ESTUDO DA AÇÃO DOS LASERS Er:YAG E Nd:YAG SOBRE A PERMEABILIDADE DA DENTINA DAS PAREDES DOS CANAIS RADICULARES INSTRUMENTADOS.
Este estudo foi realizado no Laboratório de Pesquisa em Endodontia do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo em colaboração com o Programa de Pós-graduação em Odontologia - Nível Doutorado - Linha de Pesquisa “Tratamento dos Canais Radiculares”, do Centro de Ciências da Saúde da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. |
Resumo | Abstract | Introdução | Retrospectiva da Literatura | Proposiçao |
Material e Metodo | Resultados | Discussão | Conclusão | Referências Bibliográficas |
Brugnera Junior, Aldo. Estudo da ação dos lasers Er:YAG e Nd:YAG sobre a permeabilidade da dentina das paredes dos canais radiculares instrumentados. Tese de Doutorado - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - 2001.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar
a ação dos lasers Er:YAG e Nd:YAG sobre a permeabilidade
da dentina das paredes dos canais radiculares, instrumentados com a utilização
da água destilada deionizada e solução de hipoclorito
de sódio a 1% como soluções irrigantes.
Para isto, foram utilizados 30 dentes caninos
humanos de estoque, conservados em solução aquosa de timol
a 0,1%. Formaram-se, aleatoriamente, seis grupos com cinco dentes cada.
Os canais radiculares foram instrumentados com limas tipo K e com adoção
da técnica de recuo livre. O diâmetro cirúrgico apical
foi de quatro limas subseqüentes à do diâmetro anatômico.
Os dentes do Grupo I foram irrigados com água destilada deionizada;
os do Grupo II foram irrigados com solução de hipoclorito
de sódio a 1%; os dentes do Grupo III foram irrigados com água
destilada deionizada e aplicação do laser Er:YAG (140
mJ, 15Hz, 300 pulsos e 42J); os dentes do Grupo IV foram irrigados com
solução de hipoclorito de sódio a 1% e aplicação
de laser Er:YAG com os mesmos parâmetros utilizados no grupo anterior;
os dentes do Grupo V receberam irrigação com água
destilada deionizada e aplicação de laser Nd:YAG (150 mJ,
15Hz e 2,25W) e os dentes do grupo 6 foram irrigados com solução
de hipoclorito de sódio a 1% e receberam a aplicação
do laser Nd:YAG com os mesmos parâmetros utilizados no grupo anterior.
Durante a aplicação dos lasers
tomou-se o cuidado de manter os canais radiculares sempre repletos com
a solução irrigante. A fibra óptica era introduzida
até o ápice e o laser acionado e a seguir, a fibra era deslocada
lentamente com movimento helicoidal, do terço apical até
à câmara pulpar coronária.
Uma vez preparado, os dentes foram imersos
em uma solução de sulfato de cobre a 1%, submetidos à
ação de vácuo por cinco minutos e mantidos por mais
30 minutos nesta solução, sem vácuo. Completada essa
etapa, os dentes foram imersos em um recipiente contendo solução
alcoólica de ácido rubeânico a 1%. O tempo de aplicação
de vácuo e permanência nessa solução foi idêntico
ao utilizado com a solução de cobre.
A seguir, as raízes dos dentes foram
seccionadas transversalmente, em cortes seriados com espessura de 150 micrometros,
lixados, lavados, desidratados e clarificados e montados em lâminas
para exame em microscopia óptica. A análise morfométrica
quantificou, por meio de uma grade de integração de 400 pontos,
a porcentagem de penetração de íons cobre nos canalículos
dentinários.
Os dados obtidos foram submetidos ao tratamento
estatístico que mostrou a normalidade e a homocedasticidade amostrais
e, assim, aplicou-se estatística paramétrica. O teste de
Tukey evidenciou que os terços cervical e médio apresentam
resultados estatisticamente semelhantes entre si (p>0,05) e maiores do
que a permeabilidade do terço apical. (p<0,05). O teste de Scheffé
mostrou maior permeabilidade dentinária em canais onde a água
destilada deionizada e laser Er:YAG foram utilizados e significantemente
diferentes que os demais tratamentos efetuados (p< 0,05). A utilização
da solução irrigante hipoclorito de sódio a 1% com
laser Nd:YAG, água destilada deionizada mais aplicação
de Nd:YAG e a utilização da água isoladamente, promoveram
os mais baixos valores da permeabilidade dentinária e, estatisticamente
semelhantes entre si (p>0,05). O uso da solução de hipoclorito
de sódio a 1% com e sem subseqüente aplicação
de laser Er:YAG apresentaram valores de permeabilidade dentinária
estatisticamente semelhantes entre si (p>0,05) e alocados em uma posição
intermediária entre os tratamentos estudados.
Brugnera Junior, Aldo. Estudo da ação dos lasers Er:YAG e Nd:YAG sobre a permeabilidade da dentina das paredes dos canais radiculares instrumentados. Tese de Doutorado - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - 2001.
The aim of this study was to evaluate the
effect of Er:YAG and Nd:YAG laser on radicular dentine permeability when
using distilled and deionized water and 1% sodium hypochlorite as irrigating
solutions.
Thirty human maxillary canines obtained
from laboratory stock and conserved in 0.1% thymol until use were divided
randomly into six groups of five teeth each. The root canals were instrumented
with K files and the step-back technique. The surgical diameter was achieved
4 files above the original anatomical diameter. Group I the teeth
were irrigated with distilled and deionized water; Group II the teeth were
irrigated with 1% sodium hypochlorite, Group III the teeth were irrigated
with distilled and deionized water and then Er:YAG laser was applied with
140 mJ, 15Hz, 300 pulses and 42J, group 4 the teeth were irrigated with
1% sodium hypochlorite and Er:YAG laser was applied in the same parameters
as Group III, Group V the teeth received irrigation with distilled and
deionized water and Nd:YAG laser application with 150 mJ, 15Hz, 2,25 W
and Group VI the teeth were irrigated with 1% sodium hypochlorite and Nd:YAG
laser was applied with the same parameters as Group V.
During laser application the teeth were
always filled with irrigating solution. The fiber optic tip was introduced
until the apex and the laser was activated. The tip was withdrawn gently
with helicoidally movement from the apex until the pulp chamber.
After preparation the teeth were immersed
in 10% copper sulfate for 30 minutes, in vacuum for the first 5 minutes.
The teeth were then placed in a 1% rubianic acid alcohol solution for the
same periods in solution and in vacuum as above.
Upon completion of this reaction the teeth
were sectioned transversally, in 150mm slices, and sanded, washed, dehydrated,
cleared and mounted on glass slides for microscopic examination. The quantification
of the penetration of copper ions was done by morphmetric analysis with
a 400-point grid.
The data was submitted to statistical analysis
and showed normality and homocedacity of the sample, parametric analysis
was applied. The Tukey test showed that the cervical and middle thirds
were statistically similar (p>0.05) and greater than the apical third (p<0.05).
The Scheffé test showed greater dentine permeability in root canals
where water and Er:YAG laser were used and significantly different from
the other treatments (p<0.05). The use of 1% sodium hypochlorite with
Nd:YAG laser, distilled and deionized water with Nd:YAG laser and the use
of water, were statistically similar (p<0.05) and increased less dentine
permeability when compared to other groups. The use of 1% sodium hypochlorite
with and without Er:YAG laser application presented statistically similar
permeability values (p>0.05) and positioned in an intermediate among the
treatments.
A presença da luz é importante
para a maioria das formas de vida no Planeta Terra. Essa forma de energia
é tão marcante nos seres humanos que, no Livro Sagrado, está
expressa em Genesis 1, 1 - 4 “...e Deus disse: Faça-se a luz. E
a luz foi feita. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas...”.
O fascínio do ser humano pela luz
é um arquétipo, que está registrado profundamente,
na mente humana. Desta forma cultuou o Deus sol, o Deus raio, a Deusa lua,
o Deus fogo, enfim, várias formas de emissão de luz.
Simultaneamente à adoração
das várias formas de agentes emissores de luz, esta foi utilizada
pelos seres humanos de forma terapêutica e científica.
Os egípcios usaram a fototerapia
para tratamento de certas afecções dermatológicas
e cientistas renomados dedicaram os seus estudos à luz, como Newton,
a ponto de a Física destinar um capítulo da sua área
do saber aos estudos luminosos, a Óptica.
Com o desenvolvimento científico,
observou-se que a luz é uma onda eletromagnética e que, dependendo
de seu comprimento de onda, pode ser visível ou invisível
ao olho humano.
No final do século XIX, a pesquisa
científica ocupou-se em estudar as emissões eletromagnéticas
com descobertas marcantes para a humanidade e, dentre elas, pode-se citar
os Raios X, as lâmpadas incandescentes, o rádio e o telégrafo.
Neste século, vimos surgir a televisão, o radar, o microondas,
as telecomunicações e os lasers.
Após a teoria da relatividade, Einstein,
em 1917, publicou uma pesquisa onde descreveu o terceiro processo de integração
da matéria, a emissão estimulada de radiação
e assim deu a possibilidade teórica de se construir o conceito sobre
um novo tipo de luz.
Posteriormente, Gold chamou esse novo tipo
de luz de “Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation” , que
ficou conhecido como o acrônimo L.A.S.E.R., que significa: ampliação
da luz por emissão estimulada de radiação.
Resumindo, o laser surge quando os átomos
de uma estrutura recebem energia externa que provoca um estado excitado
do sistema. Para compensar, a estrutura libera fótons, gerando energia.
Esse processo se repete e pode ser refletido dentro de um tubo, resultando
numa cadeia de emissão de fótons coerentes, que é
a amplificação da emissão inicial.
Esse sistema de emissão de onda
permite a obtenção de um feixe de luz altamente concentrado,
coerente e monocromático, cuja descoberta revolucionou a ciência
em seus mais diversos campos.
O desenvolvimento do laser dependeu da
participação de inúmeros investigadores, durante várias
décadas, sendo que dois cientistas americanos (Schawlow e Townes)
e dois cientistas russos (Basov e Projorov), trabalhando em lugares diferentes,
apresentaram quase que simultaneamente, trabalhos que demonstraram a possibilidade
de se construir aparelhos capazes de emitir esse tipo de luz. Pelo brilhante
feito, os quatro cientistas dividiram o premio Nobel de Física,
em 1964.
A construção do primeiro
aparelho de emissão de laser para a área médica foi
realizada por MAIMAN (1960), que utilizou o rubi como meio. A irradiação
do laser de rubi tem comprimento de onda eletromagnética situada
dentro da faixa de luz visível.
As pesquisas desenvolveram-se de modo rápido
e JAVAN et al. (1961) construíram o primeiro laser não cirúrgico
de He-Ne. JOHNSON (1961) construiu o laser cirúrgico de Nd:YAG,
PATEL et al. (1964) desenvolveram o laser de dióxido de carbono
(CO2) e KELLER e HIBST (1989) apresentaram o laser de Er:YAG. Cada um desses
lasers emite luz e diferentes comprimentos de onda e tem efeitos específicos
sobre os tecidos.
Na Odontologia, STERN e SOGANNAES (1964)
foram pioneiros com a utilização do laser de rubi aplicando-o
sobre o esmalte e a dentina e puderam constatar que esse laser reduzia
a permeabilidade da dentina, como também promovia a ablação
desses tecidos. Os autores observaram, também, aumento de temperatura,
que promoveu o aparecimento de micro-fraturas no esmalte e na dentina.
A partir desse trabalho pioneiro, inúmeros
pesquisadores dedicaram-se a estudar a ação de diversos tipos
de aparelhos lasers com alta intensidade de potência e seu emprego
para o preparo cavitário, condicionamento de dentina e esmalte,
esterilização de canais radiculares, remoção
de smear layer e cirurgia (HIBST e KELLER, 1989; KELLER e HIBST, 1989 e
1992 ; PAGHDIWALA, 1993; WIGDOR et al., 1995 e 1996 e 1998 ; MISERANDINO
et al., 1995; DOSTÁLOVÁ et al., 1997 ; KOMORI et al., 1997
; PELAGALLI et al., 1997; PELAGALLI et al., 1997; KELLER et al., 1998;
BRUGNERA JUNIOR e PINHEIRO, 1998; BRUGNERA JUNIOR, 1999; TAKEDA et al.,
1999; SHOJI et al., 2000; BERKITEN et al.,2000; PÉCORA et al., 2000
a. Na Endodontia, as investigações com os diferentes tipos
de lasers foram, e ainda estão sendo, realizadas de modo a se conseguir
estabelecer parâmetros seguros para sua aplicação clínica.
Assim, por exemplo:
1 - TANI (1987), CIUCCHI et al. (1989),
LEVY (1992), HARASHIMA et al. (1997), TAKEDA et al. (1998 a,b,c), MATSUOKA
et al. (1998) e TAKEDA et al. (1999), estudaram a ações dos
lasers na limpeza dos canais radiculares pela remoção dos
detritos e magmas dentinários.
2 - ÖNAL et al. (1993), ANIC et al.
(1996), RAMSKÖLD et al. (1997), LAN et al. (1999) e PÉCORA
et al. (2000 a), deram atenção especial às alterações
de temperatura que ocorrem na superfície externa das raízes,
após aplicar o laser no interior dos canais radiculares.
3 - HARDEE et al. (1994), RAMSKÖLD
et al. (1997) e AUN et al. (1999) investigaram a potencialidade da ação
de diferentes tipos de laser na desinfecção de canais radiculares.
4 - STABHOLZ et al. (1992), MISERANDINO
et al. (1995), SCHALLER et al. (1997), CUSSIOLI (1999) e PÉCORA
et al. (2000 a,b) avaliaram o efeito dos lasers sobre a permeabilidade
da dentina das paredes dos canais radiculares.
O interesse pelo estudo da permeabilidade
da dentina das paredes dos canais radiculares não é recente
e vários endodontistas dedicaram-se a estudá-la,
para se conhecer qual ou quais soluções irrigantes eram capazes
de aumentá-la, uma vez que o aumento da permeabilidade dentinária
está em função direta da limpeza, ou seja, com a remoção
de detritos e de magma dentinário (MARSHALL et al. (1960), ANDERSON
e RONNING (1962), STEWART et al. (1969), COHEN et al. (1970), ROBAZZA e
ANTONIAZZI (1976), MOURA et al. (1978), FROIS et al. (1981); PASHLEY et
al. (1981), PÉCORA (1985, 1990, 1992) e PÉCORA et al. (2000
b e 2000 c).
Observa-se uma preocupação
constante dos pesquisadores em estudar o efeito das soluções
irrigantes sobre a permeabilidade dentinária, e agora as atenções
estão voltadas para se conhecer o efeito de diferentes tipos de
lasers associados com diferentes tipos de soluções sobre
a permeabilidade dentinária, pois as soluções podem
interferir nas interações laser /dentina.
Assim, objetiva-se aqui a verificar a ação
dos lasers de Er:YAG e Nd:YAG sobre a permeabilidade da dentina das paredes
dos canais radiculares, após a instrumentação manual
e uso de soluções irrigantes.
A grande evolução da Odontologia
começou, sem dúvida, após a criação
da primeira Faculdade de Odontologia da América, em 1939 - Baltimore
College of Dental Surgeon.
Em nosso país, a Odontologia ganhou
espaço com o Decreto Imperial 9311 de 25 de outubro de 1884, que
criou os cursos de Odontologia nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador.
Incontestavelmente, as criações
das escolas foram fundamentais para o desenvolvimento de nossa profissão
pois, esses centros, não só ensinavam técnicas, como
começaram as investigações científicas.
Em 1886, M´QUILLEN, professor de
Anatomia, Fisiologia e Higiene do Dental College da Filadélfia,
publicou um trabalho descrevendo um método para examinar as estruturas
dentais por meio do microscópio. Com auxílio deste novo instrumento
científico, ele descreveu a dentina e demonstrou a presença
dos canalículos neste tecido.
A partir desse trabalho, divulgou-se
a utilização do microscópio como instrumento útil
para a investigação das estruturas dentais e, assim, os cirurgiões-dentistas
passaram a entender melhor as estruturas microscópicas do dente.
BOLL (1870) descreveu a presença
da camada de odontoblastos no órgão pulpar, responsabilizando
essas células pela formação de tecido dentinário.
ABBOTT (1880), investigando a dentina,
concluiu que os canalículos dos dentes decíduos apresentavam
maior diâmetro do que os dos dentes permanentes.
Assim, no final do século XIX, os
profissionais de Odontologia tinham noção de que a dentina
apresentava estrutura canalicular e, portanto, era um tecido permeável,
por sua própria natureza. Nesta época, os cirurgiões-dentistas
que se dedicavam ao tratamento endodôntico estavam preocupados em
conseguir uma solução auxiliar da instrumentação,
que promovesse não só a limpeza como a desinfecção
dos canais radiculares (KIRK, 1893; SCHREIDER, 1893; CALLAHAM, 1894).
KIRK (1910), em seu livro sobre Dentística
Operatória, apresentou bons conhecimentos a respeito da histologia
da dentina e chama a atenção dos clínicos para a existência
dos canalículos dentinários, inclusive calculando o seu diâmetro
entre 1,1 a 2,5 micrometros.
BEUST (1912), com o intuito de verificar
se o esmalte dental apresentava defeitos que pudessem favorecer a infiltração
de microrganismos para o interior do dente, elaborou uma pesquisa com dentes
extraídos, injetando, pelo canal radicular dos dentes, uma solução
alcoólica de fucsina. O tempo que o corante levava para penetrar
por toda a dentina coronária e atingir o esmalte variava de poucas
horas a duas semanas. Por meio de cortes do tecido dental, o autor constatou
que o corante penetrava pelos canalículos dentinários, muitas
vezes atingindo e atravessando todo o esmalte.
HANAZAWA (1917) realizou uma exaustiva
investigação sobre a dentina, constatando a presença
de prolongamentos dos odontoblastos no interior dos canalículos
dentinários. Esse autor confirmou que a ação de ácido
sobre a dentina, mesmo por pouco tempo, era capaz de promover um aumento
extraordinário nos diâmetros dos canalículos dentinários.
TURNER (1927) escreveu um capítulo
sobre Histologia dos dentes humanos no livro La Práctica Odontológica
de JOHNSON, no qual reforça o fato de a atividade do odontoblasto
poder ser estimulada pelas irritações pulpares produzidas
pela cárie e por abrasões, erosões e fraturas. Explicou
assim a formação da dentina secundária como um mecanismo
de defesa da polpa dental contra os agentes irritantes.
A inclusão de capítulos dedicados
à Anatomia e Histologia Dentais, mesmo em tratados de natureza primordialmente
clínica, demonstra a preocupação e o cuidado de seus
autores em ressaltar a estreita relação entre as atividades
clínicas aplicadas e os seus fundamentos biológicos.
BEUST (1931) investigou as reações
da dentina frente à irritação externa, por meio de
cortes histológicos de dentes e, com uso de corante, observou áreas
de maior permeabilidade. Com base em seus achados, conclui que uma ação
irritante na dentina pode ocasionar a completa obliteração
dos canalículos dentinários, e que a esclerose da dentina,
conseqüente à diminuição da luz da câmara
pulpar, constitui uma forma de resistência do dente à cárie.
O avanço das pesquisas, principalmente
no campo da Anatomia e Histologia, fez os cientistas se voltarem com mais
rigor para a investigação da permeabilidade do tecido dentinário,
sob os mais variados aspectos. Tanto assim que BODECKER e APPLEBAUM (1933),
com base em estudos histológicos, investigaram a variação
da permeabilidade dentinária e suas relações com a
ação dos profissionais na clínica. Nesse estudo analisaram
o comportamento da permeabilidade da dentina sob lesões cariosas,
e também a formação de dentina secundária.
Chegaram às seguintes conclusões: a dentina á mais
permeável nos dentes jovens; a permeabilidade desse tecido á
progressivamente reduzida com o avanço da idade do dente; a cárie
dental, a erosão e a abrasão causam alterações
no padrão da dentina, deixando-a menos permeável; e, finalmente,
dentes com polpa calcificada apresentam redução na permeabilidade
dentinária.
FISH (1933) estudou, com uma metodologia
bem disciplinada, a permeabilidade dentinária sob ação
do corante azul de metileno. Os dentes permaneciam no corante por um tempo
de 24 horas a temperatura de 370ºC. O autor observou que nas áreas
onde a dentina se apresentava hipermineralizada, a permeabilidade estava
acentuadamente reduzida.
BEUST (1934), estudando a dentina sob o
ângulo de sua permeabilidade, ratifica os achados de BODECKER e APPLEBAUM
(1933) e FISH (1933), ao admitir que, com o aumento da faixa etária
de um dente, a dentina tornava-se mais resistente à infiltração
de corantes.
Com o objetivo de analisar a permeabilidade
do esmalte e da dentina, WAINWRIGHT e LEMOINE (1950) empregaram uréia
marcada com C14. Os resultados evidenciaram que a difusão do radioisótopo
ocorreu no esmalte intacto. A penetração do radioisótopo
no esmalte foi rápida, ocorrendo em 10 minutos, quando comparada
com os corantes, que requereram um tempo de 10 a 50 dias. A penetração
do radioisótopo, no sentido do esmalte para a dentina, ocorreu com
maior intensidade próxima à linha gengival do que nas fissuras
oclusais. Os autores mostraram que o uso do radioisótopo propiciava
um método efetivo para estudar a permeabilidade do esmalte.
MARTIN (1951), usando metodologia idêntica
à de AMLER (1948), verificou que o cimento fosfato de zinco e a
precipitação de uma camada de fluoreto de cálcio foram
capazes de impermeabilizar a dentina ao P32.
WACH et al. (1955), com a intenção
de verificar a possibilidade da utilização da penicilina
no tratamento endodôntico, estudaram a sua capacidade de penetração
na dentina. Eles marcaram a penicilina com radioisótopo S35. As
investigações foram realizadas em dentes humanos removidos
cirurgicamente. Os autores concluíram que a penicilina radioativa
penetrava na dentina de todos os dentes. Com base nesses achados, eles
aconselharam a realização de mais investigações,
com o intuito de aplicar esse antibiótico na desinfecção
dos canais radiculares.
WAINWRIGHT e BELGOROD (1955) testaram os
seguintes radioisótopos em seus estudos sobre a permeabilidade dentinária:
C14-nicotinamida, C14-uréia, S35-thiouráia e C14-acetamide.
Os experimentos foram realizados em dentes humanos removidos cirurgicamente.
Os isótopos radioativos foram colocados no interior da câmara
pulpar e, a seguir, foi determinado o tempo gasto na sua penetração
em direção ao esmalte, durante um período de seis
minutos a três dias. Os autores concluíram que os radioisótopos
penetravam rapidamente na dentina comprovando os achados de WAINWRIGHT
e LEMOINE (1950).
Outra investigação importante
nesta fase da Ciência Dental foi realizada por MARSHALL et al. (1960).
Esses autores utilizaram 253 dentes humanos unirradiculares removidos cirurgicamente
e estudaram a permeabilidade da dentina radicular por meio de radioisótopos
(S35, I131, Na22 e P32), após a instrumentação dos
canais radiculares com a utilização de várias soluções
irrigantes, tais como: EDTA, soda clorada a 5,25% alternada com água
oxigenada a 3%, nitrato de prata amoniacal, solução de ácido
sulfúrico neutralizado com bicarbonato de sódio, água
oxigenada a 3% , soda clorada a 5,25%, eugenol e água como controle.
Para avaliar o maior ou menor grau de penetração dos radioisótopos
nos canalículos dentinários, os autores propuseram um método
de quantificação: o Índice de Permeabilidade Dentinária-(IPD).
Para calcular esse índice, os autores faziam o seguinte: após
obtida a auto-radiografia de cada hemisecção, dividia-se
a imagem da raiz do dente em três terços: cervical, médio
e apical. Cada uma dessas áreas era subdividida em três partes,
tanto no sentido longitudinal como no sentido transversal. A profundidade
da penetração foi quantificada observando-se a penetração
do radioisótopo ao longo dos canalículos dentinários,
indo da parede do canal ate o cemento. A penetração foi quantificada
em 1, 2 e 3, de acordo com o número de terços atingidos.
A extensão da penetração no sentido cérvico-apical
foi quantificada do mesmo modo. Assim, cada área da raiz (cervical,
média e apical) era dividida em nove quadrados. O índice
da Permeabilidade Dentinária foi determinado para cada área
da raiz pela multiplicação da média da profundidade
pela média da extensão. O mesmo resultado pode ser obtido,
também, pela contagem do numero de quadrados envolvidos em cada
área. Com base nesse experimento, os autores tiraram as seguintes
conclusões: 1 - As áreas cervical e média da dentina
radicular apresentaram-se permeáveis a todos os isótopos
testados, entretanto, a dentina da área apical da raiz apresentou-se
muito pouco permeável. 2 - O alargamento mecânico do canal
apresentou pouco efeito sobre a permeabilidade dentinária. 3 - O
ácido sulfúrico usado isoladamente ou com o bicarbonato de
sódio reduziu a permeabilidade da dentina aos isótopos, especialmente
ao S35, em todas as áreas. 4 - A água oxigenada e a soda
clorada usadas alternadamente proporcionaram um aumento significante na
permeabilidade dentinária. A água oxigenada e a soda clorada
usadas isoladamente também aumentaram a permeabilidade, mas em menor
intensidade do que quando utilizadas de modo alternado. 5 - O nitrato de
prata produziu um aumento acentuado na permeabilidade. 6 - As soluções
de EDTA, eugenol e bicarbonato de sódio diminuíram a permeabilidade
da dentina aos radioisótopos. 7- O S35 foi o isótopo mais
eficiente nesse estudo.
O Índice de Permeabilidade Dentinária
proposto por MARSHALL et al. (1960) foi a primeira tentativa no sentido
de quantificar a permeabilidade dentinária radicular.
ANDERSON e RONNING (1964) realizaram um
estudo onde demonstraram que a dentina submetida ao corte por instrumentos
rotatórios apresentava-se menos permeável aos corantes do
que a dentina submetida à fratura. Atribuiu-se essa diferença
a presença de débris formados durante o corte da dentina
pelos instrumentos rotatórios.
HAMPSON e ATKINSON (1964) estudaram a permeabilidade
da dentina radicular em dentes humanos removidos cirurgicamente, que foram
submetidos a instrumentação e irrigação com
o uso de várias soluções irrigantes. Para identificar
o grau de permeabilidade dentinária, os autores utilizaram soluções
radioativas de enxofre e iodo e, para quantificá-la, empregaram
o índice proposto por MARSHALL et al. (1960). Os resultados obtidos,
neste trabalho, confirmaram os achados de WACH et al. (1955) e MARSHALL
et al. (1960), em relação à permeabilidade dos terços
das raízes. Das soluções irrigantes estudadas, o Citrimide
e a Clorhexidina apresentaram-se mais efetivas em aumentar a permeabilidade
da dentina radicular, quando comparadas com a Cloramina, EDTA, Nitrato
de prata amoniacal, eugenol e o tricresol.
Neste mesmo ano, GOING (1964) observou
que, ao se remover a camada de esmalte, os canalículos dentinários
eram expostos, possibilitando a penetração de fluidos da
cavidade bucal. Isso pode ocorrer tanto com uma solução corante
de violeta-de-genciana, que é uma solução cujas moléculas
medem 12 Angströms, quanto com uma solução de radioisótopo,
cuja constituição iônica mobiliza partículas
que medem 4,32 Angströms, portanto, proporcionalmente muito menor.
Embora tanto um tipo de partículas como o outro possa penetrar pelos
canalículos dentinários livremente abertos, a aplicação
do material restaurador tende a modificar o comportamento desses dois tipos
de solução, dificultando as suas penetrações,
sendo que as suas eficiências variam em função do material
restaurador utilizado. O autor verificou que o emprego de vernizes forradores,
visando a impermeabilizar ainda mais o tecido dentinário à
penetração desses elementos, não conseguiu esse objetivo
de modo efetivo, tanto para o corante como para o radioisótopo.
MOSS (1965) investigou o assoalho da câmara
pulpar dos dentes decíduos, as alterações histológicas
encontradas na bifurcação e a hipótese de que os materiais
necróticos possam sair da câmara pulpar através do
assoalho e atingir a região inter-radicular. Para essa pesquisa,
o autor selecionou, de um total de 423 dentes decíduos examinados
em pacientes, apenas 56 que apresentavam as seguintes características
exigidas: mais da metade das estruturas das raízes estavam presentes
e rarefação na área entre as raízes. O trabalho
foi dividido em duas partes. Na primeira, verificou-se que o assoalho da
câmara pulpar de um dente infectado era mais permeável que
o de um dente sadio. Na segunda, pesquisou-se os tecidos do assoalho da
câmara pulpar dos dentes infectados comparativamente com os tecidos
dos dentes não infectados. Para o estudo de permeabilidade dentinária,
o autor utilizou o azul de metileno. O grau de penetração
foi baseado no tempo decorrido entre a colocação do corante
na câmara pulpar até o seu aparecimento no lado externo da
furca. Com base nessa metodologia, o autor concluiu que o assoalho da câmara
pulpar de um dente infectado apresentava-se mais permeável ao corante
do que nos casos de dentes sem infecção. O estudo histológico
evidenciou que, de todos os dentes analisados, 20% apresentavam canais
laterais ligando o assoalho da câmara pulpar à bifurcação.
Na tentativa de esclarecer dúvidas
quanto à permeabilidade do esmalte e da dentina fresca e coagulada,
ARWILL et al. (1965) levaram a efeito uma pesquisa bastante original. Eles
utilizaram 16 pares de pré-molares humanos intactos, removidos cirurgicamente
por razões ortodônticas. Após a remoção,
um dente de cada par foi fervido com solução de Ringer durante
cinco minutos, para coagular as substâncias orgânicas. A parte
apical das raízes foi cortada e a parte remanescente foi recoberta
com cera, de modo a formar um funil. A parte da coroa foi submersa em um
reagente contendo solução de Ringer com volume conhecido.
Com uma pipeta, foi colocada na câmara pulpar uma solução
saturada de NaCl com Na22. Em intervalos de tempos, eram colhidas amostras
da solução de Ringer e analisado o teor de Na22. Na segunda
parte do experimento, os outros dentes foram tratados de modo similar aos
dentes do primeiro grupo, com exceção do aquecimento. Os
resultados evidenciaram que a coagulação dos tecidos orgânicos
promovia uma redução efetiva na permeabilidade dentinária.
SMITH e VINCENSO (1968) propuseram uma
nova técnica para estudar a permeabilidade dentinária, com
a possibilidade de manter os dentes com as mesmas condições
do estado vivo. Os dentes removidos cirurgicamente foram colocados imediatamente
em meio de cultura, encubados com umidade próxima a 100%, à
temperatura de 37ºC. Uma solução teste de Na22,
I131 e Fe59 foi colocada em uma capa plástica ligada à coroa.
Um tubo de látex, em forma de T, foi ligado ao terço apical
do dente e servia como um coletor de perfusão. Os autores recomendaram
esta técnica para os estudos dos mais variados fatores que podem
influenciar na permeabilidade do esmalte e da dentina. Eles observaram
que a permeabilidade dos dentes variava com o tipo de isótopo utilizado.
O Fe59 não penetrou em nenhum dos dentes testados, por um período
de 24 horas.
MJÖR (1969) investigou a ação
do hidróxido de cálcio e do cimento de óxido de zinco-eugenol
sobre a permeabilidade dentinária. O autor preparou, in vivo, cavidades
classe V nas faces vestibulares e linguais de 22 pré-molares. Em
uma das cavidades, ele colocou uma base de hidróxido de cálcio
e, na outra, uma base de cimento de óxido de zinco-eugenol. A seguir,
essas cavidades foram restauradas com amálgama. Após um período
de observação que variou de 14 a 182 dias, os dentes foram
removidos cirurgicamente e as restaurações foram cuidadosamente
removidas. As superfícies externas dos dentes foram isoladas, com
exceção da abertura da cavidade e, a seguir, os dentes foram
imersos nas seguintes soluções: azul de metileno, P32 e S35.
O tempo de ação dessas soluções foi de 48 horas.
O autor observou que a base de hidróxido de cálcio permitiu
uma maior infiltração do S35 do que a base feita com o cimento
óxido de zinco-eugenol.
COSTA (1969), com o objetivo de investigar
a ação do ferrocianeto de prata no processo de inibição
das atividades dos microrganismos, observou não só a sua
capacidade bactericida e bacteriostática, mas ainda, a sua capacidade
em promover alta impermeabilização da dentina ao corante
azul de metileno. O ferrocianeto de prata é obtido pela aplicação
do ferrocianeto de potássio a 5%, seguida da aplicação
do nitrato de prata a 2% sobre a dentina. O autor chamou a atenção
para o alto valor da impermeabilização obtida por essa substância.
Com intuito de trabalhar com moléculas
tão pequenas como as dos radioisótopos, mas sem nenhum perigo,
ROSELINO e MINELLI (1969) efetuaram uma pesquisa em dentes de coelhos e
ratos, utilizando um método histoquímico, idealizado por
eles, capaz de detectar, localizar e identificar a presença do ácido
fosfórico na dentina. Para isso, prepararam cavidades classe V em
dentes desses animais, restaurando-as com cimento de silicato, a cujo líqüido
adicionavam sulfato de níquel numa proporção tal que
não interferisse no processo de consolidação do cimento.
Após 24 horas, os dentes eram removidos e seccionados longitudinalmente
no sentido vestíbulo-lingual e desgastados com lixas, até
que o corte atingisse cerca de 50 micrometros de espessura. Essas secções
histológicas eram lavadas em água corrente durante seis horas
para remover dos cortes os resíduos abrasivos da lixa, e então
submetidos à ação de uma solução alcoólica
de dimetilglioxima. A presença de ácido fosfórico
era denunciada por meio aditivo de sulfato de níquel presente no
líquido do cimento infiltrado na dentina, pela formação
do complexo Ni-dimetilglioxima, de intensa coloração vermelha.
Nos controles, selados com cimento de óxido de zinco e eugenol,
as reações foram todas negativas.
Ainda em 1969, STEWART et al., aproveitando
as características quelantes do EDTA e a propriedade anti-séptica
do peróxido de uréia, preconizaram uma nova solução
auxiliar de instrumentação com a consistência de um
creme. Eles a identificaram comercialmente com o nome de RC-Prep e testaram,
in vivo, o efeito antimicrobiano desse produto e, in vitro, a sua capacidade
em aumentar a permeabilidade dentinária, concluindo: o EDTA, associado
ao peróxido de uréia, foi efetivo na limpeza dos canais radiculares
e promoveu aumento significativo na permeabilidade dentinária.
A seguir, COHEN et al. (1970) compararam,
in vitro, a eficiência de várias soluções irrigantes
em promover ação sobre a permeabilidade dentinária
radicular. Eles testaram o hipoclorito de sódio a 5%, hipoclorito
de sódio a 3%, peróxido de uréia em glicerina anidra
associada ao hipoclorito de sódio a 5%, o EDTA com peróxido
de uréia (RC-Prep) mais hipoclorito de sódio a 5% e Zefirol
a 0,1%. Após a instrumentação dos canais radiculares,
utilizaram o azul de metileno para detectar a permeabilidade da dentina.
A penetração do corante foi calculada pelo índice
proposto por MARSHALL et al. (1960). Os resultados obtidos foram os seguintes:
ao RC-Prep, associado ao hipoclorito de sódio a 5%, promoveu um
aumento acentuado da permeabilidade nos três terços dos canais
radiculares.
MJÖR (1972) publicou um artigo sobre
a dentina coronária humana, onde relatou que a unidade estrutural
desse tecido inclui as matrizes intercanaliculares e pericanaliculares,
que são mineralizadas, e os conteúdos dos canalículos,
que compreendem o tecido mole, ou seja, o processo odontoblástico
e o espaço periodontoblástico. A pré-dentina não
é mineralizada e limita a dentina da polpa. A distribuição
normal dessas unidades depende do estágio de desenvolvimento do
dente. O autor citou, ainda, que um aumento na mineralização
da dentina humana é relatado como uma mudança dependente
da idade, cárie, atrição, e da aplicação
de certos materiais. A posição e a extensão das áreas
que exibem aumento de mineralização variam, marcadamente,
sob diferentes condições. O aumento da mineralização
da dentina pode reduzir sua permeabilidade. Para esse investigador, a dentina
secundária irregular, também conhecida como dentina reparadora
ou dentina terciária, á uma reação típica
que pode ocorrer sob uma gama de condições. O aumento da
dentina á importante biologicamente, mas deve-se ter em mente que
a dentina secundária irregular pode conter mais material orgânico
e ser menos mineralizada do que a dentina primária.
BRÄNNSTRÖM e GARBEROGLIO (1972),
por meio da microscopia eletrônica de varredura, estudaram os canalículos
dentinários e os prolongamentos dos odontoblastos da dentina de
pré-molares humanos. Os dentes foram fraturados com o objetivo de
deixar os canalículos abertos. Os canalículos eram examinados
desde a parte de contacto com a polpa até a junção
dentina-esmalte. Eles observaram que os prolongamentos odontoblásticos
não preenchiam todo o comprimento dos canalículos, mas apenas
um quarto de seu comprimento total.
ROBAZZA (1973), avaliou , in vitro, a permeabilidade
da dentina, após a utilização de diversas soluções
irrigantes na biomecânica dos canais radiculares. Para detectar a
maior ou a menor permeabilidade dentinária, o corante azul de metileno
a 0,5% foi injetado no canal radicular e os resultados foram analisados
de acordo com o método proposto por MARSHALL et al. (1960). Numa
das suas conclusões, o autor afirma que a utilização
do creme Endo-PTC, neutralizado pelo hipoclorito de sódio a 0,5%,
proporcionou maior permeabilidade no terço apical dos canais radiculares.
O estudo sobre a permeabilidade dentinária
da área da furca dos dentes primários despertou o interesse
de MACCHETTI e CAMPOS (1975). Os autores pesquisaram a permeabilidade dentinária
dessa área em 160 molares humanos primários. Após
as remoções cirúrgicas, os dentes foram preparados
de forma a remover a polpa ou tecidos decompostos. As câmaras pulpares
receberam os seguintes medicamentos: cimento óxido de zinco-eugenol,
formocresol, tricresol e formol a 10%. Esses medicamentos foram aplicados
isolados e, também, associados. O grupo controle não
recebeu nenhuma medicação. Decorrido o tempo padronizado,
os materiais foram removidos e, a seguir, os dentes foram imersos em solução
de iodo radioativo, por 24 horas. Findo esse tempo, realizaram-se auto-radiografias
que, após analisadas, possibilitaram as seguintes conclusões:
1 - o grau de permeabilidade da dentina, na área da bifurcação
das raízes dos molares decíduos foi em torno de 58%; 2- essa
permeabilidade foi bastante aumentada pelo formol a 10%, pelo tricresol
e pelo formocresol; 3- a pasta de óxido de zinco-eugenol mais formocresol
aumentava a permeabilidade da dentina, apenas nas primeiras horas; 4 -
o cimento óxido de zinco - eugenol diminuiu sensivelmente a permeabilidade
da dentina.
Mais uma vez, por meio da microscopia eletrônica
de varredura, GARBEROGLIO e BRANNSTRÖM (1976) analisaram os canalículos
dentinários humanos. Eles fraturaram a dentina coronária
de 30 dentes intactos, de faixas etárias diferentes, e examinaram
as várias distâncias em relação à polpa.
Próximo da polpa, encontraram um número de canalículos
dentinários estimados em 45.000 por milímetro quadrado e
com diâmetro médio de 2,5 micrometros. No meio da dentina,
observaram a presença de 29.500 canalículos dentinários
por milímetro quadrado com diâmetro de 1,2 micrometro. Na
parte periférica da dentina, ou seja, próximo à junção
amelodentinária, encontraram um número de 20.000 canalículos
por milímetro quadrado, com diâmetro de 0,9 micrometro. Os
diâmetros dos canalículos aumentavam, consideravelmente, quando
a superfície dentinária era descalcificada, em virtude da
remoção da dentina pericanalicular. Os prolongamentos odontoblásticos
eram vistos nos canalículos bem próximos à polpa.
A localização dos prolongamentos confirmou seus próprios
achados (BRÄNNSTRÖM e GARBEROGLIO, 1972).
ROBAZZA e ANTONIAZZI (1976) analisaram
o índice de permeabilidade dentinária promovido pelo uso
das seguintes soluções auxiliares da instrumentação
dos canais radiculares: EDTA, água oxigenada a 10 volumes e tergentol.
A permeabilidade dentinária radicular foi evidenciada por uma solução
de azul de metileno a 0,5%, durante um período de 24 horas. A quantificação
da permeabilidade foi realizada pelas duas formas propostas por MARSHALL
et al. (1960). Com base nesses experimentos, os autores concluíram
que existem diferenças estatísticas na obtenção
do índice da permeabilidade dentinária pelas formas propostas
por MARSHALL et al. (1960) e que a zona apical dos canais radiculares é
menos permeável ao corante azul de metileno.
MOURA et al. (1978) realizaram um estudo
sobre a ação do creme Endo-PTC neutralizado pelo líqüido
de Dakin, seguido de irrigação final com a associação
Tergentol - Furacim, na permeabilidade da dentina radicular. Esse estudo
foi realizado in vitro e in vivo. A pesquisa in vivo foi realizada do seguinte
modo: os dentes foram preparados endodonticamente, na clínica, com
o uso das soluções irrigantes citadas. Os canais foram preenchidos
com uma solução de azul de metileno a 2% durante 15 minutos
e, a seguir, os dentes foram removidos cirurgicamente e, decorrido o tempo
igual ao do grupo in vitro, ou seja, 24 horas, eles foram lavados e seccionados.
As hemisecções obtidas foram fotografadas em filmes coloridos
e, sobre elas, realizou-se o cálculo do índice de permeabilidade,
segundo MARSHALL et al. (1960). Os autores chegaram às seguintes
conclusões: 1 - não havia diferença estatística
significante na permeabilidade dentinária ao azul de metileno, quando
se comparava o estudo in vitro com o estudo in vivo. 2- O estudo in vitro
apresentou uma maior homogeneidade entre as três regiões (cervical,
média e apical), enquanto que no estudo in vivo constatou-se diferença
estatística entre as regiões cervical, média e apical.
3 - A zona apical foi a menos permeável ao azul de metileno.
PASHLEY e LIVINGSTON (1978) avaliaram o
efeito dos tamanhos das moléculas na taxa de penetração
na dentina. Discos de dentina foram preparados de acordo com a metodologia
apresentada por OUTHWAITE et al. (1976). As substâncias testadas
foram água, uréia, fluoreto de sódio, lidocaína,
glicose, sucrose, dextran, polivenilpirolidona e albumina. Os autores concluíram
que um aumento de 19 vezes no tamanho da molécula (1,9 Angströms
para a água e 37 Angströms para a albumina) revelou uma diminuição
de 100 vezes no coeficiente de permeabilidade dentinária. Eles também
observaram que a aplicação de um ataque ácido sobre
a dentina promovia um aumento da permeabilidade a essas soluções.
Esse fato reforça a idéia de que a permeabilidade é
determinada, em parte, pela natureza da superfície da dentina.
Alguns meses depois PASHLEY et al. (1978
a), com a metodologia do trabalho anterior, analisaram os fatores que influenciam
na resistência ao fluxo de líqüidos através da
dentina, observando os seguintes aspectos: 1 - Resistência de superfície
devido à presença de débris que podem ocluir os canalículos
dentinários;
2 - Resistência intracanalicular devido
à mineralização e irregularidades no interior dos
canalículos; 3 - Resistência pulpar devido à presença
dos prolongamentos odontoblásticos e corpos celulares no interior
dos canalículos. Com base nos resultados obtidos, os autores observaram
que a magnitude de resistência ao fluxo de líqüidos através
da dentina é dependente da presença ou ausência do
tecido pulpar, da presença ou ausência de débris na
superfície dos canalículos e, também, do grau de oclusão
dos canalículos. A resistência de superfície, ou seja,
aquela ocasionada pela presença de débris que ocluem os canalículos
dentinários, foi responsável por uma alta resistência
ao movimento de fluídos, o que representa cerca de 86% da resistência
total.
Continuando as investigações
sobre os fatores que interferem na permeabilidade da dentina humana, PASHLEY
et al. (1978 b) concentraram seus esforços para analisar o efeito
do grau de oclusão dos canalículos dentinários. Eles
utilizaram, para essa investigação, os radioisótopos
tritium (H3O) e a albumina marcada com I131 e calcularam a difusão
dessas substâncias através de um disco de dentina, com e sem
aplicação de ataque ácido (ácido cítrico
a 50% por dois minutos). Os autores concluíram que a obstrução
dos canalículos dentinários por uma camada de pó de
dentina (smear-layer), resultante do corte desse tecido com broca, diminui
o fluxo das soluções radioativas através da dentina.
A aplicação de ácido cítrico desobstruiu os
canalículos, favorecendo a penetração das soluções
testadas através da dentina. Esses achados confirmaram o trabalho
anterior.
Um ano mais tarde, PASHLEY (1979) apresentou
uma nova técnica com o objetivo de verificar a influência
da permeabilidade dentinária e do fluxo sangüíneo pulpar
na concentração de soluto. Para essa pesquisa, o autor preparou
dentes de cães, reduzindo a espessura da dentina coronária
até aparecer a cor avermelhada da polpa. A espessura da dentina
assim preparada ficou entre 0,7 a 1,0 mm. Desgastou-se, do mesmo modo,
a superfície vestibular e lingual da coroa dental. Após o
desgaste, submeteu-se a dentina ao ácido cítrico a 30% durante
dois minutos. Câmaras cônicas foram cimentadas nas superfícies
desgastadas, sendo que a câmara vestibular era preenchida com I131
e a lingual, com solução salina. Amostras do sangue dos cães
foram coletadas da artéria femural a cada 15 minutos e a taxa de
I131 era analisada. Após quatro horas de observações,
a circulação pulpar era interrompida pela morte do cão.
Uma vez cessada a circulação pulpar, o autor observou um
aumento acentuado de I131 na câmara da superfície lingual.
Esse achado mostrou que a perfusão da câmara lingual pode
ser utilizada para detectar mudanças na concentração
de radioisótopo no fluido intersticial da polpa. O autor acredita
ser possível identificar a relação entre as taxas
de soluções que atravessam a dentina e as taxas que são
removidas da polpa pela sua microcirculação. Normalmente,
diz o autor, em polpa sadia, a microcirculação pulpar é
suficiente para a remoção de substâncias que penetram
no fluído intersticial da polpa via canalículos dentinários.
Essa dinâmica tende a manter a concentração dos fluídos
intersticiais da polpa em baixos níveis. Qualquer situação
que produza uma redução substancial do fluxo sangüíneo
pulpar permite o acúmulo de substâncias que atravessam a dentina
exposta.
MICHELICH et al. (1980) investigaram, in
vitro, a penetração de bactérias streptococcus mutans
na dentina humana. A metodologia utilizada para esse trabalho foi similar
à adotada por OUTHWAITE et al. (1976). Os autores observaram que
as bactérias penetravam nos canalículos dentinários
quando a dentina foi submetida ao ataque ácido, mas não foram
capazes de penetrar em discos de dentina que não sofriam o ataque
do ácido. Eles observaram que a pressão hidrostática
de 240 cm/Hg era capaz de empurrar bactérias para o interior dos
canalículos dentinários. Os pesquisadores chamaram a atenção
para esse fato, pois a pressão durante o ato mastigatório
é muito maior.
BOYER e SVARE (1981) investigaram o efeito
produzido por instrumentos rotatórios sobre a permeabilidade da
dentina. Eles cortaram a dentina com brocas de aço carbide e de
diamante e verificaram que esse tecido sofria redução em
sua permeabilidade, independentemente do tipo de brocas utilizadas.
FRÓIS et al. (1981) propuseram um
novo método de avaliação da permeabilidade dentinária
que analisa volumetricamente a penetração do azul de metileno
na dentina do canal radicular. Nesse estudo, foram realizados cortes transversais
de milímetro em milímetro em toda a extensão do canal
radicular, a fim de se obter cones truncados que permitissem estabelecer
a porcentagem de volume da dentina corada. Os autores concluíram
que esse método proporcionava dados mais confiáveis que os
métodos de MARSHALL et al. (1960).
PASHLEY et al. (1981) estudaram o efeito
da remoção do smear-layer sobre a permeabilidade dentinária.
Essa camada foi removida com ataque de ácido cítrico a 6%
por tempos que variavam entre cinco a 60 segundos. Com base nos resultados
obtidos, eles concluíram que a aplicação de ácido
cítrico por cinco segundos removia muito dessa camada, mas a permeabilidade
dentinária aumentava, ao máximo, após a aplicação
do ácido por 15 segundos. Os resultados dessa pesquisa comprovaram
os achados de BOYER e SVARE (1981).
Novamente, ROBAZZA et al. (1981) investigaram,
in vitro, as possíveis variações da permeabilidade
da dentina radicular em dentes humanos removidos cirurgicamente, frente
às diversas soluções auxiliares usadas na instrumentação
do canal radicular. O corante azul de metileno foi utilizado para revelar
a permeabilidade dentinária, e sua quantificação foi
obtida pelo método de MARSHALL et al. (1960). Esses autores concluíram
que a zona apical do canal radicular era menos permeável ao corante.
PASHLEY et al. (1982) investigaram, in
vitro, a influência do plasma, dos constituintes salivares e das
bactérias sobre a permeabilidade da dentina. O método utilizado
nesse estudo foi o mesmo empregado nos trabalhos anteriores desses autores.
Pelos resultados obtidos, ficou claro que o plasma, os constituintes salivares
e as bactérias são capazes de promover uma efetiva redução
na permeabilidade da dentina. Os autores chamam a atenção
para o fato de que esses resultados podem explicar o mecanismo espontâneo,
observado pelos clínicos, de diminuição da sensibilidade
da dentina após as terapias periodontais.
PASHLEY et al. (1983) investigaram, in
vitro, o efeito do preparo cavitário na permeabilidade dentinária.
Como conclusão, eles observaram que ocorria uma grande redução
na permeabilidade da dentina após o preparo cavitário, desde
que não se utilizasse o ataque ácido. Esses achados estão
de acordo com os de BOYER e SVARE (1981) e PASHLEY et al. (1981).
Continuando as investigações
sobre a permeabilidade da dentina, PASHLEY et al. (1983) pesquisaram o
efeito da temperatura na condutividade hidráulica desse tecido.
Eles verificaram as alterações com temperaturas de 10, 20,
30 e 50ºC em dentina com e sem a aplicação de ataque
ácido. O aumento da temperatura de 10 até 50ºC proporcionou,
em dentes sem ataque ácido, um aumento de 1,8 vezes na penetração
de fluído através da dentina. O ataque ácido proporcionou,
com as mesmas variações de temperatura, um aumento de quatro
vezes na permeabilidade dentinária.
Na tentativa de elucidar a permeabilidade
radicular dos molares primários humanos, BENGSTSON et al. (1983)
realizaram uma investigação, in vitro, onde testaram os efeitos
dos medicamentos Tricresol Formalina, ENDO-PTC neutralizado com líquido
de Dakin e a água destilada sobre a permeabilidade dentinária
desses dentes. A detecção da permeabilidade foi realizada
por meio do azul de metileno e a quantificação foi realizada
pelo método de MARSHALL et al. (1960). Esses autores concluíram
que o ENDO-PTC promoveu aumento na permeabilidade dentinária
radicular nos dentes testados.
Como a via de penetração
de líqüidos através da dentina é pelos canalículos
dentinários, fica marcante o interesse em se conhecer a quantidade
de canalículos por unidade de área, bem como a sua distribuição
ao longo do dente e, ainda, se o envelhecimento determina mudanças
na estrutura da dentina. Assim, CARRIGAN et al. (1984) realizaram um estudo,
com auxílio do microscópio eletrônico de varredura,
em dentes humanos permanentes removidos cirurgicamente de pacientes nas
seguintes faixas etárias: 20 a 34, 35 a 44, 45 a 54, 55 a 79 e acima
de 80 anos. Após analisarem a dentina da cavidade pulpar, eles concluíram
que o numero de canalículos da região cervical e média
do dente é praticamente a mesma e diminui, acentuadamente, na região
apical. Esses números diminuem, também, com o aumento da
idade.
PÉCORA (1985) estudou a permeabilidade
da dentina radicular em caninos humanos após a instrumentação
manual dos canais radiculares, com o uso de diversas soluções
irrigantes, tais como: líquido de dakin, solução de
milton, soda clorada, soda clorada alternada com água oxigenada,
EDTA, RC-PREP mais Soda Clorada, tergentol-furacin, Endo-PTC neutralizado
com líqüido de dakin e água como controle. A permeabilidade
da dentina radicular foi estudada por meio de cortes transversais,
com a adoção de um método histoquímico. A quantificação
dos níveis de permeabilidade foi realizada por meio de análise
morfométrica. Com base nos resultados, concluiu-se que as soluções
halogenadas e a de EDTA foram as que mais aumentaram a permeabilidade da
dentina radicular.
Em 1986, PASHLEY et al. investigaram a
efetividade do hidróxido de cálcio em reduzir a permeabilidade
dentinária. Para esse intento, eles utilizaram discos de dentina
com um milímetro de espessura, obtidos de molares humanos inclusos
removidos cirurgicamente, de acordo com a metodologia preconizada por essa
equipe de pesquisadores. Observaram que uma camada de smear sobre a superfície
da dentina do disco reduzia a permeabilidade desse tecido em 99%, e que
a aplicação tópica de uma pasta obtida pela mistura
de hidróxido de cálcio e água, sobre a superfície
da dentina livre de smear, era capaz de reduzir em muito a permeabilidade
da dentina aos líquidos. Assim, demonstraram a efetividade do hidróxido
de cálcio em reduzir a permeabilidade dentinária.
Como as pesquisas indicavam uma grande
eficiência da instrumentação ultra-sônica em
promover melhor limpeza dos canais radiculares do que a instrumentação
convencional, FELLER et al. (1986) realizaram um estudo comparativo entre
essas duas técnicas de instrumentação em relação
à permeabilidade da dentina radicular. Utilizaram, para essa investigação,
dentes unirradiculares humanos removidos cirurgicamente que, após
a instrumentação dos canais radiculares, foram submetidos
ao azul de metileno para detectar a permeabilidade dentinária. A
intensidade de penetração do corante foi avaliada por meio
de um planímetro e concluíram que, a permeabilidade dentinária
foi discretamente aumentada pelo emprego do ultra-som.
PASHLEY et al. (1987) investigaram a variabilidade
regional na permeabilidade da dentina humana com a metodologia baseada
em discos uniformes obtidos de dentes molares inclusos removidos cirurgicamente.
Essa pesquisa possibilitou aos autores afirmarem que a permeabilidade na
dentina coronária não é uniforme, pois a penetração
de fluídos ocorreu com maior intensidade na periferia do que no
centro do disco. A região dos corpos pulpares apresentou-se mais
permeável que a dentina situada entre eles.
TANI e KAWADA (1987) investigaram a possibilidade
de remover a smear layer pela irradiação com lasers de Nd:YAG
e de CO2 de modo desfocados. A análise por meio da microscopia eletrônica
de varredura evidenciou que esses lasers, aplicados de modo desfocado,
induziam alterações na smear layer; e salientaram que, dependendo
do nível de irradiação, a smear layer que estava sobre
a dentina intercanalicular poderia ser satisfatoriamente removida e a smear
plug presente na luz dos canalículos dentinários podia derreter-se,
obliterando-os.
ZUOLO et al. (1987) estudaram o efeito
do EDTA e suas associações com tensoativos aniônicos
e catiônicos, na permeabilidade da dentina radicular de incisivos
superiores humanos removidos cirurgicamente. Eles utilizaram o método
histoquímico para detectar a permeabilidade dentinária radicular.
A associação mais efetiva em promover aumento da permeabilidade
foi a do EDTA com um tensoativo catiônico (EDTAC).
SILVA (1988) verificou, in vitro, a influência
da instrumentação ultra-sônica quando comparada com
a instrumentação manual na permeabilidade dentinária
radicular, trabalhando em pré-molares superiores humanos com raízes
fusionadas. Para detectar a permeabilidade, utilizou o método histoquímico
de PÉCORA (1985). A análise dos valores obtidos mostrou melhores
resultados de permeabilidade nas raízes vestibulares. Não
foi encontrada diferença na permeabilidade dentinária com
o uso dessas técnicas de instrumentação
KELLER e HIBST (1989) e HIBST e KELLER
(1989) realizaram pesquisas com o laser Er:YAG e esclareceram que o Érbio
é um elemento metálico do grupo de terras raras que ocorre
com ítrio e é utilizado como uma fonte de radiação
de laser O Er:YAG é um laser pulsátil que tem um máximo
de emissão na região infravermelho a 2,94 µm ou 2940
nm. O interessante é que a água absorve fortemente este comprimento
de onda e isto é um dado importante para a aplicação
do laser Er:YAG sobre os tecidos duros. A performance cirúrgica
com um laser Er:YAG, aparentemente resulta da energia radiante absorvida
pela água do tecido alvo e o aquecimento de fervura produz vapor
de água. O vapor de água aumenta a pressão no sítio
cirúrgico, até ocorrer uma micro-explosão e, assim,
uma pequena parte do tecido é ablacionado.
PÉCORA (1990) estudou a permeabilidade
do assoalho da câmara pulpar de molares inferiores humanos com raízes
separadas, após a instrumentação dos canais radiculares
pelas técnicas manual e ultra-sônica, utilizando-se a água
destilada e o líqüido de Dakin como soluções
irrigantes. Para evidenciar a permeabilidade dentinária, o autor
utilizou o mesmo método empregado em 1985. O autor não observou
diferença estatística na permeabilidade da dentina do assoalho
da câmara pulpar com o uso dessas duas soluções irrigantes
e dessas duas técnicas de instrumentação. O exame
histológico, por desgaste, evidenciou que o assoalho da câmara
pulpar dos molares inferiores estudados apresentava dentina reparadora,
a qual é mais amorfa, menos canalicular e menos regular que a dentina
primária.
BONIN et al. (1991) demonstraram que a
redução da permeabilidade dentinária a substâncias
vaso-ativas, após a exposição da dentina ao
laser de CO2 em cavidades preparadas em dentes vitais de cães, era
evidenciada pela variação nas medidas das pressões
pulpares.
STABHOLZ et al. (1992) observaram uma redução
na permeabilidade dentinária em apicectomia. Eles observaram uma
significante redução da permeabilidade dentinária,
após aplicação de laser Nd:YAG, ao corante azul de
metileno em raízes seccionadas com e sem retro-obturação
com amálgama.
LEVY (1992) descreveu um método
para realizar a limpeza e dar a forma ao canal radicular com o uso do laser
Nd:YAG. O autor tenta, neste trabalho, dar início à
“instrumentação” dos canais radiculares, com o uso do laser
e salienta ter obtido uma grande melhora na limpeza dos canais com selamento
dos canalículos dentinários, pela fusão da dentina
e sem nenhum débris. Ainda, segundo o autor, essa fusão dos
canalículos dentinários poderia isolar microrganismos e componentes
orgânicos presentes nesses canalículos e evitar sua proliferação
no canal principal. Justificando seus achados, o autor relata que esses
resultados são devido ao modo que o laser corta a dentina. O efeito
plasma é atingido durante o alargamento do canal radicular e ocorre
a transformação da dentina em gás ionizante, o qual
não deixa nenhum débris tanto na parede, como na luz dos
canais radiculares. Assim, abre novas perspectivas, pois suplanta a outras
técnicas, até aqui conhecidas, para a limpeza dos canais
radiculares.
PÉCORA (1992) estudou o efeito das
soluções de Dakin e de EDTA isoladas, alternadas e misturadas
sobre a permeabilidade da dentina radicular. O autor usou o método
histoquímico para revelar a permeabilidade dentinária e quantificou-a
por meio da análise morfométrica; concluiu que, tanto o uso
alternado como misturado dessas soluções, promoveu maior
aumento da permeabilidade em relação ao uso dessas soluções
de modo isolado.
PINHEIRO et al. (1992) estudaram um método
para diminuir os efeitos térmicos que o laser de CO2 provoca nos
tecidos bucais, devido ao aumento de temperatura que se obtém pela
interação laser tecido. Este estudo foi realizado com ratos
Sparague-Dawley que recebiam aplicações do laser CO2 convencionalmente
e com resfriamento do tecido em aproximadamente 10ºC. Os resultados
sugeriram que o pré-resfriamento dos tecidos bucais anterior à
cirurgia com laser resultam em uma diminuição dos danos térmicos.
ÖNAL et al. (1993) trataram, in vitro,
os canais de incisivos centrais superiores humanos removidos cirurgicamente,
com laser de CO2, e constataram abertura dos canalículos dentinários
com áreas de fusão de hidroxiapatita. Constataram, também,
que a temperatura, durante o tratamento, não ultrapassava 40ºC.
WIGDOR et al. (1993) comparam o aumento
da temperatura promovido pelo uso dos lasers de Nd:YAG, CO2 e Er:YAG sobre
as estruturas dentais. Esses autores concluíram, em suas pesquisas,
que o laser de Er:YAG promoveu os menores danos térmicos que os
demais lasers, ou seja, de Nd:YAG e o de CO2. Este trabalho salienta que
o laser de Er:YAG produz menor dano térmico aos tecidos dentais
e os autores o recomendam sua aplicação, por ser mais seguro
para a terapia endodôntica e para ablação do esmalte
e da dentina.
A meta para se obter um meio ativo de laser
que promova a ablação do esmalte e da dentina com uma mínima
ou nenhuma alteração térmica vem sendo investigada
de modo persistente. Espera-se e deseja-se que, num futuro próximo,
este problema esteja completamente resolvido.
As investigações científicas
sobre a possibilidade do emprego seguro do laser de Nd:YAG na Odontologia
continuou e no ano de 1994 dois trabalhos salientaram a importância
do uso desse tipo de laser na desinfecção dos canais radiculares
contaminados (HARDEE et al 1994 e ROONEY et al 1994).
MISERANDINO et al. (1995) investigaram
o efeito do laser Nd:YAG sobre a permeabilidade dentinária das paredes
dos canais radiculares e constataram redução dessa permeabilidade.
Para esses autores, o laser pode, num futuro próximo, oferecer vantagens
no preparo e desinfecção dos canais radiculares, pois obtêm-se
canais limpos e com obliteração de canalículos dentinários.
ANIC et al. (1996) investigaram a permeabilidade
e as alterações de temperatura que ocorrem nas paredes dos
canais radiculares, após aplicação dos lasers Nd:YAG,
CO2 e Argônio. A permeabilidade foi observada pela penetração
do azul de metileno na dentina. Os autores constataram aumento na permeabilidade
dentinária após aplicação dos três tipos
de lasers, tanto no terço cervical e médio. Redução
na permeabilidade no terço apical foi observado após o uso
do laser de CO2 e de Nd:YAG. A temperatura variou de um mínimo
de 10,1ºC com o uso do laser de CO2 e de um máximo de
54,8ºC com o uso do laser de Argônio. Nos parâmetros utilizados,
os três tipos de lasers apresentaram alterações nas
superfícies dentinárias, tais como crateras e glazeamento.
GUIGNES et al. (1996) avaliaram o efeito
das as preparações dos canais radiculares com instrumentação
manual, ultra-sônica e manual, associada ao uso de solução
de hipoclorito de sódio e solução de EDTA na permeabilidade
dentinária radicular. A permeabilidade dentinária foi avaliada
pela condutância hidráulica do tecido. Os autores concluíram
que há uma relação inversamente proporcional, entre
a permeabilidade dentinária radicular e a quantidade da smear layer,
observado por meio da microscopia eletrônica de varredura. Em outras
palavras, quanto maior a quantidade da smear layer presentes nas paredes
dos canais radiculares, menor a permeabilidade dentinária.
HARASHIMA et al. (1997) investigaram, in
vitro, o efeito da irradiação com laser de Nd:YAG na remoção
de débris e smear layer em canais radiculares, com 1 e 2W com 20
pps. Por meio da microscopia eletrônica de varredura os autores concluíram
que o laser de Nd:YAG é útil para a remoção
da smear layer e de débris tanto com 1W como com 2W, porém,
com 2W e 20 pps, os autores observaram um derretimento das estruturas das
paredes dos canais radiculares.
Preocupados com o selamento dos canalículos
dentinários relatados nos trabalhos que utilizaram laser de Nd:YAG,
LIU et al. (1997) avaliaram a profundidade de selamento dos canalículos
dentinários após a aplicação deste laser com
30mJ e 10 pulsos por segundo, aplicados por dois minutos. Eles prepararam
amostras de dentina, promoveram a abertura dos canalículos dentinários
e dividiram as mostras em três grupos. Em dois grupos irradiaram
com o laser Nd:YAG e um grupo foi deixado sem irradiação.
A análise pelo microscópio eletrônico de varredura
evidenciou que no grupo não irradiado os canalículos estavam
abertos e no grupo irradiado, os canalículos apresentavam-se fechados
com dentina derretida. Avaliando a profundidade de obturação
dos canalículos dentinários detectaram espessuras que poderiam
atingir quatro micra. Este trabalho colabora para evidenciar a obliteração
dos canalículos dentinários com a aplicação
deste laser nos parâmetros utilizados, o que denota sua capacidade
de ser utilizado como agente na remoção da hiperestesia dentinária.
SCHALLER et al. (1997) investigaram o efeito
do laser Nd:YAG sobre a permeabilidade dentinária. Eles prepararam
40 discos de dentina do terço coronário de terceiros molares
não cariados. Os discos foram submetidos á aplicação
de laser com três tempos diferentes. Um grupo foi submetido a 3x60
segundos com 60 mJ , outro com 3x60 segundos com 90mJ e o último
grupo, 3x60 segundos e 120 mJ. Os resultados salientaram que a dentina
tratada com laser Nd:YAG normalmente aumenta a permeabilidade se está
recoberta com smear layer e esta permeabilidade é muito aumentada
quando a dentina sofreu ataque ácido.
RAMSKÖLD et al. (1997) estudaram o
efeito térmico e as propriedades antimicrobianas do laser de Nd:YAG
com o objetivo de estabelecer, para uso clínico, níveis seguros
de energia para a irradiação de canais radiculares. Para
verificar o efeito térmico, utilizou-se uma fibra óptica
de 300µm e com 3W e 1,8J/ mm2 e para avaliar o efeito
antimicrobiano utilizou-se 3W , 50Hz e 60 mJ e usou-se uma fibra óptica
de 400µm com um período de 15 segundos. Durante a irradiação
dos canais radiculares, as fibras eram movidas suavemente para cima e para
baixo com movimentos de forma helicoidal. Para detectar as alterações
de temperatura na superfície externa das raízes, durante
o ato de irradiação do canal, foi utilizado um par termoelétrico.
Os tempos de aplicação da irradiação foram
de 30 segundos diretos em um grupo e com 15 segundos de irradiação
com intervalo de 15 segundos, em outro grupo. Para detectar a capacidade
antimicrobiana os autores utilizaram dois tipos de bactérias: Enterococcus
faecalis e Streptococcus mitis. Os autores concluíram que
a irradiação do canal durante 30 segundos ocasionava um aumento
(6ºC) maior de temperatura do que o uso de 15 segundos (3,9ºC)
e que os parâmetros utilizados foram eficientes em esterilizar os
canais radiculares.
TAKEDA et al. (1998 a, b) avaliaram a eficácia
do laser Er:YAG com 1W e 2W na remoção da smear layer e débris
do interior de canais radiculares. Os autores salientaram que tanto com
1W e 2W o laser de Er:YAG foi efetivo para realizar a tarefa de remoção
de débris e smear layer. Os autores salientaram, ainda, que é
extremamente importante que a fibra óptica toque todas as paredes
dos canais radiculares para que a ação do laser seja efetiva.
Eles observaram que as paredes que não foram tocadas pela fibra
óptica apresentavam-se com smear layer.
CAMPS et al (1998) compararam, in vitro,
o efeito de três agentes dessensibilizantes na condutância
hidráulica da dentina. Para isto, os autores prepararam discos de
dentina obtidos de terceiros molares recém removidos cirurgicamente
e utilizaram-nos para a medida da condutância hidráulica.
Os agentes dessensibilizadores testados reduziam a permeabilidade dentinária
mas, não havia diferenças entre eles.
TAKEDA et al. (1998a) levaram a efeito
outra pesquisa, onde compararam a ação de três tipos
de lasers (Argônio, Nd:YAG e Er:YAG) na remoção da
smear layer das paredes de canais radiculares, previamente, com instrumentação
manual. Os lasers foram aplicados com os seguintes parâmetros; laser
de Argônio (1W, 50mJ e 5Hz); laser de Nd:YAG (2W, 200 mJ e 20Hz)
e o laser de Er:YAG (1W, 100 mJ e 10Hz). Após a aplicação
dos lasers os dentes foram clivados para o exame em microscopia eletrônica
de varredura. Os autores observaram que o laser de Er:YAG fora mais efetivo
na remoção da camada de smear layer que os lasers de Argônio
e Nd:YAG.
MATSUOKA (1998) salientou o laser de Er:YAG
era muito eficaz na remoção da smear layer da região
apical do canal radicular.
Continuando seus estudos, TAKEDA et al.
(1998 a) analisaram as mudanças morfológicas que ocorriam
nas paredes dos canais radiculares, após a instrumentação
e irrigação convencional, e aplicação do laser
Er:YAG com os parâmetros de 1W, 100 mJ/pulso, 10Hz, durante três
e cinco segundos. Por meio do microscópio eletrônico de varredura,
os autores concluíram que as referidas paredes estavam livres de
débris e smear layer e com os canalículos abertos, quer com
aplicação de três e cinco segundos.
KUMAZAKI (1998) realizou uma investigação
para verificar o coeficiente de absorção de luz pelo esmalte
e dentina e salientou que os coeficientes para estes tecidos ficavam entre
os comprimentos de onda de três a 10 µm. Um comprimento de
onda na faixa de três µm corresponde ao comprimento de onda
gerado pelo laser de Er:YAG e o comprimento de onda na faixa de 10 µm
corresponde ao emitido pelo laser de CO2. A aplicação do
laser de Er:YAG gera calor quando aplicado sobre os tecidos duros, pela
indução do rompimento da ligação do grupo
(OH-) da hidroxiapatita e também pela evaporação da
água da camada existente sobre a superfície da estrutura
cristalina dos tecidos. O rompimento dessas ligações causa
microexplosões responsáveis pela ablação tecidual.
O laser de CO2 atua de modo diferente pois, com o comprimento de onda de
10 µm ele é absorvido pelo CaCO3 e PO4 presente no tecido
duro. O autor salienta que a ação do laser de CO2 é
um processo foto-químico e a ação do laser Er:YAG
é um processo foto-mecânico.
PINHEIRO et al. (1999) estudaram a ação
do laser CO2 na cirurgia apical, onde um dos grupos era irradiado
e no outro realizou-se cirurgias de apicetomia convencional e obturação
retrógrada com o amálgama de prata, não observando
diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos.
KOBA et al. (1999) estudaram o efeito do
laser de Nd:YAG durante o tratamento de 118 canais radiculares infectados
de cães. Os canais foram instrumentados de modo convencional até
a lima #40 e a seguir foram irradiados com o laser de Nd:YAG com 1W, 30
pps por um e dois segundos e com 2W, 30 pps por dois segundos. Os estudos
histopatológicos das regiões apicais desses dentes foram
realizados após dois, quatro e oito semanas. A inflamação
das regiões estudadas dos dentes que receberam a irradiação
do laser foi menor que a inflamação encontrada no grupo controle,
ou seja, o que recebeu somente a instrumentação manual. Com
base neste experimento, os autores sugerem que este tipo de laser pode
ser utilizado em tratamentos endodônticos, de dentes com canais radiculares
contaminados, e está na dependência dos parâmetros utilizados.
TAKEDA et al. (1999) estudaram o efeito
de três soluções irrigantes (EDTA, ácido fosfórico
e ácido cítrico) e dois tipos de lasers (CO2 e Er:YAG) sobre
a capacidade de remoção da smear layer do terço médio
e apical de canais radiculares instrumentados manualmente. Por meio do
microscópio eletrônico de varredura, os autores verificaram
que as soluções de EDTA, ácido fosfórico e
ácido cítrico não foram capazes de remover toda a
smear layer das paredes dos canais radiculares e a irradiação
com o laser de CO2 e Er:YAG possibilitaram a obtenção de
paredes livres da smear layer, sendo que os resultados obtidos com a aplicação
do laser Er:YAG foi superior.
LAN et al. (1999 a) avaliaram o efeito
do verniz contendo fluoreto de sódio e a irradiação
com laser Nd:YAG na obliteração dos canalículos dentinários.
Canalículos dentinários de amostras de dentina humana foram
submetidos à ação do verniz com fluoreto de sódio
e uma combinação do verniz com a aplicação
do laser Após os teste, os autores verificaram que o grupo
onde o verniz foi associado à aplicação do laser Nd:YAG
apresentavam canalículos dentinários obstruídos. Essa
associação possibilitava redução da permeabilidade
dentinária.
No mesmo ano, LAN (1999 c) estudou a elevação
de temperatura na superfície externa das raízes de dentes
submetidos ao tratamento, in vitro, dos canais radiculares com o laser
de Nd:YAG. Os parâmetros utilizados foram os de 50, 80, 100, 150
e 200 mJ/pulso com aplicação de 20, 25 e 30 pulsos por segundo.
O autor observou que a temperatura externa na superfície das raízes
não excedia a 10ºC quando a energia do laser era abaixo de
100mJ/pulso e 20 pulsos por segundo. O autor salienta que esse tipo de
laser pode ser utilizado no interior dos canais radiculares, desde que
o parâmetro fique abaixo de 100 mJ, para não causar injúrias
térmicas aos tecidos adjacentes à raiz do dente.
LAN (1999 b) investigou as alterações
das temperaturas nas superfícies externas das raízes, durante
a aplicação da irradiação com laser Nd:YAG
no interior dos canais radiculares. Utilizou-se dentes humanos unirradiculares
removidos cirurgicamente, que tiveram suas coroas removidas e as raízes
deixadas com 10 mm. Os canais radiculares foram instrumentados com um comprimento
de trabalho de 9 mm com a técnica step-back. As noventa raízes,
assim preparadas, foram divididas em três grupos. Os canais radiculares
receberam aplicação da radiação laser por meio
de uma fibra óptica movimentada de baixo para cima circularmente
e com amplitude de 1mm. O primeiro grupo recebeu a irradiação
com 20 pulsos/s; o segundo grupo, 25 pulsos/s e o terceiro recebeu 30 pulsos/s.
As energias avaliadas foram de 60, 80, 100, 150 e 200 mJ/pulso em cada
subgrupo. O efeito térmico foi captado por um par termoelétrico.
O autor concluiu que a elevação da temperatura não
excedia a 10ºC, quando a irradiação com laser
Nd:YAG era aplicada abaixo de 100 e 20 pps; 80 mJ e 25 pps e 60 mJ e 30
pps, respectivamente.
KESLER et al. (1999) avaliaram comparativamente,
por meio da microscopia eletrônica de varredura e de microscopia
óptica, a ação do laser 15F de CO2 e da instrumentação
convencional, a limpeza e a permeabilidade dentinária dos canais
radiculares. O laser utilizado apresenta comprimento de onda de 10,6 µm,
duração do pulso de 50 milisegundos, energia por pulso de
0,25J, densidade de energia de 360J/cm2. Uma fibra metálica flexível,
com 300 µm de diâmetro e 20 mm de comprimento, foi testada.
A aplicação do laser foi de 20, 40 e 60 pulsos em cada canal
com intervalo de um segundo entre os pulsos. Os resultados evidenciaram
que o uso deste laser melhorava a limpeza dos canais radiculares e apresentava
canalículos dentinários parcialmente obturados, quando se
utilizava baixo nível de energia e canalículos totalmente
obliterados com uso de alta energia e com redução da permeabilidade
dentinária em conseqüência dessas obturações.
AUN et al. (1999) avaliaram, in vitro,
o efeito da irradiação com laser de Nd:YAG em canais radiculares
contaminados com Streptococcus sanguis AYCC105556. Os canais radiculares
de dentes humanos removidos cirurgicamente foram contaminados e irradiados
com laser de Nd:YAG, com parâmetros de 15Hz, 100 mJ, 1,5W para um
tempo de 10, 20 e 30 segundos. A fibra óptica de 300 µm foi
aplicada no interior dos canais radiculares com suave movimento helicoidal
do ápice para a cervical. Essa pesquisa evidenciou que, no tempo
de irradiação de 20 e 30 segundos, ocorria redução
da quantidade de bactérias no interior do canal radicular.
CECCHINI et al. (1999) investigaram a possibilidade
de se determinar parâmetros seguros para a utilização
do laser de Nd:YAG e Er:YAG no interior dos canais radiculares. Para isto
utilizaram 60 dentes humanos removidos cirurgicamente, que tiveram seus
canais radiculares instrumentados manualmente até lima #45. Para
o laser de Nd:YAG utilizou-se parâmetros de 60 e 100 mJ, 10 e 15Hz
com tempo de aplicação de 8 a 12 segundos e com utilização
de uma fibra óptica de 300 µm. Para o laser de Er:YAG, os
parâmetros foram de 40 e 80 mJ e 10Hz com os mesmos tempo de aplicação,
e a fibra óptica apresentava 375 µm de diâmetro. As
fibras ópticas, nos dois tipos de lasers, foram aplicadas com movimentos
circulares e com velocidade de 2mm/s. Os resultados obtidos evidenciaram
que a temperatura detectada na superfície externa das raízes,
durante a aplicação dos lasers, não ultrapassava valores
de 5ºC, quando as fibras eram utilizadas com movimentos circulares,
na velocidade estabelecida. A microscopia eletrônica de varredura
mostrou que a irradiação dos canais radiculares com o laser
de Er:YAG, nos parâmetros estudados, promovia superfície dentinária
livres da débris e smear layer e com um grande número de
canalículos dentinários abertos. Os canais irradiados com
laser Nd:YAG apresentaram, também, paredes limpas com derretimento
e recristalização da dentina e remoção da smear
layer.
PÉCORA et al. (2000 a) determinaram
o aumento da temperatura na superfície externa das raízes
dos dentes, após uso de laser Er:YAG em canais radiculares previamente
instrumentados. Os parâmetros foram de 15J, 30J e 45J com 15Hz e
140 mJ/pulso. Os canais radiculares foram irradiados com laser de dois
modos, ou seja, com água como irrigante e sem água. A temperatura
da superfície externa das raízes foi detectada por um par
termoelétrico de cobre-constantan. Os resultados obtidos foram os
seguintes: a) quando a água era utilizada como irrigante ao mesmo
tempo em que se aplicava o laser, os aumentos de temperatura foram em média
de 6,9ºC para 15J, 11,8ºC para 30J e de 9,6ºC para 45J.
b) Sem solução irrigante o aumento da temperatura externa
das raízes foi bem mais alta. Assim, os autores recomendam boa refrigeração
e irrigação durante o uso do laser no interior dos canais
radiculares, para evitar aquecimento.
SHOJI et al. (2000) examinaram o efeito
da irradiação com laser Er: YAG com um novo tipo de fibra
óptica no preparo e limpeza de canais simulados. A fibra óptica
apresenta uma ponta cônica com inclinações de 230 graus.
Um modelo de canal foi preparado em dentina bovina com dimensões
de 0,5 x 5 mm. A fibra óptica foi introduzida no canal simulado
e movida do ápice para o orifício a uma velocidade de 0,75
mm/s. A energia de 10 mJ/10 pps causou uma ampliação de dimensões
do canal em 106,5% e com 20 e 40mJ/10 pps causou aumento de 116,3% e 118,6%
respectivamente. O exame por meio de microscopia eletrônica de varredura
indicou que a superfície preparada apresentava-se mais limpa do
que a dentina preparada a broca. A forma cônica da ponta de fibra
óptica aumenta a capacidade de ablação de dentina
e reduz o tempo de preparo.
SOUSA NETO et al. (2000) avaliaram, in
vitro, o efeito da irradiação do laser Er:YAG aplicado sobre
a dentina humana, na adesão dos cimentos obturadores de canais radiculares
(Grossman, Endomethasone, N-Richert e Sealer 26 ). O laser foi utilizado
nos parâmetros de 4Hz, 200 mJ, 2,25W, energia total de 62J, com 313
pulsos. A análise da adesão foi realizada por meio de uma
máquina universal de ensaios e os resultados evidenciaram que o
cimento Sealer 26 apresentou melhor capacidade de adesão que
os demais cimentos. O uso do laser Er:YAG sobre a dentina possibilitou
aumento da capacidade de adesão do Sealer 26, por se tratar de um
cimento à base de resina epóxica. Os cimentos à base
de óxido de zinco-eugenol apresentam pouca capacidade de adesão
e a ação do laser sobre a dentina, abrindo os canalículos
dentinários, em nada melhora a capacidade de adesão destes
cimentos.
PÉCORA et al. (2000 c) investigaram,
in vitro, a permeabilidade das paredes dentinárias dos canais radiculares,
após instrumentação manual e irrigação
com água e hipoclorito de sódio, seguido ou não de
aplicação de irradiação com laser Er:YAG. O
laser foi utilizado nos parâmetros de 15Hz, 140 mJ, energia total
de 42J e 300 pulsos. A permeabilidade dentinária foi detectada pela
infiltração de íons cobre revelados por ácido
rubeânico e, a quantificação foi feita por meio de
análise morfométrica. Os resultados mostraram que a instrumentação
dos canais radiculares irrigados com água, seguida da irradiação
com laser Er:YAG propiciava o maior aumento da permeabilidade dentinária
do que o uso do Er:YAG isolado, hipoclorito de sódio + Er:YAG e
hipoclorito de sódio isolado, pois estes ficavam numa posição
intermediária. Os autores salientaram que o uso da água como
solução irrigante de canais radiculares, seguido da aplicação
do laser Er:YAG, foi mais eficaz em promover aumento da permeabilidade
dentinária.
PÉCORA et al. (2000) avaliaram o
efeito da solução de detergente de mamona, gel de papaína
e hipoclorito de sódio a 0,5%, utilizadas durante a instrumentação
dos canais sobre a permeabilidade das paredes da dentina radicular. A água
destilada e deionizada foi utilizada como solução controle.
A permeabilidade dentinária foi avaliada pela porcentagem de penetração
de íons cobre. Os resultados mostraram que as soluções
testadas promoviam aumento da permeabilidade dentinária radicular,
de modo estatisticamente semelhantes entre si.
BERKITEN et al. (2000) investigaram o efeito
antimicrobiano da irradiação com laser Nd:YAG, utilizando
duas potências (1,8 e 2,4W), em canais radiculares e canalículos
dentinários. Para esse estudo eles utilizaram o terço médio
de canais radiculares de incisivos centrais superiores humanos. O terço
médio foi preparado com broca de Gates Glidden número 3.
Após o preparo, o terço médio da raiz foi submetido
ao banho ultra-sônico com solução de EDTA seguido de
banho de hipoclorito de sódio a 215%. A seguir os espécimes
foram lavados com solução tamponada de ph 7,2. Alguns espécimes
foram autoclavados e incubados Streptococcus sanguis e Prevotella intermédia,
e outros foram deixados sem inocular. O laser foi aplicado de modo que,
a fibra óptica de 200 micrometros era colocada no interior do terço
médio e com movimentos de vai e vem, com movimentos circulares,
tocando em todas as paredes dos canais radiculares. As amostras examinadas
pela microscopia óptica e as examinadas pelo microscópio
eletrônico de varredura evidenciaram carbonização e
recristalização, separadamente. A irradiação
nas duas potências utilizadas foi efetiva em destruir as bactérias
utilizadas.
O objetivo do presente trabalho consiste em estudar a ação dos lasers Er:YAG e Nd:YAG sobre a permeabilidade da parede da dentina radicular, após a instrumentação dos canais com uso de água e de hipoclorito de sódio a 1% como solução irrigante.
O presente trabalho buscou elucidar as seguintes hipóteses abaixo relacionadas:
1. Hipótese nula: o uso da água destilada deionizada associada à aplicação do laser de Er:YAG, não altera a permeabilidade dentinária, de modo estatisticamente significante, quando comparado aos demais grupos estudados.
2. Hipótese nula: o uso da solução de hipoclorito de sódio a 1% associada à aplicação do laser Er:YAG não altera a permeabilidade dentinária, de modo estatisticamente significante, quando comparado ao uso da solução de hipoclorito de sódio a 1%, utilizada isoladamente;
2.1 Hipótese nula: o uso da solução de hipoclorito de sódio a 1%, tanto associada à aplicação do laser Er:YAG quanto utilizada isoladamente, não altera a permeabilidade dentinária, de modo estatisticamente significante, quando comparado aos demais grupos estudados.
3. Hipótese nula: a associação da aplicação de laser Nd:YAG com a solução de hipoclorito de sódio a 1% não altera a permeabilidade dentinária, de modo estatisticamente significante, quando comparado ao uso da associação de laser Nd:YAG com a água destilada deionizada;
3.1 Hipótese nula: as associações da aplicação de laser Nd:YAG com a solução de hipoclorito de sódio a 1% e com a água destilada deionizada não alteram a permeabilidade dentinária, de modo estatisticamente significante, quando comparado aos demais grupos estudados.
Utilizou-se neste trabalho os seguintes
equipamentos de laser: Er:YAG (Kavo Key Laser II - Alemanha), e Nd:YAG
(Deka - Itália), que emitem raio laser nos comprimentos de onda
de 2940 nm e 1094 nm, respectivamente.
O hipoclorito de sódio a 1% foi
aviado e titulado no Laboratório de pesquisa em Endodontia da FORP-USP
e a água utilizada foi destilada e deionizada.
Nos experimentos utilizaram-se 30 caninos
superiores humanos íntegros, de estoque, obtidos no banco de dentes
do laboratório de endodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo, que estavam mantidos em recipientes,
contendo solução aquosa de timol a 0,1% e armazenados em
geladeira, à temperatura de 9ºC, até o momento do uso.
Esses dentes foram distribuídos aleatoriamente em seis grupos de
cinco dentes cada.
Como disciplina de trabalho ao longo de
cada dia, cinco dentes eram instrumentados, com auxílio de uma das
soluções irrigantes relacionadas e aplicado o tipo de laser
correspondente.
Preparo pré-operatório dos dentes.
Cada grupo de dente foi removido do frasco e lavado em água corrente por 24 horas, a fim de se eliminar eventuais traços da solução de timol e os dentes foram secos com jatos de ar. A seguir, esses dentes tiveram as superfícies externas revestidas com duas camadas de cianoacrilato (Super Bonder - Loctite).
Técnica de instrumentação e irrigação.
As cirurgias de acesso, à câmara
pulpar dos dentes, foram realizadas com brocas esféricas diamantada
de número 2, acionadas com motor de alta rotação e
refrigeradas com água. Esta fase obedeceu aos princípios
cirúrgicos preconizados por INGLE (1965).
Após o acesso à câmara
pulpar, procedeu-se a determinação do comprimento de trabalho
de cada dente selecionado, que neste caso coincidia com o comprimento real
do dente. Isto foi conseguido por meio de uma lima tipo K número
10 que penetrava deste a porção coronária até
o ápice do dente. A seguir, determinava-se o diâmetro anatômico
da região apical.
Uma vez definido o comprimento de trabalho,
que neste caso corresponderá ao comprimento real do dente, e o instrumento
que determina o diâmetro anatômico da região apical,
procedia-se à instrumentação do canal radicular com
mais quatro limas, na numeração subseqüente. Continuando,
procedia-se à instrumentação escalonada, com
recuo livre, ou seja, com as limas de diâmetros subseqüentes
introduzidas no canal radicular até onde paravam; procedia-se, a
seguir, à instrumentação, desse ponto para fora. O
canal radicular era, para todos os casos estudados, escalonados até
a lima 80. A última lima utilizada com o comprimento total
do dente foi mantida como lima de memória e era utilizada após
cada nova lima, durante o escalonamento.
Padronizou-se o tempo de instrumentação
em um minuto para cada instrumento. Durante toda essa fase, irrigou-se
o canal radicular com 10,8 ml de solução irrigante estudada.
A solução irrigante era acondicionada em tubetes de anestésicos
(seis tubetes), que eram usados em seringa carpule dotada de agulha longa.
Finda a instrumentação, todos
os canais radiculares receberam uma irrigação final com 10,8
ml de água destilada deionizada, com o objetivo de se remover eventuais
remanescentes das soluções auxiliares estudadas.
Toda instrumentação dos canais
radiculares foi realizada com limas do tipo K da marca Maillefer.
Assim, formaram-se seis grupos de cinco
dentes:
Grupo I. Instrumentação do canal
e uso de água destilada e deionizada como solução
irrigante.
Grupo II. Instrumentação do canal
e uso de hipoclorito de sódio a 1% como solução irrigante.
Grupo III. Instrumentação do canal
e uso de água destilada deionizada como solução irrigante
e aplicação de laser Er:YAG (140 mJ, 15Hz, 300 impulsos
e 42J) com o canal repleto de água.
Grupo IV. Instrumentação do canal
e uso de hipoclorito de sódio a 1% como solução irrigante
e aplicação de laser Er:YAG (140 mJ, 15Hz, 300 impulsos e
42J) com o canal repleto de solução de hipoclorito de sódio
a 1%.
Grupo V. Instrumentação do canal
e uso de água destilada deionizada como solução irrigante
e aplicação de laser Nd:YAG (150 mJ, 15Hz, e 2,25W) com o
canal repleto de água.
Grupo VI. Instrumentação do canal
e uso de hipoclorito de sódio a 1% como solução irrigante
e aplicação de laser Nd:YAG (150 mJ, 15Hz, e 2,25W) com o
canal repleto de solução de hipoclorito a 1%.
Aplicação dos diferentes aparelhos de lasers.
Para a aplicação do laser
Er:YAG foi utilizado um contra-ângulo E-2055 com a fibra óptica
Gr 50/28, com diâmetro externo de 0,470 mm , comprimento de 28 mm,
com fator de transmissão de 0,54 - Figura 1.
Uma vez preparados os canais radiculares,
conforme descrito, a ponta de fibra óptica era introduzida até
a região apical e o aparelho de laser era acionado, nos parâmetros
citados. A seguir, a ponta de fibra óptica era lentamente removida
do canal radicular, com movimento helicoidal, procurando tocar todas as
paredes até completar os 300 pulsos, ou seja, energia total de 42J.
Para a aplicação do laser
Nd:YAG (Figura 2) foi utilizado
uma fibra óptica de 200 micrometros de diâmetro com comprimento
de 30 mm, e com uma perda de energia de 10 %. A aplicação
da fibra óptica foi idêntica à utilizada com o laser
Er:YAG.
Os lasers foram utilizados de acordo com
as normas de segurança preconizadas por PINHEIRO (1995), PINHEIRO
(1996), ALMEIDA-LOPES e PINHEIRO (1998).
Após o término da instrumentação
de cada grupo, os dentes foram secos com cones de papel absorventes, a
fim de adequá-los para receber os reagentes químicos referentes
ao ensaio histoquímico.
Reação histoquímica para detecção dos níveis de permeabilidade dentinária na raiz dental.
O cátion, indicador da profundidade do nível de permeabilidade, foi representado pelo íon cobre de uma solução aquosa de sulfato de cobre a 10%. A presença do íon cobre foi detectada e revelada pela complexação do ácido rubeânico de uma solução alcoólica a 1,0%, reagentes estes preconizados por FEIGL (1958). Os reagentes empregados na metodologia, assim como os fabricantes e fórmulas químicas, estão listados na Tabela I.
Figura 1. Laser de Er:YAG Kavo Key 2, painel do equipamento e fibra óptica.
Figura 2. Laser de Nd:YAG Deka, painel do equipamento e peça de mão com fibra óptica.
A técnica de FEIGL
(1958), que preconiza esses reagentes para spot test, foi modificada
por PÉCORA (1985), em função da própria natureza
histoquímica do experimento.
Considerando a alteração introduzida por PÉCORA (1985), a técnica empregada obedeceu ao que segue:
Obtenção de cortes das regiões apical, média e cervical.
As raízes eram seccionadas transversalmente,
por meio de uma máquina de corte dotada de disco diamantado de 500
micrometros de espessura (Figura 3). Um mostrador micrométrico dava
o avanço do dente e eram feitos cortes seriados de 150 micrometros.
Assim, obtinha-se quatro cortes de cada região da raiz, em função
da espessura do disco de diamante.
Para proceder a essa operação,
os dentes preparados eram incluídos em resina acrílica de
rápida polimerização. Para a inclusão dos dentes
e facilitar a sua colocação na máquina de corte, eram
confeccionados moldes (Ureol 6409Bk, Ciba Geigy), que possibilitavam a
feitura dos blocos de acrílico com superfícies lisas e paralelas,
de modo que os dentes podiam ser colocados na máquina de corte sempre
no mesmo sentido e direção.
Após a polimerização
da resina acrílica, o bloco, com o dente em seu interior, era colocado
na máquina de corte, preso firmemente pelas garras da base conectada
à haste do mostrador micrométrico. Durante a secção
do dente, tanto este, como o disco diamantado, recebiam jatos de água
fria, a fim de prevenir a queima da dentina.
Preparação dos cortes para montagem em lâminas.
Eram selecionados dois cortes para cada
região, os quais eram alinhados horizontalmente, de forma a permitir
que a seleção fosse feita tomando-se como referência
o aproveitamento do primeiro e do terceiro corte da região apical,
aplicando-se esse critério também na seleção
dos cortes referentes às regiões média e cervical,
o que correspondia, em última análise, a uma seleção
programada. A seleção assim programada classificava automaticamente
os cortes em função de seus diâmetros, evitando uma
possível confusão entre cortes de uma região com os
de outra.
Os cortes obtidos eram submetidos a um
processo de lixamento sob água corrente, com lixas (Norton, de procedência
brasileira) de numeração 320, 400 e 500, até que apresentassem
uma espessura de aproximadamente 100 micrometros, espessura essa que era
medida com um paquímetro digital (Tesa, de procedência Suíça).
Para a lixagem dos cortes, utilizou-se uma lixadeira previamente confeccionada
para esta tarefa.
Isso feito, os cortes eram lavados em água
corrente por três horas, a fim de remover eventuais partículas
de dentina e do pó abrasivo da lixa.
Figura 3. Máquina de corte dotada de disco diamantado com 500 micrometros de espessura.
Figura 4. Lixadeira previamente confeccionada.
Uma vez lixados e lavados, os cortes eram
desidratados em banhos de álcoois ascendentes (70, 80 e 96%) e três
banhos de álcool absoluto, clarificados em três banhos de
xilol, cada banho com uma hora de duração. A seguir, esses
cortes diafanizados eram montados em lâminas de vidro para microscopia
com Entellan (Merck). Após o endurecimento do Entellan, os cortes
eram examinados microscopicamente, a fim de se observar, em ampliações
variáveis, se se apresentava com nitidez a transparência das
áreas coradas e não-coradas.
Cada lâmina era identificada em função
da solução irrigante e do tipo de laser utilizado. Os cortes
eram armazenados, ao abrigo do ambiente, em caixas providas de tampa, para
posterior avaliação quantitativa dos níveis de permeabilidade
da dentina radicular.
Análise Morfométrica.
Uma das oculares (6X) do fotomicroscópio
foi substituída por outra dotada de uma grade de integração
com 400 pontos. Para o exame, foi selecionada uma objetiva de ampliação
2X que, combinada com a ocular 6X, proporcionou uma ampliação
final de 12X, o que permitiu uma visão panorâmica de todo
o corte examinado. Para facilitar a contagem dos pontos dentro das áreas
coradas e não-coradas, e inclusive as que caíam no espaço
vazio correspondente ao canal radicular, foi montado um conjunto de dois
contadores digitais (Line, de procedência Japonesa).
Assim contava-se os pontos que incidiam
na área do canal radicular, os da área corada, e os da área
de dentina não-corada. Esses dados foram anotados para posterior
análise.
Pelos números de pontos que incidiam
em cada área, calculou-se a porcentagem de penetração
dos íons de cobre na dentina radicular, referente a cada uma das
soluções irrigantes estudadas.
Para o cálculo da porcentagem de
penetração dos íons cobre na dentina, deduziu-se a
seguinte equação matemática:
Figura 5. Corte transversal esquemático de uma raiz dental.
Na Figura 5, observam-se três círculos concêntricos, C, M, D. O círculo central C representa o canal radicular, a área M representa a área ocupada pela mancha colorida, e a área D, mais externa, representa a área de dentina não colorida. Considerando os raios Rc, Rm e Rt, as áreas dos três círculos concêntricos podem ser indicadas assim:
Isolando-se nessas equações os raios, tem-se:
Pelo exame da Figura 4, verifica-se que o valor ED, referente à espessura da dentina, é dado pela diferença entre os raios dos círculos maior (raiz) e menor (canal):
(7)
Substituindo-se os raios Rt e Rc pelos seus valores correspondentes (6) e (4), obtém-se:
(8)
Que é equivalente a:
(9)
Por sua vez, a mesma Figura 4 fornece o valor da penetração (p) do corante na dentina:
(10)
Substituindo-se os valores de Rm e Rc pelos seus equivalentes (5) e (4), chega-se a:
(11)
Que por sua vez equivale a:
(12)
O coeficiente de penetração (Cp) é dado pela relação entre a profundidade de penetração do corante na dentina (p) e a espessura desta (Ed):
(13)
Substituindo-se agora (p) e (Ed) pelas suas expressões algébricas correspondentes, tem-se:
(14)
Que é idêntica a:
(15)
Efetuando-se a simplificação da expressão obtém-se:
(16)
Em termos de porcentagem de penetração do corante na dentina, pode-se expressar esse mesmo coeficiente de penetração como (p(d)), da seguinte forma:
(17)
Como corresponde à área exclusiva da dentina corada (M), pode ser representada pelo número de pontos que incidem sobre essa área (Pm), assim como o número de pontos contados nas áreas C (canal) e T (total) é proporcional às próprias áreas e ou PC e PT.
(18)
Como o número de pontos contados
em cada uma das áreas (C, M e D) é proporcional às
próprias áreas, a expressão (17) acima pode ser também
indicada como uma função do número de pontos incidentes
em cada área, ou seja, pela expressão (18).
Após a obtenção dos
valores em porcentagem da penetração de íons cobre,
os dados foram tabulados para que pudessem ser submetidos à análise
dos parâmetros amostrais e verificar que tipo de análise estatística
pode ser utilizada, ou seja, paramétrica ou não-paramétrica.
Os dados experimentais deste trabalho consistem
em 90 valores numéricos, correspondentes aos porcentuais médios
da penetração de íons cobre nas paredes dentinárias
dos canais radiculares. Esses valores provieram do produto fatorial de
seis tratamentos x três terços da raiz x cinco dentes (repetições):
6 x 3 x 5 = 90 valores numéricos que compõem a Tabela
II.
Testes preliminares foram realizados, utilizando-se
os dados originais da Tabela 2 em um “software” estatístico (GMC
7.7), com a finalidade de verificar a normalidade e a homocedasticidade
da distribuição amostral, a fim de se decidir que tipo de
estatística deveria ser empregada, paramétrica ou não-paramétrica.
Esses testes iniciais compreendiam cinco
etapas, nas quais se calcularam os parâmetros amostrais, fêz-se
a distribuição das freqüências acumuladas das
curvas experimental e normal matemática, teste de aderência
à curva normal, além de se traçar o histograma de
freqüências em intervalos de classe medidos, pelo desvio padrão
da amostra, e verificar-se a homocedasticidade amostral pelo teste de Cochran.
Os resultados desses testes serão
expostos a seguir:
Parâmetros amostrais.
Inicialmente foram calculados os parâmetros
amostrais que podem ser vistos na Tabela
3.
Observa-se, na Tabela 3, 25 dados abaixo
da média, 41 dados iguais à média e 24 dados acima
da média. Esses parâmetros falam em favor de uma distribuição
normal.
Distribuição de freqüências.
A Tabela
4 mostra que a distribuição das freqüências
absolutas por intervalo de classe apresentaram uma tendência central:
01, 05, 19, 41, 17, 06, 01.
Traçou-se, então, o gráfico
dos percentuais acumulados de freqüências das curvas normal
matemática e experimental que pode ser visto na Figura 5.
O gráfico da Figura
6 foi traçado a partir dos percentuais acumulados de freqüências
que constam na Tabela 4. Esse gráfico registra duas linhas superpostas,
uma correspondente à curva normal matemática e a outra à
curva experimental.
O grau de concordância, de ajuste,
ou de aderência entre essas duas curvas é avaliada pela maneira
como ambas se ajustam. A discrepância relativamente pequena entre
elas traduz uma boa possibilidade de a distribuição amostral
ser normal.
Figura 6. Gráfico dos percentuais acumulados das curvas normal matemática e experimental.
Observando-se o gráfico da Figura 6, percebe-se grande emparelhamento entre as curvas normal matemática e experimental. Tal observação é um indício marcante de normalidade.
Histograma de freqüências.
A Figura 7 mostra o histograma das freqüências dos dados originais. Nessa figura, observa-se a distribuição central dos dados experimentais e uma certa simetria em relação à média, com números mais ou menos equivalentes abaixo e acima dela. Uma distribuição, portanto, que pode ser aceita como normal, para fins estatísticos.
Figura 7. Gráfico exibindo o histograma da distribuição amostral e a curva normal.
Teste de aderência à curva normal.
A Tabela 5 apresenta os resultados do teste de aderência da distribuição de freqüência por intervalo de classe da distribuição normal em relação à mesma distribuição dos dados amostrais. Verifica-se que a probabilidade de a distribuição experimental ser normal é de 61, 51%.
Teste de homogeneidade de Cochran.
Este teste compara a maior variância
considerada, contra a soma de todas as variâncias envolvidas na amostra.
O valor calculado resulta da divisão da variância maior pela
soma de todas as variâncias utilizadas no estudo estatístico.
O valor crítico testado para 18 variâncias e 4º de liberdade
para cada uma é de 0,2585 para o nível de 1% de significância.
O teste realizado apresentou um valor calculado de 0,2318; menor, portanto,
do que valor crítico tabelado para o nível de 1% (0,2585).
Há, desta forma, uma homogeneidade das variâncias envolvidas
na amostra, podendo afirmar-se que as amostras são homocedásticas.
Isto pode ser visto na Tabela 6.
A análise do conjunto de resultados
obtidos nesses testes preliminares levou à conclusão de que
a distribuição amostral era normal e homogênea, o que
autorizava a aplicação da estatística paramétrica.
O teste paramétrico que melhor se
adaptava ao modelo experimental era a análise de variância
e, pelo fato de tratar-se de um modelo misto, em que se associavam ao mesmo
tempo fatores de variação independentes (tratamentos) e fatores
de variação vinculados (terços das raízes),
usou-se o tipo de análise de variância por bloco partido.
Os resultados desse teste podem ser visto
na Tabela 7.
A análise de variância acusou
alta significância, ao nível de 0,1% de probabilidade para
a hipótese de igualdade, mostrando haver diferenças relevantes
entre os tratamentos empregados, quanto à sua ação
sobre a permeabilidade dentinária nas paredes dos canais radiculares
(p<0,001).
O mesmo ocorreu em relação
ao fator terço da raiz (cervical médio e apical), o que demonstra
haver diferença entre os terços, quanto à permeabilidade
dentinária nessas regiões (p<0,001).
A fim de esclarecer quais dentre as soluções
irrigantes e ou os tipos de lasers, envolvidos na análise de variância
seriam significantemente diferentes entre si, efetuou-se o teste de Tukey
complementar, para comparar as médias referentes à cada tratamento
utilizado (Tabela 8).
A análise de comparações
múltiplas por meio do teste de Tukey não definiu o posicionamento
do tratamento laser Nd:YAG + hipoclorito de sódio a 1%, pois esse
componente postou-se de maneira intermediária, ora agrupado
com dados acima, ora agrupado com dados abaixo. O mesmo acontecendo com
o tratamento com laser Nd:YAG + água.
Com a finalidade de esclarecer essas posições
intermediárias, aplicou-se o teste de Scheffé, que pode ser
visto na Tabela 9.
O teste de Scheffé agrupou os tratamentos
em três grupos, de modo que o grupo 1, compreendido pela ação
do laser Er:YAG + água, que permitiu um aumento da permeabilidade
dentinária das paredes dos canais radiculares de modo estatisticamente
diferentes do Grupo 2 (irrigação com hipoclorito de sódio
a 1%, e uso do laser Er:YAG associado com hipoclorito de sódio a
1%) p<0,05 e do Grupo 3 (laser Nd:YAG associado com hipoclorito de sódio
a 1%, laser Nd:YAG associado com água e o uso de água) p<0,05.
Do mesmo modo, ficou claro que a diferença estatística significante
(p<0,05), quando se compara o grupo 2 com o grupo 3.
Em outras palavras, o teste de Scheffé
agrupou os tratamentos de acordo com a capacidade em promover aumento da
permeabilidade dentinária. Assim o uso do laser Er:YAG + água
promoveu maior aumento da permeabilidade dentinária que o grupo
compreendido pelos tratamentos com a solução de hipoclorito
de sódio a 1% e laser Er:YAG + a solução de hipoclorito
de sódio a 1%; e estes, por sua vez, promoveram aumento da permeabilidade
de modo superior aos tratamentos que utilizaram laser Nd:YAG + solução
de hipoclorito de sódio a 1%, laser Nd:YAG + água e a água
utilizada isoladamente.
A fim de esclarecer quais dentre os terços
envolvidos na análise de variância seriam significantemente
diferentes entre si, efetuou-se o teste de Tukey complementar para comparar
as médias referentes a cada terço da raiz (Tabela
10).
O teste de Tukey evidenciou que o terço
cervical e médio da raiz apresentaram valores de permeabilidade
dentinária iguais, porém maiores que o terço apical.
O gráfico da Figura
8 foi construído com as
médias das interações terços
versus tratamentos e ilustra que a penetração de íons
cobre é menor no terço apical do que nos terços cervical
e médio.
Figura 8. Gráfico da interação terços x soluções.
As Figuras 9, 10, 11, 12 , 13 e 14 ilustram a infiltração de íons cobre nos canalículos dentinários das paredes dos canais radiculares dos grupos experimentais deste trabalho, conforme os grupos à saber:
Figura 9. Infiltração de íons cobre no Grupo I - Instrumentação do canal e uso de água destilada e deionizada como solução irrigante.
Figura 10. Infiltração de íons cobre no Grupo II - Instrumentação do canal e uso de hipoclorito de sódio a 1% como solução irrigante.
Figura 11. Infiltração de íons cobre no Grupo III - Instrumentação do canal e uso de água destilada deionizada como solução irrigante e aplicação de laser Er:YAG (140 mJ, 15Hz, 300 impulsos e 42J) com o canal repleto de água.
Figura 12. Infiltração de íons cobre no Grupo IV - Instrumentação do canal e uso de hipoclorito a 1% como solução irrigante e aplicação de laser Er:YAG (140 mJ, 15Hz, 300 impulsos e 42J) com o canal repleto de solução de hipoclorito de sódio a 1%.
Figura 13. Infiltração de íons cobre no Grupo V - Instrumentação do canal e uso de água destilada deionizada como solução irrigante e aplicação de laser Nd:YAG (150 mJ, 15Hz, e 2,25W) com o canal repleto de água.
Figura 14. Infiltração de íons cobre no Grupo VI Instrumentação do canal e uso de hipoclorito a 1% como solução irrigante e aplicação de laser Nd:YAG (150 mJ, 15Hz, e 2,25W) com o canal repleto de solução de hipoclorito a 1%.
Os lasers de Er:YAG e de Nd:YAG vêm
sendo estudados e têm-se demonstrado eficazes na remoção
da smear-layer dos canais radiculares (HARASHIMA et al. 1997; TAKEDA et
al. 1998 e MATSUOKA et al. 1998).
No que diz respeito a ação
desses lasers sobre a permeabilidade dentinária, TANI e TAKEDA (1987),
STABHOLZ et al. (1992) e MISERANDINO et al. (1995) demonstraram que o laser
de Nd:YAG reduz a permeabilidade deste tecido por causar fechamento dos
canalículos em função da fusão do tecido e,
PÉCORA et al. (2000) demonstraram que o laser de Er:YAG, quando
utilizado com água, promove aumento da permeabilidade dentinária.
Esses resultados, aparentemente contraditórios,
na verdade são coerentes em virtude da ação dos comprimentos
de onda emitidos por esses lasers. O laser de Er:YAG (l = 2,94 mm) e o
laser de Nd:YAG (l = 1,06 mm) interagem de modo diferente no tecido dentinário.
Enquanto a irradiação do laser Er:YAG é absorvida
pela água, evaporando-a e causando microexplosões (ablação
termomecânica), a irradiação do laser Nd:YAG é
absorvida pelas estruturas minerais, como os fosfatos e carbonatos da hidroxiapatita,
desarranjando a grade cristalina (ablação termoquímica).
A temperatura para a ocorrência da evaporação da água
é menor que a temperatura necessária para o desarranjo cristalino.
A alta temperatura necessária para a ablação termoquímica
promove a fusão e o derretimento do tecido dentinário, obliterando
os canalículos.
Estudos dos efeitos desses lasers sobre
as paredes dos canais radiculares vêm sendo persistentemente realizados,
objetivando estabelecer uma conduta segura para suas aplicações
na Endodontia.
Assim, vê-se que há poucos
trabalhos de investigação da ação desses lasers
sobre a permeabilidade dentinária, e isto conduziu à realização
deste trabalho, usando os dois lasers no mesmo experimento, ao contrário
dos estudos de MISERANDINO et al. (1995) e PÉCORA et al. (2000),
que estudaram a ação do laser Nd:YAG e Er:YAG, respectivamente.
A preocupação dos endodontistas,
em analisar quais das soluções irrigantes auxiliares da instrumentação
promovia maior ou menor aumento da detecção da permeabilidade
da dentina das paredes dos canais radiculares, levou às realizações
de inúmeras pesquisas, com adoção de vários
métodos, tais como o uso de radioisótopos (WACH et al. 1955;
MARSHALL et al. 1960), de corantes (COHEN et al, 1970, ROBAZZA, 1973) e
histoquímico (PÉCORA, 1985, 1990, 1993, 2000 a, c, ZUOLO
et al, 1987; SILVA, 1998).
O método histoquímico proposto
por PECORA (1985) baseou-se nos seguintes fatos: a) alta reprodutibilidade
do método; b) o íon cobre apresenta tamanho molecular bem
menor que as moléculas orgânicas dos corantes, sem os efeitos
nocivos à saúde causada pelo uso de radioisótopos;
e c) permite que os cortes obtidos das raízes dos dentes sejam diafanizados,
o que permite o exame microscópio.
PASHLEY e LIVINGSTON (1978) salientaram
que o tamanho das moléculas tem papel importante na evidenciação
da permeabilidade dentinária e relataram que, um aumento de 19 vezes
no tamanho da molécula, provoca redução de 100 vezes
no coeficiente da permeabilidade dentinária. A molécula da
água apresenta um tamanho de 1,93 Angström (Å), o íon
de cobre 0,92 Å, a albumina 37Å e o corante de violeta de genciana
12 Å, (1 Å = 1.10-10m).
A revelação dos íons
cobre pelo ácido rubeânico é dada por uma reação
química, cujo resultado é a formação de um
sal, o rubeanato de cobre, que é insolúvel tanto em álcoois
como em xilol. A sensibilidade do método de revelação
do cobre pelo ácido rubeânico é da ordem de 0,006 micrograma
(6.10-9g), (FEIGL 1958).
A quantificação da penetração
dos íons de cobre por meio da análise morfométrica
com grade de integração oferece segurança quanto à
determinação de área e ou porcentagem de infiltração
na dentina. Este método é de fácil execução
(PÉCORA, 1985).
Neste trabalho, as soluções
empregadas isoladamente na irrigação do canal radicular e
em associação com a aplicação dos lasers de
Er:YAG e Nd:YAG foram a água destilada e deionizada e uma solução
de hipoclorito de sódio a 1 por cento. Isto se deveu ao fato de
que a água é utilizada nos estudos de permeabilidade como
uma solução controle, pois não tem ação
sobre os componentes orgânicos e inorgânicos presentes no interior
dos canais radiculares ou resultante do ato de instrumentação,
e a solução de hipoclorito de sódio promove
um aumento da permeabilidade dentinária por causa de sua ação
de solvência de tecidos orgânicos presentes nos canais radiculares
(PÉCORA, 1985, 1990, 1992, 2000 a, b).
O valor da porcentagem de penetração
de íons cobre na dentina radicular nos terços cervical, médio
e apical deste trabalho, foi submetido à análise dos parâmetros
amostrais, que indicou a sua normalidade e homocedasticidade da amostra,
o que justificou a aplicação da estatística paramétrica.
Como neste trabalho existem fatores de
variação independentes (tratamentos) e fatores dependentes
(terço da raiz), já que em uma mesma raiz estudou-se a permeabilidade
nos três terços, aplicou-se o modelo matemático misto
de bloco partido para o cálculo da análise de variância
(Tabela 7).
A análise de variância mostrou
que há diferença estatística significante tanto para
os tratamentos empregados como entre os terços das raízes
(p<0,001) e, também entre as interações terços
x tratamentos (p<0,05).
A fim de esclarecer quais dos tratamentos
eram diferentes, aplicou-se o teste de Tukey (Tabela 8). O teste de Tukey
entre tratamentos indicou que o uso do laser + água promoveu maior
evidenciação da permeabilidade dentinária que os demais
tratamentos realizados de modo estatisticamente significante (p<0,005);
porém apresenta resultados indefinidos para os tratamentos com Nd:YAG
+ hipoclorito de sódio, que ficava numa posição ambígua
entre os tratamentos.
Assim, para elucidar qual a real posição
dos resultados em relação aos tratamentos , aplicou-se o
teste de Scheffé (Tabela 10).
O teste de Scheffé possibilitou
a formação de três grupos, em função
das médias, e posicionou os tratamentos nestes grupos. Desse modo,
o teste de Scheffé confirmou a posição do tratamento
Er:YAG + água como o que produz maior aumento da evidenciação
da permeabilidade (Grupo I), seguido dos tratamentos com uso do hipoclorito
de sódio a 1 % usado isoladamente e do laser Er:YAG + hipoclorito
de sódio a 1%, que formava o segundo grupo. Esses tratamentos apresentavam
menor evidenciação da permeabilidade que o Grupo I e maior
que o Grupo III, porém de modo estatisticamente semelhantes entre
si. O terceiro grupo era formado pelos tratamentos com laser Nd:YAG + hipoclorito
de sódio a 1%, Nd:YAG + água e água usada isoladamente.
Em outras palavras, o teste estatístico
de Scheffé, o tratamento com laser Er:YAG + água, apresentava
a maior evidenciação da permeabilidade dentinária
seguido dos tratamentos com hipoclorito de sódio usado isoladamente
e laser Er:YAG + hipoclorito de sódio a 1% e por último,
o grupo que apresentou menor evidenciação da permeabilidade:
laser Nd:YAG + hipoclorito de sódio a 1%, Nd:YAG + água e
o uso da água isoladamente.
No que diz respeito ao efeito da ação
do laser Er:YAG + água e laser Er:YAG + hipoclorito de sódio
a 1%, uso isolado da solução de hipoclorito de sódio
a 1% e da água sobre a permeabilidade das paredes dos canais radiculares,
estão de acordo com os achados de PÉCORA et al. (2000).
O fato da solução de hipoclorito
de sódio a 1%, utilizada de modo isolado, apresentar maior evidenciação
da permeabilidade dentinária do que o uso da água,
era esperado, pois a água não atua na solvência de
tecidos. Por esse motivo, a água é utilizada como controle
nos trabalhos sobre permeabilidade da dentina radicular (PÉCORA,
1985, 1990, 1992 e PÉCORA et al. 2000 a, b).
A solução de hipoclorito
de sódio a 1% utilizada de modo isolada evidenciou, neste trabalho,
um aumento da permeabilidade dentinária radicular de modo estatisticamente
semelhante ao uso do laser Er:YAG + solução de hipoclorito
de sódio a 1% e isto pode ser explicado pela ação
solvente dessa solução sobre os componentes orgânicos
presentes nos canais radiculares.
PÉCORA et al. (2000) explicaram
que a menor interação do laser Er:YAG com a solução
de hipoclorito de sódio a 1% era devido à condutância
iônica desta substância, que apresentava valores correspondentes
a 46,5 mS, enquanto que a água destilada deionizada apresenta uma
condutividade iônica de 1,0 mS. Esta diferença na condutividade
iônica significa que a solução de hipoclorito de sódio
a 1% apresenta grande quantidade de íons livres e isto é
um fator decisivo na interação com o laser Er:YAG. Assim,
o laser Er:YAG interage melhor com o uso da água do que com
sua associação com a solução de hipoclorito
de sódio.
No presente trabalho observou-se que o
uso do laser Nd:YAG + água. Nd:YAG + solução de hipoclorito
de sódio a 1% e o uso da água isoladamente formam um grupo
com valores estatisticamente semelhantes entre si no que diz respeito à
evidenciação da permeabilidade dentinária radicular.
Este resultado pode ser explicado do seguinte modo: a) a água não
promove aumento da permeabilidade dentinária e
b) o laser de Nd:YAG quer associado com água,
quer associado com hipoclorito de sódio a 1% promove redução
da permeabilidade por oclusão da luz dos canalículos dentinários.
Como o laser Nd:YAG interage com os tecidos duros dos dentes de modo diferente
que o laser Er:YAG, é de se supor que soluções irrigantes
não interferem na sua ação sobre a oclusão
dos canalículos dentinários (MISERANDINO et al. 1995).
Além da condutibilidade iônica
das soluções irrigantes observadas por Pecora et al. 2000,
pode-se salientar também que as densidades ópticas das soluções
também interferem na condução da luz laser no interior
dos canais radiculares e isso muda a interação laser-dentina.
Essa mudança de meio, muda os ângulos de propagação
da luz laser, com conseqüente mudança na absorção
e interação da luz pelo tecido, modificando os resultados
da ação do laser Sabemos também que o pico de
absorção da água é coincidente com o do laser
Er:YAG, o que a aumenta a interação proporcionando resultados
mais efetivos. No presente trabalho demostrou-se que a influencia dos meios
na ação dos lasers é uma fator que deve ser considerado.
Quanto à permeabilidade dos terços
das raízes, o teste de Tukey (Tabela 10) mostrou que os terços
cervical e médio apresentam resultados estatisticamente semelhante
entre si, porém maior do que a permeabilidade do terço apical.
Esses achados estão de acordo com e ZUOLO et al. (1987), PÉCORA,
(1992) e PÉCORA et al. (2000 b, c).
Os trabalhos de WHITAKKER e KNEALE (1979)
e CARRINGAN et al. (1984) mostraram que as regiões apicais dos canais
radiculares apresentam menor número de canalículos dentinários
por unidade de área do que os terços cervical e médio.
Sendo assim, sempre a permeabilidade da região apical será
menor que os demais terços da raiz.
A realização deste trabalho
abre novas perspectivas de investigações, tais como o que
ocorre com a ação simultânea dos lasers com as soluções
quelantes, tenso-ativas e ácidas, utilizadas como soluções
irrigantes dos canais radiculares.
Com base na metodologia empregada e nos resultados obtidos, pode-se concluir que:
1 O uso da água destilada deionizada associada à aplicação do laser de Er:YAG promoveu os maiores valores de permeabilidade dentinária, de modo estatisticamente significante, quando comparado aos demais grupos estudados, contrariando a hipótese nula nº 1.
2 O uso da solução de hipoclorito
de sódio a 1%, associada ou não à aplicação
do laser Er:YAG, promoveu valores de permeabilidade dentinária estatisticamente
semelhantes entre si, corroborando a hipótese nula nº 2;
2.1 Os usos da solução de hipoclorito
de sódio a 1%, tanto associada à aplicação
do laser Er:YAG quanto utilizada isoladamente, promoveram valores estatisticamente
intermediários de permeabilidade dentinária com relação
aos demais tratamentos realizados, contrariando a hipótese nula
nº 2.1.
3 As associações da aplicação
de laser Nd:YAG com a solução de hipoclorito de sódio
a 1% e com a água destilada deionizada promoveram valores de permeabilidade
dentinária estatisticamente semelhantes entre si, corroborando a
hipótese nula nº 3;
3.1 Tanto a associação da aplicação
de laser Nd:YAG com a solução de hipoclorito de sódio
a 1%, quanto com a água destilada deionizada, promoveram valores
de permeabilidade dentinária estatisticamente menores que os demais
grupos estudados, contrariando a hipótese nula nº 3.1;
4 Os terços cervical e médio dos canais radiculares apresentaram valores de permeabilidade dentinária que são estatisticamente semelhantes entre si e maiores que os do terço apical, em todos os tratamentos realizados.
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