável ao corante.

MOORER & WESSELINK (1982), estudando os fatores que influenciam a capacidade da solução de hipoclorito de sódio em dissolver tecido orgânico, constataram que o princípio ativo dessa solução depende das moléculas de ácido hipocloroso presentes (HOC1). Esse ácido á consumido na sua interação com a matéria orgânica. Com base nas observações realizadas, os autores concluíram que o poder da solução de hipoclorito de sódio em dissolver tecido orgânico era fortemente dependente dos seguintes fatores: 1 - quantidades de matéria orgânica e hipoclorito presentes; 2- freqüência e intensidade do fluxo de hipoclorito pelo tecido e 3 - superfície de contato entre o tecido e a solução de hipoclorito.

PASHLEY et al. (1982) investigaram, in vitro", a influência do plasma, dos constituintes salivares e das bactérias sobre a permeabilidade da dentina. O método utilizado nesse estudo foi o mesmo empregado nos trabalhos anteriores desses autores. Pelos resultados obtidos, ficou claro que o plasma, os constituintes salivares e as bactérias são capazes de promover uma efetiva redução na permeabilidade da dentina. Os autores chamam a atenção para o fato de que esses resultados podem explicar o mecanismo espontâneo, observado pelos clínicos, de diminuição da sensibilidade da dentina após as terapias periodontais.

Com o desenvolvimento da técnica de instrumentação por meio do ultra-som, inúmeros trabalhos foram desenvolvidos para estudar a ação dessa nova técnica na capacidade de limpeza dos canais radiculares. Assim, CUNNINGHAM & MARTIN (1982) compararam, por meio da microscopia eletrônica de varredura, a limpeza da superfície do canal radicular pelo método convencional e pela instrumentação ultra-sônica - Endosonic. A pesquisa foi realizada em dentes humanos extraídos e os autores concluíram que o nível apical e médio dos canais radiculares instrumentados pelo ultra-som apresentaram-se mais limpos, em todos os casos, quando comparados com os canais instrumentados pelo método convencional.

WATANABE (1983) analisou, por meio de microscópio eletrônico de varredura, a superfície da câmara pulpar do primeiro molar inferior permanente humano e evidenciou a presença de grande quantidade de formações globulares. Essas formações mostravam várias elevações com a presença de numerosos orifícios canaliculares, com diâmetros variando de 0,8 a 1,7 micrometros. Essas formações globulares correspondem aos calcosferitos observados por WHITTAKER & KNEALE (1979).

PASHLEY et al. (1983) investigaram, "in vitro", o efeito do preparo cavitário na permeabilidade dentinária. Como conclusão, eles observaram que ocorria uma grande redução na permeabilidade da dentina após o preparo cavitário, desde que não se utilizasse o ataque ácido. Esses achados estão de acordo com os de BOYER & SVARE (1981) e PASHLEY et al. (1981).

Continuando as investigações sobre a permeabilidade da dentina, PASHLEY et al. (1983) pesquisaram o efeito da temperatura na condutividade hidráulica desse tecido. Eles verificaram as alterações com temperaturas de 10,20,30 e 50 graus centígrados em dentina com e sem a aplicação de ataque ácido. O aumento da temperatura de 10 até 50 graus centígrados proporcionou, em dentes sem ataque ácido, um aumento de 1,8 vezes na penetração de fluido através da dentina. O ataque ácido proporcionou, com as mesmas variações de temperatura, um aumento de 4 vezes na permeabilidade dentinária.

Na tentativa de elucidar a permeabilidade radicular dos molares primários humanos, BENGSTSON et al. (1983) realizaram uma investigação, "in vitro", onde testaram os efeitos dos medicamentos Tnicresol Formalina, ENDO-PTC neutralizado com líquido de Dakin e a água destilada sobre a permeabilidade dentinária desses dentes. A detecção da permeabilidade foi realizada por meio do azul de metileno e a quantificação foi realizada pelo método de MARSHALL et al. (1960). Esses autores concluíram que o ENDO-PTC promoveu aumento na permeabilidade dentinária radicular nos dentes testados.

Como a via de penetração de líqüidos através da dentina á pelos canaliculos dentinários, fica marcante o interesse em se conhecer a quantidade de canalículos por unidade de área, bem como a sua distribuição ao longo do dente e, ainda, se o envelhecimento determina mudanças na estrutura da dentina. Assim, CARRIGAN et al. (1984) realizaram um estudo, com auxílio do microscópio eletrônico de varredura, em dentes humanos permanentes extraídos de pacientes nas seguintes faixas etárias: 20 a 34, 35 a 44, 45 a 54, 55 a 79 e acima de 80 anos. Após analisarem a dentina da cavidade pulpar, eles concluíram que o numero de canalículos da região cervical e média do dente á praticamente a mesma e diminui, acentuadamente, na região apical. Esses números diminuem, também, com o aumento da idade. Esses achados comprovaram os de WHITTAKER & KNEALE (1979).

PÉCORA (1985) estudou a permeabilidade da dentina radicular em caninos humanos após a instrumentação manual dos canais radiculares com o uso de diversas soluções irrigantes, tais como: Líquido de Dakin, Solução de Milton, Soda Clorada, Soda Clorada alternada com Âgua-Oxigenada, EDTA, RC-PREP mais Soda Clorada, Tergentol-Furacin, ENDO-PTC neutralizado com líqüido de Dakin e água como controle. A permeabilidade da dentina radicular foi estudada por meio de cortes transversais, com a adoção de um método histoquímico proposto por ROSELINO (1983). A quantificação dos níveis de permeabilidade foi realizada por meio de análise morfométrica. Com base nos resultados, concluiu-se que as soluções halogenadas e a de EDTA foram as que mais aumentaram a permeabilidade da dentina radicular.

Também com a adoção de método histoquímico, MAIA CAMPOS (1985) estudou a penetração do ácido fosfórico dos cimentos de Silicato e Fosfato de Zinco na dentina dos dentes de cães "in vivo". O autor constatou a infiltração do ácido fosfórico pelos canalículos dentinários, que foram cortados durante o preparo cavitário e observou, ainda, que a reação histoquímica de complexação níquel-dimetilglioxima mostrava um colorido mais intenso no angulo cérvico-axial da cavidade V.

Em 1986, PASHLEY et al. investigaram a efetividade do hidróxido de cálcio em reduzir a permeabilidade dentinária. Para esse intento, eles utilizaram discos de dentina com um milímetro de espessura, obtidos de molares humanos inclusos extraídos, de acordo com a metodologia preconizada por essa equipe de pesquisadores. Observaram que uma camada de "smear" sobre a superfície da dentina do disco reduzia a permeabilidade desse tecido em 99 por cento, e que a aplicação tópica de uma pasta obtida pela mistura de hidróxido de cálcio e água sobre a superfície da dentina livre de "smear" era capaz de reduzir em muito a permeabilidade da dentina aos líquidos. Assim, demonstraram a efetividade do hidróxido de cálcio em reduzir a permeabilidade dentinária.

COSTA et al. (1986), com base em análise morfométrica e sob microscopia óptica verificaram a capacidade de limpeza dos canais radiculares, determinando o percentual de detritos em relação à área do canal radicular após a irrigação final convencional e a sua realização por meio do ultra-som. Os autores notaram que a irrigação com líqüido de Dakin energizado pelo ultra-som proporcionava melhor limpeza no terço apical dos canais radiculares, quando comparada com a irrigação-aspiração convencional. Com base nessa pesquisa, os autores sugeriram o uso do ultra-som como um coadjuvante na terapia endodôntica.

Como as pesquisas indicavam uma grande eficiência da instrumentação ultra-sônica em promover melhor limpeza dos canais radiculares do que a instrumentação convencional, FELLER et al. (1986) realizaram um estudo comparativo entre essas duas técnicas de instrumentação em relação à permeabilidade da dentina radicular. Utilizaram, para essa investigação, dentes unirradiculares humanos extraídos que, após a instrumentação dos canais radiculares, foram submetidos ao azul de metileno para detectar a permeabilidade dentinária. A intensidade de penetração do corante foi avaliada por meio de um planímetro e, concluíram que a permeabilidade dentinária foi discretamente aumentada pelo emprego do ultra-som.

Ainda em 1986, COSTA et al. realizaram um estudo onde compararam, por meio da microscopia eletrônica de varredura, a limpeza dos canais radiculares após a instrumentação manual e a ultra-sônica. Os resultados obtidos foram marcadamente favoráveis à instrumentação ultra-sônica, principalmente quanto à limpeza do terço apical dos canais.

PASHLEY et al. (1987) investigaram a variabilidade regional na permeabilidade da dentina humana com a metodologia baseada em discos uniformes obtidos de dentes molares inclusos extraídos. Essa pesquisa possibilitou aos autores afirmarem que a permeabilidade na dentina coronária não e uniforme, pois a penetração de fluidos ocorreu com maior intensidade na periferia do que no centro do disco. A região dos cornos pulpares apresentou-se mais permeável que a dentina situada entre eles.

A nosso ver, a permeabilidade regional da dentina humana deve ser mais estudada, pois esses conhecimentos são de grande importância para o clínico durante um preparo cavitário.

Ainda com respeito a presença de canais laterais na área da furca, GOLDBERG et al. (1987) compararam o número de foraminas encontrado no assoalho da câmara pulpar de molares inferiores humanos com o numero de foraminas encontrado na área externa do dente, nessa mesma região. Para essa investigação eles utilizaram o microscópio eletrônico de varredura e examinaram as áreas relatadas de 40 molares ( 20 jovens e 20 adultos). A incidência de foraminas acessórias na área da bifurcação foi muito maior do que a encontrada no assoalho da câmara pulpar (60 por cento e 15 por cento respectivamente). A análise estatística não revelou diferenças entre os grupos etários examinados. Os autores chamaram a atenção para o fato de que a deposição de cemento, na superfície externa da furca, cria um número de irregularidades que podem ser confundidas com foraminas.

ZUOLO et al. (1987) estudaram o efeito do EDTA e suas associações com tensoativos aniônicos e catiônicos na permeabilidade da dentina radicular de incisivos superiores humanos extraídos. Eles utilizaram o método histoquímico de ROSELINO (1983) para detectar a permeabilidade dentinária radicular. A associação mais efetiva em promover aumento da permeabilidade foi a do EDTA com um tensoativo catiônico (EDTAC).

AHMAD et al. (1987), após determinar a amplitude de deslocamento lateral das limas endossônicas, concluíram que a lima de menor calibre proporcionava um melhor fluxo acústico. Com base nesses achados, os autores utilizaram duas técnicas de limpeza do canal radicular: uma proposta pelo fabricante da unidade Cavi-Endo, utilizando hipoclorito de sódio a 2,6 por cento como solução irrigante, e outra por eles modificada, utilizando hipoclorito de sódio a 1,0 por cento e uma irrigação final com a lima 15, a qual tinha apresentado melhor desempenho no deslocamento do fluxo acústico. Os canais radiculares assim instrumentados foram analisados por meio da microscopia eletrônica de varredura, o que evidenciou que a técnica por eles modificada apresentou canais mais limpos. Esses achados estão de acordo com os obtidos por COSTA et al. (1986).

VANSAN (1988), por meio da microscopia óptica e da análise morfométrica, pesquisou a capacidade de limpeza promovida pelo líqüido de Dakin, pela água destilada e pelo Tergentol, quando utilizados como soluções irrigantes de instrumentação de canais radiculares pelo ultra-som. Os dentes utilizados nesse estudo foram incisivos inferiores com um só canal. Os resultados evidenciaram que o líqüido de Dakin energizado pelo ultra-som promoveu canais radiculares com menos detritos que o Tergentol. Observou-se que a água ficou numa posição intermediária que, estatisticamente, poderia ser agrupada tanto com um como com o outro líqüido utilizado no experimento.

SILVA (1988) verificou, "in vitro", a influência da instrumentação ultra-sônica quando comparada com a instrumentação manual na permeabilidade dentinária radicular, trabalhando em pré-molares superiores humanos com raízes fusionadas. Para detectar a permeabilidade, utilizou o método histoquímico de ROSELINO (1983). A análise dos valores obtidos mostrou melhores resultados de permeabilidade nas raízes vestibulares. Não foi encontrada diferença na permeabilidade dentinária com o uso dessas técnicas de instrumentação.

WALKER & del RIO (1989) avaliaram, por meio de cortes histológicos, a planificação das paredes e a quantidade de tecido pulpar remanescente após a instrumentação de canais radiculares. Foram utilizados, nessa pesquisa, 50 dentes molares inferiores humanos recém extraídos. Instrumentou-se apenas uni dos canais de cada raiz mesial, ficando o outro como controle. Cinco técnicas de instrumentação foram utilizadas, tais como: duas técnicas manuais, duas ultra-sônicas e uma sônica. Os achados não evidenciaram qual das técnicas utilizadas foi capaz de promover melhor planificação das paredes dos canais e melhor limpeza.

As pesquisas citadas neste capítulo foram desenvolvidas com objetivos variados, grande parte deles com o interesse maior centrado no problema da permeabilidade da dentina, na influência das soluções irrigantes sobre o grau de permeabilidade da dentina radicular, nos métodos para a identificação e quantificação da permeabilidade da dentina, na histologia desse tecido, nos fatores que determinam maior ou menor penetração de fluidos por esse tecido, nos efeitos da instrumentação ultra-sônica sobre a permeabilidade dentinária, e ainda na anatomia da furca com a presença de canais laterais.



 

PROPOSIÇÃO

De acordo com a bibliografia consultada, observamos que a permeabilidade dentinária do assoalho da câmara pulpar dos molares humanos permanentes não foi estudada. Este fato levou-nos a investigar a permeabilidade dessa região, com observância dos seguintes itens:
 

1 - Estudo da permeabilidade do assoalho da câmara pulpar dos molares inferiores humanos com raízes separadas.

2 - Seleção de soluções irrigantes com composição diferentes.

3 - Utilização de diferentes técnicas de instrumentação dos canais radiculares.

4 - Ensaio histoquímico para detectar, pela coloração dada, os níveis de permeabilidade dentinária, como resultado do efeito líqüido circulante no assoalho da câmara pulpar, durante o ato de instrumentação x irrigação.

5 - Avaliação quantitativa do complexo químico formado, com o auxílio do microscópio de transmissão dotado de uma grade de integração de 400 pontos (análise morfométrica).

6 - Exame histológico das lâminas coradas, com o intuito de verificar o tipo de dentina presente nessa área.



 

MATERIAL e MÉTODO
 

Foram utilizados, nestes experimentos, 40 dentes permanentes humanos, primeiros e segundos molares inferiores com raízes separadas, extraídos por razões variadas e armazenados em geladeira, a 9 graus centígrados, distribuídos em quatro frascos de vidro, com solução aquosa de timol a 0,1 por cento, contendo cada um deles dez dentes.

As auxiliares de instruxnentações utilizadas foram: água destilada deonizada e o líquido de Dakin.

O líquido de Dakin foi aviado no Laboratório de Endodontia da FORP-USP, com o teor de cloro de 0,58 por cento, pH 9,20 e acondicionado em vidro âmbar, dotado de batoque e tampa, e armazenado a 9 graus centígrados (PÉCORA et al., 1987).

As ténicas de instrumentação dos canais radiculares utilizadas foram a manual e a ultra-sônica.

Os frascos contendo os dentes foram sorteados, aleatoreamente, assoaciados a uma das soluções e a uma das técnicas de instrumentação estudadas, formando assim 4 grupos experimentais:

GRUPO 1 so1uções irrigante: água e técnica de instrumentação| manual

GRUPO 2 solução irrigante: liquido de Dakin e técnica de instrumentação manual

GRUPO 3 solução irrigante: água e técnica de instrumentação ultra-sônica

GRUPO 4 solução irrigante: líquido de Dakin e técnica de instrumentação ultra—sõnica

Como disciplina de trabalho, ao longo de cada dia, dez dentes foram instrumentados com uma das técnicas e com uma das soluções irrigantes.

Preparação pré-operatória dos dentes:

Cada grupo de dentes era removido do frasco, lavado em 5.gua corrente durante 12 horas, para eliminar possível traços de timol, e a seguir secos com jato de ar e impermeabilizados com cianacrilato (Super Bonder - Loctile Brasil Ltda). A impermeabilização era realizada nas superfícies externas dos dentes, com exceção da região apical das raízes e da oclusal das coroas.

Completada a polimerização do cianacrilato, praticava-se a cirurgia de acesso à câmara pulpar, utilizando-se motor de alta rotação dotado de brocas esféricas numero 2 ou 3, e brocas troncônicas de aço (Endo Z Maillefer), com o objetivo de tornar divergentes as paredes da cavidade endodôntica.

Técnica de Instrumentação X Irrigaçao:

A) Instrumentação manual dos canais radiculares:

Após realizadas a cirurgia de acesso e a pesquisa dos canais radiculares, determinava-se o diâmetro anatômico de cada canal e o seu comprimento. Os canais eram instrumentados com mais três limas, de números ascendentes e seqüênciais, a partir daquela que determinara o seu diâmetro anatômico. O comprimento de trabalho estipulado para todos os casos foi o tamanho real do dente, ou seja, até a lima aparecer na foramina apical.

O tempo de instrumentação foi padronizado em 10 minutos para cada um dos canais, num total de 30 minutos para cada molar. O volume de solução irrigante foi também padronizado em 10 mililitros para cada canal, sendo 2,5 mililitros para cada instrumento utilizado. A solução irrigante era injetada por meio de uma seringa de plástico tipo Luer-Look, com capacidade para 3 mililitros, dotada de agulha calibre 0,7 mm.

Após completada a instrumentação dos três canais, cada um era irrigado com 10 mililitros de 5gua destilada deionizada, com o objetivo de realizar a toalete final, bem como para remover traços do líqüido de Dakin. No grupo em que a água foi utilizada como solução irrigante, procedeu-se do mesmo modo, para igualar o volume de líqüido irrigante utilizado.

As limas endodônticas utilizadas neste experimento, um jogo para cinco dentes, foram do tipo K da marca Maillefer, de procedência Suíça.

B) Instrumentação Ultra-sônica dos canais radiculares:

Para a instrumentação ultra-sônica dos canais radiculares, foi utilizado um aparelho da marca PROFIENDO, da Dabi Atlante, de procedência brasileira.

O diâmetro anatômico de cada canal foi determinado como na instrumentação manual, com limas tipo K. Os canais que apresentavam diâmetro anatômico inferior ao da lima 15 eram preparados manualmente até atingir esse diâmetro, utilizando-se 2,5 mililitros de água destilada deionizada para cada instrumento usado. Em seguida, os canais eram instrumentados por meio do ultra-som. Os canais que apresentavam diâmetro anatômico igual ou superior ao da lima 15 tinham seus restos pulpares removidos e eram instrumentados diretamente pela técnica ultra-sônica, a partir do diâmetro anatômico inicial medido.

Para a instrumentação ultra-sônica, eram utilizadas duas limas, ou seja, a que avaliava o diâmetro anatômico inicial mais uma, na sua numeração seqüencial ascendente, por um tempo de um minuto e meio para cada lima. O fluxo de solução irrigante era regulado para uma vazio de mais ou menos 30 mililitros por minuto.

Como toalete final dos canais radiculares, realizava-se uma irrigação com água destilada deionizada associada a uma lima 15 posicionada no centro do canal, energizada pelo ultra-som durante 30 segundos em cada canal, conforme recomendado por COSTA et al., (1986) e AHMAD et al., (1987).

Para a instrumentação ultra-sônica, eram usados 315 mililitros de líquido irrigante em cada um dos malares estudados, acrescidos, quando necessário, do volume de solução irrigante gasto para obter o diâmetro cirúrgico correspondente ao da lima 15.

Usou-se, para cada cinco dentes instrumentados, um jogo de limas tipo K-Flex, da marca Kerr, de procedência brasileira, especialmente confeccionadas para o aparelho PROFIENDO.

Os dentes instrumentados formavam quatro grupos distintos: dois relacionados à instrumentação manual, em que se utilizava num grupo a água destilada deionizada como solução irrigante, e no outro o líqüido de Dakin. Os outros dois grupos, referentes ~ instrumentação ultra-sônica, tinham também, o mesmo tratamento, ou seja, um grupo recebia água destilada deionizada como solução irrigante, e o outro o liquido de Dakin.

Com os quatro grupos assim constituídos, os dentes estavam prontos para submeter-se a reação histoquímica, com o objetivo de se detectarem os níveis da permeabilidade dentinária da área da furca, ou seja, do assoalho da câmara pulpar, que sofrera a ação das soluções irrigantes durante o preparo dos canais radiculares.

Reação histoquímica para detectar os níveis de permeabilidade dentinária.

O cátion indicador da extensão da permeabilidade em profundidade era representado pelo cobre de uma solução de sulfato de cobre a 10 por cento e a revelação da presença desses íons cobre era proporcionada pela complexação do ácido rubeânico de uma solução alcoólica desse ácido a 1,0 por cento, reagentes esses preconizados por FEIGL (1958).

A técnica de FEIGL (1958), que recomendava esses reagentes para "spot tests", foi modificada por ROSELINO (1983), a fim de adaptá-la ao estudo da permeabilidade dentinária (PECORA, 1985), em razão da própria natureza do experimento, que exigia uma certa modificação técnica para torna-se viável.
 

TABELA 1. REAGENTES EMPREGADOS
REAGENTES PROCEDÊNCIA FÓRMULA QUÍMICA
Àcido RUBEÂNICO MERCK ALEMÃ C2H4N2S2
SULFATO DE COBRE MERCK ALEMÃ Cu SO4 5H2O
HIDRÓXIDO DE AMÔNIO MERCK ALEMÃ NH4OH

Assim, a técnica modificada obedecia aos seguintes passos:

1-Preparo da solução aquosa de sulfato de cobre: 10 gramas de sulfato de cobre eram colocados em um béquer, completando-se com agua destilada deionizada até atingir 100 mililitros. A essa solução eram adicionados 25 mililitros de hidróxido de amônio a 25 por cento.

2- Preparação da solução alcoólica de ácido rubeânico: 1,0 grama era colocado em um béquer, completando—se com álcool 96 GL até 100 mililitros.

A solução de ácido rubeânico era preparada para uso imediato, enquanto que a solução de sulfato de cobre era preparada e estocada em quantidade suficiente para todo o experimento.

Inicialmente, os 10 dentes de cada grupo, ainda protegidos com o cianacrilato, eram imersos na solução de sulfato de cobre, em um recipiente dotado de tampa perfurada, por onde se procedia à aplicação de vácuo por cinco minutos, com uma pressão negativa de 27 quilogramas por centímetro quadrado, a fim de remover o ar do interior dos canais radiculares.

Os dentes permaneciam nessa solução por mais 25 minutos, porém já sem a ação do vácuo. Findo esse tempo, eram removidos do continente, tendo então as superfícies externas secas com toalha de papel absorvente, e os canais radiculares com cones de papel absorvente.

Imediatamente após, em outro frasco semelhante ao primeiro utilizado, contendo a solução alcoólica de ácido rubeânico, eram colocados os dentes.

O tempo de aplicação do vácuo e o tempo de armazenagem dos dentes eram iguais ao da aplicação da solução de sulfato de cobre.

A reação do sulfato de cobre com a solução alcoólica de ácido rubeânico produz uma forte coloração, que vai do azul intenso até a coloração negra.

Obtenção de cortes da região da furca:

A Figura 1 mostra o equipamento utilizado para seccionar os dentes no sentido longitudinal, na direção mesio- distal. Cada dente forneceu, em média, cinco cortes, como pode ser visto na figura 2. Esse valor foi o que se conseguiu em função da espessura do disco diamantado da máquina de corte (500 micrometros). A espessura de cada corte foi de aproximadamente 600 micrometros, indicado pelo relógio micrométrico conectado ao equipamento.

Durante a secção do dente, tanto este como o disco diamantado receberam um jato de água fria, a fim de prevenir a queima da dentina.

Para proceder a essa operação, os dentes preparados eram incluídos em resina acrílica de rápida polimerização. Para incluir os dentes e facilitar a sua colocação na máquina de corte, foram confeccionados moldes ( Ureol 6409B, Ciba—Geiger), que possibilitaram a feitura de blocos de acrílico com superfícies lisas, de modo que os dentes pudessem ser colocados na máquina de corte, sempre no mesmo sentido e direção (figura 3).

FIGURA 1-

Equipamento para secção dos cortes de dentes: a) disco de separação diamantado; b) relógio micrométrico; c) garras para prender o bloco de acrílico com o dente incluído; d) refrigeração a água; e) protetor; f) reservatório para captar a água e promover a drenagem; g) motor de baixa e média rotação.

Após a polimerização da resina acrílica, o bloco contento o dente era preso firmemente às garras da base conectada a haste do relógio micrométrico, na máquina de corte.

FIGURA 2  Número de cortes obtidas durante a secção de um dente no equipamento visto na figura 1.

FIGURA 3- Dispositivo para incluir os dentes em acrílico de rápida polimerizaçao. a) molde;
 

Preparação dos cortes para montagem em laminas:

Uma vez obtidas os cortes, eram eles dispostos de modo sequencial (como pode ser visto na figura 2), tomando—se para estudo aquele que correspondesse ao centro do dente, de modo a permitir que a região da furca pudesse ser analisada sem interferência das paredes da cavidade coronária ou radicular.

De cada dente, era selecionado um único corte, que a seguir era submetido a um processo de lixamento com lixas de numeração 320 e 400, sob água corrente, até que apresentasse uma espessura aproximada de 200 micrometros, avaliada por meio de um paquímetro digital ( TESSA, de procedência Suiça).

Isso feito, o corte era lavado em água corrente por três horas, a fim de remover o pó de dentina e o pó abrasivo da lixa.

Durante o lixamento, as paredes mesiaes e distaes dos cortes, que correspondiam as raízes mesial e distal, se desprendiam, ficando somente a área da furca, para o estudo.

Uma vez lixados e lavados, os cortes eram desidratados em álcool absoluto (três banhos), clarificados em xilol (três banhos), com uma hora de duração cada banho. A seguir, eram montados em lâmina de vidro para microscopia, com Entellan (MERCK). Após o endurecimento do Entellan, os cortes eram examinados microscopicamente, a fim de se observar, em ampliações variáveis, se mostravam com nitidez a transparência das áreas coradas e não-coradas.

Cada lâmina era identificada de acordo com a solução e a técnica de instrumentação utilizadas. Os cortes eram então armazenados, ao abrigo do ambiente, em caixas providas de tampas, para posterior avaliação quantitativa dos níveis de permeabilidade dentinária da região da furca.

FIGURA 4- Dispositivo para lavar os cortes em água corrente.

Exame histológico das lâminas coradas:

Todos os cortes foram submetidos ao exame histológico, com auxílio de um fotomicroscópico de marca Photomax, de procedência japonesa. Os cortes foram analisados com aumento de 40, 100, 200 e 400X.

O exame histológico foi realizado com os seguintes objetivos: a) evidenciar a penetração dos íons cobre, que após revelados pelo ácido rubeânico, apresentam uma coloração que vai do azul intenso até o negro, dependendo da concentração desses íons; b) verificar as direções dos canalículos dentinários, bem como o tipo de dentina presente na região de furca dos malares inferiores com raízes separadas.

Para a documentação do exame histológico, foram obtidas 15 fotomicrografias de secções da área da furca, sendo 12 de cortes longitudinais e 3 de cortes transversais.

Análise morfométrica:

Para delimitar a área da furca a ser analisada, procedeu-se do seguinte modo: tomava-se o ponto da superfície externa da furca onde ela atingia o máximo de concavidade (A), traçando-se, a partir dali, duas retas ortogonais que se estendiam até atingir a área interna, ou seja, o assoalho da câmara pulpar. Assim, determinavam-se 3 pontos A, B e C que delimitavam a área a ser analisada (figura 5).

Procedeu-se desse modo com o intuito de evitar a análise da região cervical dos canais radiculares, o que aconteceria se a furca fosse delimitada por duas tangentes que passassem pelo seu ponto de máxima convexidade e de máxima concavidade.

FIGURA 5 - Esquema da delimitação da furca

Para estabelecer os níveis da permeabilidade da dentina, indicados pela reação histoquímica, foi utilizada a análise morfométrica.

Utilizou-se uma ocular 6X e uma objetiva 4X, e que proporcionava uma ampliação final de 24X. A ocular foi adaptada uma grade de integração de 400 pontos, com distância de 500 micrometros entre os pontos. O microscópio utilizado foi um de marca JENA, de procedência japonesa.

Para facilitar a contagem dos pontos que caiam dentro das areas coradas ou não coradas, foi montado um conjunto formado por dois contadores digitais, de marca LINE, de procedencia japonesa.

A fim de padronizar a contagem dos pontos que coincidiam com os limites da área avaliada, contavam-se apenas os que recaiam sobre os limites superiores esquerdos da 5rea em questão, não considerando os que incidissem sobre a linha limite inferior e direita.

Uma vez obtidos os números de pontos contidos nas áreas corada e não-corada da dentina na região estabelecida, calculou-se o índice de penetração dos ions de cobre, com base na seguinte dedução matemática desenvolvida pelo Prof. Dr. Geraldo Maia Campos, da FORP-USP.

Click aqui para ver a fórmula matemática

Uma vez obtidos os números de pontos que caiam na área corada e não-corada, os dados foram anotados em protocolo (ver apêndice), e a seguir processados em computador, utilizando um programa especialmente elaborado para o cálculo do índice de tração dos íons de cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar. Esse programa para computador foi escrito em linguagem Basic, pelo Prof. Dr. Geraldo Maia Campos.



 

RESULTADOS
 
 

Os 40 dados utilizados neste estudo foram os valores correspondentes aos índices de penetração dos tons de cobre na dentina da furca radicular de molares inferiores com raízes divergentes. Esse número total de dados resulta do produto fatorial de 10 repetições (10 dentes — área de furca) por duas soluções irrigantes (água destilada deionizada e liqüido de Dakin) e dois tipos de técnicas de instrumentação dos canais radiculares (manual e ultra-sônica): 10 x 2 x 2 = 40.

Os valores, em porcentagem, dos índices de penetração dos íons de cobre na dentina da furca radicular estão expressos na tabela II.

TABELA II. Valores em percentagens dos índices de penetração de rubeanato de cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar dos molares inferiores com raízes separadas
 

Soluções Irrigantes
Tipo de Instrumentação
 
Manual
Ultra-sônica
 
17,538
9,065
9,547
8,419
 
13,397
6,395
16,491
17,192
Água
16,890
19,492
9,617
15,189
 
12,348
16,251
5,132
10,216
 
5,591
14,481
15,613
9,938
         
 
10,065
5,331
3,551
9,477
 
17,336
18,651
18,912
38,596
Líquido de Dakin
16,667
11,882
29,935
18,869
 
5,868
11,808
15,730
14,231
 
10,026
13,397
4.310
8,299

Os testes de normalidade com os dados originais (porcentagem) indicaram tratar-se de uma distribuição não-normal. Procedeu-se então à transformação angular desses dados, com base em GRANER (1966), que aconselha a transformação angular, quando se trabalha com porcentagens acima de 80 por cento ou abaixo de 20 por cento.

Uma vez feita a transformação angular dos dados, testou-se novamente a normalidade da distribuição amostral, usando o mesmo programa para computador desenvolvido no Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, pelo Prof. Dr. Geraldo Maia Campos.
 
 

TABELA III. Transformação angular: parâmetros amostrais

Soma dos dados dos erros amostrais
833,4557
Soma dos quadrados dos dados
18553,0000
Termo de correção
17366,2100
Variação total
1186,7910
Média geral da amostra
20,8364
Variância da amostra
30,4305
Desvio padrão da amostra
5,5164
Erro padrão da média
0,8722
Mediana (dados agrupados)
20,8364
Número de dados abaixo da média
20,0000
Números de dados acima da média
20,0000
Coeficiente de variação
26,47%

Pelo exame da tabela III, verifica-se que os valores da media e da mediana são iguais e que há uma simetria da distribuição, o que sugere uma distribuição normal.

A seguir, comparou-se a distribuição amostral com uma distribuição de frequências padrão, com intervalos de classe baseados na media e no desvio padrão da amostra, que são os pontos característicos da curva normal (tabela IV)

TABELA IV. Transformação angular: distribuição de frequências

A. Freqüências por intervalos de classe
Intervalos de classe
M3s
M2s
M1s
Med.
M+1s
M+2s
M+3s
Freqüências absolutas
0
2
11
14
11
1
1
Em valores porcentuais
0,0
5,0
27,5
35,0
27,5
2,5
2,5
 
B. Freqüências acumuladas
Intervalos de classe
M3s
M2s
M1s
Med.
M+1s
M+2s
M+3s
Freqüências absolutas
0
2
13
27
38
39
40
Em valores porcentuais
0,0
5,0
32,5
67,5
95,0
97,0
100,0

Uma vez calculadas as frequências absolutas e percentuais, por intervalos de classe e acumuladas, foram traçadas duas curvas superpostas, com base nos percentuais acumulados de frequências, unia correspondente a curva normal matemática e a outra à distribuição amostral experimental. A discrepância entre as duas curvas demonstra o seu grau de aderência. Pelo gráfico da figura 6, observa-se haver sobreposição quase perfeita das duas curvas.

FIGURA 6   Sobreposição dos percentuais acumulados de frequências referentes às curvas experimental e normal.

Esses mesmo valores percentuais acumulados de frequências podem ser lançados num gráfico de projeção aritmético normal, a fim de testar a normalidade da distribuição. Novamente aqui se observa que a ditribuição experimental quase se ajusta à reta que traduz a normalidade matemática (figura 7)

FIGURA 7 Percentuais acumulados de frequências em projeção aritmetico-normal.

Assim, essa linha aproximadamente reta, resultante da interligação dos pontos percentuais, indica tratar-se de uma curva bem próxima do normal.

A seguir, realizou-se uni teste de aderência (pelo X2) entre a curva experimental e uma curva normal matemática com a mesma média e o mesmo desvio padrão (Tabela V).

TABELA V. Transformação angular: teste de aderência a curva normal

A. Freqüências por intervalos de classe
Intervalos de classe
M3s
M2s
M1s
Med.
M+1s
M+2s
M+3s
Curva normal
0,44
5,40
24,20
39,89
24,20
5,40
0,44
Curva experimental
0,0
5,0
27,5
35,0
27,5
2,5
2,5
 
B. Cálculo do Qui quadrado
Graus de liberdade 4
Interpretação

A distribuição amostral testada 

é normal

Valor do Qui quadrado 3,09
Probabilidade de H0 54,35

 

O resultado (X2= 3,09) para 4 graus de liberdade indica uma probabilidade de 54,35 por cento de a curva testada ser normal.

Continuando, traçou-se o histograma de frequências da amostra experimental, e ao mesmo tempo se sobrepôs a ele o traçado da curva normal matemática com a mesma média e o mesmo desvio padrão, a fim de servir como termo de comparação (figura 8)

FIGURA 8   Histograma da distribuição de frequências da amostra experimental, com sobreposição da curva normal matemática, com a mesma média e o mesmo desvio padrão.

Para testar a independência das variâncias envolvidas neste estudo, fez-se o gráfico da figura 9, onde estão projetadas as médias das interações soluções ( água e liquido de Dakin) X técnicas de instrumentação ( manual e ultra-sônica) contra as respectivas variâncias, traçando-se uma linha de regressão. A tabela VI expressa as médias e as variâncias da interação soluções X técnicas, utilizadas para calcular a linha de regressão da figura 9.

TABELA VI. Médias e variâncias da interações soluções x técnicas

Técnicas de Instrumentação   Soluções
   
Agua
Dakin
Manual
média
20,93
20,03
 
variância
18,6444
17,3337
       
Ultrasônica
média
19,77
22,61
 
variância
13,8308
76,5580

FIGURA 9 Regressão linear. Projeção das médias encontradas, correspondentes à interação soluções x técnicas (abscissas) contra as respectivas variâncias (ordenadas).

O valor de r para a regressão linear apresenta um valor calculado igual a 0,9430 para 2 graus de liberdade. Os valores tabelado para esse mesmo número de grau de liberdade é 0,95 para (a = 0,05) e 0,99 para (a = 0,01). Assim, como o valor encontrado para os dados experimentais deste trabalho é r = 0,9430, menor que esses valores tabelados, isso indica uma independência entre as variâncias testadas.

Para demonstrar a homoscedasticidade das amostras, aplicou-se o teste de Cochran.

Como o valor 0,6058 é maior que o valor 0,5019 tabelado, isso indica que as amostras não são perfeitamente homogêneas.

Os testes realizados levaram à conclusão de que a distribuição dos dados experimentais deste trabalho, referente às porcentagens de penetração de íons de cobre na dentina da furna radicular, era normal e as variâncias envolvidas independentes, o que autorizava a aplicação da análise de variância, (Tabela VIII) . A não-homogeneidade das variâncias indicava haver uma variância demasiadamente diferente entre elas, o que se pode constatar na tabela VII, onde a variância 76,5580, corresponde ao ponto 4 (interação Dakin x Ultrasom) é bem maior que as outras
3. Isso indica tratar-se de um fator diferente dos outros três, em termos de variabilidade dos dados amostrais.
 
 

TABELA VII. Médias e variâncias usadas no teste de independência

Ponto (1) : Média = 20,93 x Variância = 18,6444
Ponto (2) : Média = 20,03 x Variância = 17,3337
Ponto (3) : Média 19,77 x Variância = 13,8308
Ponto (4) : Média = 22,61 x Variância = 76,5580

 

TABELA VIII. Transformação angular: análise de variância

Fonte de variação
Soma de quadr.
G. L.
Quadr. médios
( F )
Prob. (H0)
Entre Soluções
5,0762
1
5,0762
0,16
30,681
Entre Técnicas de Instrumentação
9,5313
1
9,5313
0,30
40,735
Interações L x C
34,8809
1
34,8809
1,10
30,082
Resíduo
1137,3030
36
31,5917
Variação total
1186,7910
39

Pelo exame da tabela VIII, verifica-se a não-significância estatística, tanto em relação às soluções e técnicas de manipulação como no que respeita à interação soluções x técnicas.

Não obstante a análise estatística paramétrica ter indicado a não-significãncia estatística, aplicou-se também a análise estatística não-paramétrica ( teste de KruskalWallis) (Tabela IX), para confirmar os resultados, dada a existência de um fator desfavorável, apontado pelo estudo da normalidade amostral, que era o fato de as variâncias não serem todas homogêneas.
 
 

TABELA IX. Teste de KRUSKAL WALLIS

Valor (H) de KRUSKALWALLIS calculado
=
0,8961
Valor do x2 para 3 grau de liberdade
=
0,90
Probabilidade de Ho para esse valor de x2
=
82,64%
Conclusão: não-significante

O teste de Kruskal Wallis confirmou os achados do teste paramétrico, ou seja, não há mesmo significância estatística no grau de penetração dos íons de cobre na dentina da furca radicular, quer com o uso das duas soluções (água e líquido de Dakin), quer com as duas técnicas de instrumentação dos canais radiculares (manual e ultra-sônica), ou mesmo considerando a interação técnica x solução.



 

RESULTADOS FOTOMICROGRAFIAS
 

FIGURA 10

Fotomicrografia de um corte longitudinal de uma furca (40X), mostrando a penetração dos íons de cobre (A) e área onde não houve a penetração (B), num dente que recebeu instrumentação manual com água como solução irrigante. A seta indica a linha de demarcação entre dois tipos de dentina.

A penetração dos íons de cobre, revelada pela ácido rubeânico, é vista com uma coloração negra. Esta fotomicrografia também mostra, com nitidez, área onde não ocorreu a penetração dos íons cobre. Apesar do aumento ser pequena, pode-se observar mudança de direção dos canalículos dentinários no canto inferior esquerdo (seta) . Essa mudança de direção é indicativa do limite de separação entre a dentina primária e dentina secundária.

FIGURA 11— Fotomicrografia do mesmo corte da figura anterior, com aumento 100X, evidenciando o limite entre a região onde ocorreu a penetração dos íons de cobre e a região onde ela não ocorreu. Mostra também a direção irregular dos canalículos dentinários.

FIGURA 12 - Fotomicrografia do mesmo corte da figura anterior, em ampliação de 200 X. A ampliação com maior aumento destaca melhor a direção dos canalículos dentinários.
Essa fotomicrografia mostra, com bastante nitidez as sinuosidades dos canalículos dentinários na região onde ocorreu a penetração das íons cobre e, ainda, a presença de poucos canalículos na região ande não ocorreu a penetração dos íons. Nessa região, ande não ocorreu a penetração dos íons cobre, a dentina é vista com poucos canalículos e com um aspecto amorfo, onde não se observa a estrutura canalicular uniforme. Essa dentina parece ser uma dentina reparadora, ou seja, uma dentina secundária irregular.

FIGURA 13 - Fotomicrografia de um corte longitudinal da furca (40X) de um dente instrumentado com ultra-som e água como solução irrigante. A letra (A) indica as regiões onde ocorreu a penetração dos íons de cobre, e a letra (B) a área onde não ocorreu essa penetração. A seta maior indica a área ampliada na fotomicrografia da figura 14.
Apesar do pequeno aumento, pode-se observar que a penetração dos íons de cobre ocorreu através dos canalículas dentinários. As figuras 14 e 15, com aumento de 100 X e 400 X respectivamente, mostram a presença de uma dentina com aspecto amorfa, com poucos canalículos dentinários. Esse aspecto é característico da dentina reparadora descrita por SELTZER & BENDER (1975).

FIGURA 14 Fotomicrografia da figura anterior, em aumento (100X), mostrando a área com penetração de íons de cobre (A) e a área onde não ocorreu essa penetração (B)

FIGURA 15 Fotomicrografia da figura anterior, com ampliação de 400 X, evidenciando melhor a área limite entre a penetração e não penetração dos íons de cobre nas canalículos dentinários, bem como o seu trajeto sinuoso.
A área onde não ocorreu a penetração dos íons de cobre (A) apresenta-se com aspecto amorfa.

FIGURA 16 - Fotomicrografia de um corte longitudinal da área de furca (40X) de um dente instrumentado com ultra-som e irrigado com liquido de Dakin. A mancha negra indica penetração dos íons de cobre (A) , vendo-se bem nítida a direção irregular dos canalículos dentinários (B) . A penetração dos íons de cobre, representada pela coloração negra, foi bastante uniforme com exceção da parte superior direita da fotomicrografia (C) onde não ocorreu a penetração dos íons.

FIGURA 17  -  Ampliação (com aumento de 100X) da figura anterior, evidenciando com clareza as mudanças de direção dos canalículos dentinários (A) e a área com dentina de aspecto amorfo (B)

FIGURA 18  Fotomicrografia correspondente à mesma área da figura anterior, em aumento de 200X, onde se observa com nitidez a sinuosidade dos canalículos dentinários.

FIGURA 19  - Fotomicrografia de um corte longitudinal da furca de um dente instrumentado manualmente, tendo como solução irrigante o líqüido de Dakin, (ampliação de 40X) onde se observa em (A) a penetração dos íons de cobre, em (B) a área de dentina, não corada e em (C) a área mais clara de dentina.

Essa fotomicrografia mostra uma penetração uniforme dos íons de cobre em toda a extensão da furca (A) . Não foi observada a presença de área de dentina secundária irregular (reparadora) e sim de dentina secundária regular.

FIGURA 20 Fotomicrografia com 100X da área de dentina do dente da figura anterior, mostrando a linha onde os canalículos dentinários apresentam uma mudança de direção, que é conhecida como a linha de demarcação entre a dentina primária e a dentina secundária.

Essa área mais clara está situada a meio caminho da dentina, e mostra claramente a linha de demarcação entre a dentina primária e a dentina secundária. Essa linha de demarcação entre as dentinas tem como característica a mudança de direção dos canalículos dentinários. Para mostrar com mais nitidez a mudança de direção dos canalículos dentinários entre as dentinas primária e secundária, fez-se uma fotomicrografia com 100X , que pode ser vista na figura 21. A presença de uma dentina uniforme, como observada na fotomicrografia da figura 19, sugere que esse dente não sofreu a ação de um processo inflamatório pulpar crônico, pois não há presença de formação de dentina reparativa (SELTZER & BENDER, 1975; MJÖR, 1972) e nem tampouco ação de atrição.

FIGURA 21 Ampliação da fotomicrografia anterior (200X), evidenciando com nitidez as mudanças de direção dos canalículos dentinários.

FIGURA 22 - Fotomicrografia com ampliação de 40X, de um corte transversal da furca dental, com o objetivo de mostrar a penetração dos íons de cobre na região cervical do canal radicular (A). A área mais central da furca (B), não foi atingida pela penetração dos íons.

Está evidente a penetração dos íons de cobre na região cervical do canal radicular. A área do assoalho da furca (B) dá uma idéia das diferentes direções dos canalículos dentinários, em virtude de suas próprias características histogenéticas.

FIGURA 23 Ampliação da área da fotomicrografia anterior (200X): observa-se nitidamente a luz dos canalículos dentinários em cortes transversais.

FIGURA 24 Fotomicrografia (com aumento 1000X) da figura anterior, onde se observam canalículos dentinários cortados transversalmente. Em (A) vê-se a penetração dos íons de cobre no canalículos, e em (B), canalículos dentinários sem penetração.



 

DISCUSSÃO
 

No presente trabalho, a furca dos molares inferiores humanos com raízes separadas foi delimitada pelo espaço compreendido entre duas retas em ângulos reto, com o seu vértice no ponto de máxima concavidade da face externa da furca, e com a outra extremidade das retas atingindo o assoalho da câmara pulpar.

Essa limitação foi estabelecida com a finalidade de não se incluir, neste estudo, a permeabilidade da dentina da área cervical dos canais radiculares, uma vez que essa região sofre a ação direta da instrumentação + irrigação, enquanto que a dentina do assoalho da câmara pulpar sofre apenas a ação do líqüido irrigante.

A delimitação realizada permitiu, na análise dos cortes, uma visão bidimensional da área da furca.

A furca corresponde, segundo o Bureau of Library and Indexing Service (1950), à área ou região compreendida entre duas ou mais divisões anatômicas normais das raízes em sua base, o que corresponde, em uma visão tridimensional para os dentes birradiculares, à uma pirâmide truncada, onde a base maior está situada no assoalho da câmara pulpar, no espaço compreendido entre as paredes pulpares dos orifícios de entrada dos canais radiculares, e a base menor da área de máxima concavidade da superfície externa da furca.

A furca, propriamente dita, não abrange a região cervical dos canais radiculares. Essa inclusão seria feita caso se delimitasse a furca por duas tangentes, uma passando pelo seu ponto de máxima convexidade, no assoalho da câmara pulpar e, por outra tangente, passando pelo seu ponto de máxima concavidade, situada na superfície externa (MACCHETTI & CAMPOS, 1975).

Os dentes, após preparados, foram cortados no sentido longitudinal e na direção mésio-distal, com o objetivo de se analisar uma maior área da furca (MACCHETTI & CAMPOS, 1975).

A adoção do método histoquímico proposto por ROSELINO (1983) baseou-se nos seguintes fatos: a) alta reprodutibilidade do método ( PÉCORA, 1985; ZUOLO et al., 1987 e SILVA, 1988); b) os ions de cobre apresentam tamanho molecular bem menores que as moléculas orgãnicas de corante; e c) permite que os cortes sejam diafanizados para exame ao microscópio.

O tamanho das moléculas tem papel importante na permeabilidade da dentina (PASHLEY & LIVINGSTON, 1978). Esses autores verificaram que um aumento de 19 vezes no tamanho da molécula provoca uma redução de 100 vezes no coeficiente de permeabilidade dentinária. A molécu1a da água apresenta um tamanho de 1,93 Angströms, o ion de cobre 0,93 Angström, a albumina 37 Angströms e o violeta de genciana 12 Angströms. Os radioisótopos e os ions apresentam pequeno tamanho molecular.

Em um estudo piloto, verificou-se que os corantes não possibilitavam a observação microscópica dos cortes, sofrendo a ação dos alcoóis e do xilol durante a sua desidratação e diafanização, pois são solúveis nesses meios.

A revelação dos ions de cobre pelo ácido rubeânico promove o desenvolvimento de uma reação química, dando como resultado a formação de um sal, o rubeanato de cobre, que e insolúvel tanto em alcoóis como no xilol. A sensibilidade do método de revelação do cobre da ordem de 0,006 micrograma, (FEIGL, 1958).

A opção do uso da água como solução irrigante baseou-se no fato de ela não promover aumento da permeabilidade dentinária durante a instrumentação dos canais radiculares (MARSHALL et al., 1960; PÉCORA, 1985). A opção pelo líqüido de Dakin baseou-se no fato de as soluções halogenadas promoverem não só aumento da permeabilidade dentinária durante a instrumentação dos canais radiculares (PÉCORA, 1985), como também possuírem capacidade de solvência de tecido orgânico (MOORER & WESSELINK, 1982) e permitirem canais mais limpos quando energizadas pelo ultra-som (AHMAD et al., 1987; VANSAN, 1988).

A quantificação da penetração dos íons de cobre, pela análise morfométrica com grade de integração, oferece segurança quanto à determinação de áreas e facilidade de uso (PÉCORA, 1985; ZUOLO et al., 1987; SILVA, 1988)

A comparação entre duas técnicas de instrumentação dos canais radiculares foi feita com o propósito de verificar se a agitação do líqüido na câmara pulpar durante a instrumentação ultra-sônica oferecia melhor resultado no aumento da permeabilidade da dentina do assoalho da câmara pulpar do que a instrumentação manual, onde o líqüido irrigante apenas molha as paredes do assoalho.

A analise estatística dos resultados obtidos neste trabalho evidenciou, quer pela estatística paramétrica (análise de variância, tabela VIII), quer pela não-paramétrica (teste de Kruskal-Wallis, tabela IX) que não há diferença significante no grau de penetração do íon de cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar (furca) dos dentes estudados, quer com o uso de diferentes soluções (água e líqüido de Dakin), quer com a interação de diferentes técnicas de instrumentação dos canais radiculares (manual e ultra-sônica).

Isso significa que tanto a água como o líqüido de Dakin, bem como a interação entre as soluções e as diferentes técnicas de instrumentação, comportaram-se do mesmo modo na permeabilização dentinária da região testada.

A ação de agitação do líqüido irrigante, durante a instrumentação ultra-sônica, pelo menos no tempo observado no presente experimento, não foi suficiente para promover aumento da permeabilidade dentinária quando comparada com a instrumentação manual, onde a pouca quantidade de líqüido irrigante ficava em contacto com o assoalho da câmara pulpar.

Na área de furca dos molares inferiores examinados, a não diferença encontrada pode ser devida a dois fatores:

1 - o fato de somente o líqüido irrigante tocar a área do assoalho da câmara pulpar;

2 - o fator do tipo de dentina encontrada neste local.

Como somente o líqüido irrigante toca a área do assoalho da câmara pulpar, a sua limpeza fica apenas por conta da movimentação hidráulica do líqüido e, ainda, no caso do líqüido de Dakin por seu efeito químico de solvência de matéria orgânica. Os instrumentos endodônticos (limas) são utilizados apenas no interior dos canais radiculares.

A dentina do assoalho da câmara pulpar, normalmente, e constituída por dentina secundária, que pode ser tanto do tipo regular como do tipo irregular, dependendo das agressões que o dente tenha sofrido.

Para SELTZER & BENDER (1975) e MJÖR (1982), a dentina secundária é formada mais no assoalho e no teto da câmara pulpar do que nas paredes laterais. A dentina secundária regular (fisiológica) é formada durante toda a vida do dente, em virtude dos estímulos fisiológicos, mas a dentina secundária irregular (reparadora) 6 formada em resposta a uma agressão ao órgão pulpar.

Ainda SELTZER & BENDER (1975) relatam que a dentina reparadora esta presente em quantidade significante nos canais radiculares de todos os dentes com inflamação crônica da polpa e, especialmente, naqueles com envolvimento periodontal.

A área da furca, segundo muitos autores citados neste trabalho, pode apresentar vários canais laterais pondo, em contacto, a polpa com o periodonto. As lesões periodontais podem, por meio dessa via de comunicação, provocar uma resposta da polpa, formando dentina reparadora.

Como a dentina reparadora se apresenta mais amorfa, menos canalicular e ligeiramente menos regular do que a dentina primaria (SELTZER & BENDER, 1975), a passagem de fluidos fica dificultada (MJOR, 1982), pois a presença de poucos canalículos dentinários deixa essa dentina sem a sua principal via de penetração.

As figuras 10, 13 e 16 mostram áreas onde ocorreu e áreas onde não ocorreu a penetração de íons de cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar.

As figuras 11, 12, 14, 15 e 17 mostram, com aumento maior, as áreas onde ocorreu pouca ou nenhuma penetração de íons de cobre. Essas áreas apresentam características de dentina reparadora com poucos canalículos dentinários e com aspecto amorfo. Essas fotomicrografias também mostram, com muita clareza, as sinuosidades dos canalículos dentinários.

A direção irregular e a sinuosidade dos canalículos dentinários oferecem resistência aos movimentos dos fluidos através da dentina, à qual PASLHEY et al (1978) deram o nome de resistência intercanalicular.

SHOVELTON (1964) e PËCORA (1985) observaram que os dentes com achatamento mésio-distal de suas raízes apresentavam uma distribuição diferente dos canalículos na área radicular. A distribuição era polarizada, ou seja, os canalículos estavam em maior número nas faces vestibulares e linguais. As áreas mesial e distal das raízes, nesses casos, apresentavam dentina reparadora com aspecto amorfo e presença de poucos canalículos dentinários.

As fotomicrografias das figuras 20 e 21 mostram claramente a mudança de direção dos canalículos dentinários a meia distancia entre as áreas interna e externa da furca, semelhante à linha de demarcação que ocorre entre a dentina primária e a dentina secundaria. Esses achados estão de acordo com os de EVERETT et al. (1958).

Quando o assoalho da câmara pulpar apresenta dentina primaria e dentina secundaria regular, a visão ao microscópio de transmissão será idêntica a observada na figura 19. Nessa fotomicrografia, pode-se observar uma distribuição canalicular uniforme e regular. A figura mostra a linha de demarcação entre as duas dentinas, pela mudança de direção dos canalículos dentinários. As figuras 20 e 21 ilustram melhor as mudanças de direções dos canalículos.

Quando o assoalho da câmara pulpar apresenta dentina reparadora, a visão ao microscópio será idêntica às observadas nas figuras 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17 e 18. Nessas fotomicrografias , pode-se observar áreas com poucos canalículos dentinários, dentina com aspecto amorfo e muita sinuosidade na direção dos canalículos dentinários.

Finalizando, acreditamos que a área do assoalho da câmara pulpar deve ser mais estudada com o objetivo de se conseguir mais dados que possam ajudar a terapêutica Endodôntica, uma vez que essa região não recebe atenção durante o tratamento endodôntico, a não ser o cuidado de não tocá-la com os instrumentos. Muitas perguntas precisam ser melhor esclarecidas, tais como: qual a ação dos agentes quelantes sobre a permeabilidade dessa região? Qual a diferença existente entre a dureza dessa região com a dureza da dentina coronária e radicular? Quais as substâncias anti-sépticas capazes de atuar nessa área?


CONCLUSÕES
 
 

De acordo com a metodologia empregada e pela análise dos resultados, pode-se concluir que:

1 - As soluções irrigantes, água destilada deionizada e líqüido de Dakin se comportaram do mesmo modo na permeabilização da dentina do assoalho da câmara pulpar dos molares inferiores com raízes separadas.

2 - As duas técnicas de instrumentação de canais radiculares utilizadas (manual e ultra-sônica), não apresentaram significância estatística em relação ao grau de penetração dos íons cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar de molares inferiores com raízes separadas.

3 - A interação técnicas de instrumentação x soluçôes irrigantes não apresentou significância estatística em relação ao grau de penetração dos íons cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar de molares com raízes separadas.

4 - A não-significância estatística, tanto em relação as soluções irrigantes e técnicas de instrumentação como no que respeita à interação soluções x técnicas pode ser devida a dois fatores:

4.1 - O fato de somente o líqüido irrigante tocar o assoalho da câmara pulpar, ficando portanto a limpeza dessa área por conta apenas da movimentação hidráulica do líqüido irrigante.

4.2 - O fato de o assoalho da câmara pulpar poder apresentar dentina reparadora, a qual é mais amorfa, menos canalicular e menos regular que a dentina primária. Assim, sendo menos canalicular, essa dentina permite menor passagem dos íons cobre.



 

RESUMO
 
 

Estudou-se a permeabilidade dentinária do assoalho da câmara pulpar de molares inferiores humanos com raízes separadas após a instrumentação dos canais radiculares pelas técnicas manual e ultra-sônica, utilizando-se a água destilada deionizada e o líqüido de Dakin como soluções irrigantes.

Foram utilizados 40 dentes, de modo aformar 4 grupos com 10 dentes cada. Desse modo, cada grupo recebeu o tratamento com uma das técnicas e uma das soluções irrigantes citadas.

Para evidenciar a permeabilidade dentinária, utilizou-se uma solução aquosa de sulfato de cobre a 10 por cento. A penetração dos ions cobre no interior da dentina foi revelada por uma solução alcoólica de ácido rubeânico a 1 por cento. O ácido rubeânico revela os ions cobre, produzindo um sal insolúvel, o rubeanato de cobre, que apresenta uma coloração que vai do azul até o negro, dependendo da quantidade de íons cobre presente.

Para quantificar a área da penetração dos ions cobre no interior da dentina, utilizou-se a analise morfométrica. A área que havia sido penetrada pelos ions cobre e revelada pelo ácido rubeânico, apresentava-se com coloração escura.

A delimitação da área da furca analisada foi feita do seguinte modo: tomava-se o ponto da superfiicie externa à furca, onde ela atingia o máximo de concavidade, e traçava—se, a partir dali, duas retas ortogonais que se estendiam até atingir a área interna, ou seja, o assoalho da câmara pulpar.

Após a obtenção dos dados, a variável soluções e a variável técnicas de instrumentação foram analisadas estatisticamente, tanto pela estatística paramétrica como a não-paramétrica e ambas expressam que não havia significância estatística no grau de penetração dos íons cobre na dentina do assoalho da câmara pulpar da furca, quer com o uso das duas soluções irrigantes (água e líqflido de Dakin), quer com as duas tácnicas de instrumentação dos canais radiculares (manual e ultra-sônica), ou mesmo considerando a interação tácnicas versus soluções.

A não-significância estatística pode ser devida a dois fatores: 1 - O fato de somente o líqüido irrigante tocar o assoalho da câmara pulpar, ficando a limpeza dessa área apenas por conta da movimentação hidráulica do líqüido irrigante; 2- O fato do assoalho da câmara pulpar poder apresentar dentina reparadora, a qual mais amorfa, menos canalicular e menos regular que a dentina primária. Sendo essa dentina menos canalicular, menor será a penetração dos íons de cobre, independentemente da solução irrigante e da t6cnica de instrumentação dos canais radiculares utilizadas.



 

SUMMARY
 
 

The dentinal permeability of the pulpar chamber floor of huxnan lower molars with separate roots was studied after root canal instrumentation by the manual and ultrasound techniques, using deionized distilled water and Dakin’s fluid as irrigating solutions.

Forty teeth were divided into 4 groups of 10, and each group was treated using one of the techniques and one of the irrigating solutions mentioned above.

A 10% aqueous solution of copper sulfate was used to visualize dentinal permeability. The penetration of copper ions inside dentine was visualized with a 1% alcoholic solution of rubeanic acid. Rubeanic acid reveals copper ions by producing an insoluble salt, copper rubeanate, whose color ranges from blue to black depending on the arnount of copper ions present.

Morphometric analysis was used to quantify the area of copper ion penetration inside dentine. The area penetrated by copper ions revealed by rubeanic acid was dark in color.

The furcal area analyzed was delimited as follows: from the point of maximum concavity on the outer surface of the furca two orthogonal lines were traced and extended until they reached the inner area, i.e., the floor of the pulpar chamber.

When the data concerning the different solutions and instrumentation techniques were analyzed statistically by both parametric and non-parametric tests, no significant differences in the extent of copper ion penetratíon of dentine of the furcal pulpar chamber floor were detected between teeth treated witl-i water and Dakin’s fluid or between teeth submitted to manual and ultrasound instrumentation. Also, no significant differences were detected when considering the technique x solution iriteraction.

This lack of significance may have been due to two factors: 1) the fact that only the irrigating fluid touched the floor of the pulpar chamber, with the cleaning of this area only occurring through the hydraulic movement of the irrigating fluid, and 2) the fact that the floor of the pulpar chamber may present repairing dentine which is more amorphous, less canalicular and less regular that primary dentine. Since this dentíne is less canalicular, the penetration of copper ions is reduced, regardless of the irrigating solution or root canal instrumentation technique used.


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